Todos os impactos negativos provocados pela pandemia do coronavírus à Educação não anulam as perspectivas de uma nova escola, do ponto de vista humano e tecnológico. As mudanças à vista seguem por um caminho que não tem mais volta. É o que afirmam os especialistas ouvidos pela reportagem sobre o futuro do ensino no Brasil e no Espírito Santo após a pandemia.
Costumo dizer que aquela escola do dia 16 de março (data antes da suspensão das atividades presenciais) não existe mais. Nunca mais vamos ter aquela escola, e precisamos nos adequar. Utilizar o ensino híbrido, por exemplo, porque o conteúdo não é só aquele que é ministrado nos limites da sala de aula, entre quatro paredes. Outras atividades podem, e vão ser oferecidas, sem que seja necessário estar naquele ambiente, pontua Márcio Lellis, presidente do Sindicato das Empresas Particulares de Ensino do Espírito Santo (Sinepe-ES).
Nesse sentido, ele observa que as famílias também terão que se adaptar à nova realidade, a partir dos protocolos que vão ser implementados para garantir a segurança de toda a comunidade escolar.
Márcio Lellis sustenta ainda que a nova geração, com mais facilidade para operar dispositivos eletrônicos, vai absorver bem o novo modelo de escola em que a tecnologia será ferramenta cotidiana no processo de ensino-aprendizagem.
Para Luciano Gollner, executivo do Núcleo de Educação do ES em Ação, a utilização da tecnologia em sala de aula de fato vai ser incrementada. As plataformas de educação, ele afirma, já existem há algum tempo, mas encontravam certa resistência nas escolas. Agora, se tornarão indispensáveis.
Outro ponto de oportunidade é que este momento criou um ambiente de muitas oportunidades de um trabalho colaborativo na Educação. A pandemia coloca na mesa a importância do regime de colaboração de Estados e municípios, e também da rede privada, opina.
Na rede estadual, além da ampliação do aparato tecnológico e da quebra de barreiras entre profissionais que ainda resistiam em usar esses recursos, a expectativa é também ampliar a metodologia de ensino que se apropria da interdisciplinaridade.
O trabalho integrado e interdisciplinar é o que sempre quisemos. O último indicador aponta que 30% dos professores já estão trabalhando dessa maneira. Ainda não é a maioria, mas é um número expressivo e representa uma mudança de mentalidade. Temos muitos professores formados em outra geração, com uma formação muito enraizada e difícil de mudar. A pandemia encostou todo mundo na parede, frisa o secretário da Educação, Vitor de ngelo.
Para ele, o indicador ainda vai aumentar, uma vez que trabalhar de maneira interdisciplinar, com metodologias ativas por projetos e abordagem por investigação é orientação para toda a rede para o restante do calendário letivo, 2021 e anos seguintes. É uma mudança que virá para ficar e dá uma potência enorme ao novo ensino médio, pondera.
VALORIZAÇÃO
Também já existe uma percepção de que o trabalho do educador será mais valorizado, pelo menos aos olhos das famílias. O presidente da União dos Dirigentes Municipais de Ensino (Undime), Vilmar Lugão de Britto, conta que os professores têm recebido muitos depoimentos, como o de uma mãe que falou: não sei como você dá conta de 20 crianças; não estou conseguindo ensinar só para o meu filho.
A coordenadora de Projetos do Todos pela Educação, Thaiane Pereira, também acredita que a relação da família com a escola vai melhorar porque nunca ficou tão evidente a importância da figura do professor e o quanto ensinar é complexo.
Avaliação semelhante faz a professora Gilda Cardoso, coordenadora do Laboratório de Gestão da Educação Básica do Espírito Santo (Lagebes) da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), ao apontar o esforço que muitos educadores têm feito para conseguir oferecer aulas de qualidade, num modelo remoto e para o qual não estavam preparados.
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