A baixa adesão à vacinação contra a poliomielite acendeu o alerta no país. Apenas 34% do público-alvo de 1 a 4 anos haviam se imunizado até o dia 6 de setembro, segundo o Ministério da Saúde. Números preocupantes diante de uma doença que pode causar danos irreversíveis. A pólio pode levar à paralisia dos membros, dos músculos que auxiliam na respiração e na deglutição e a problemas neurológicos.
Considerada erradicada no Brasil desde 1989, a poliomielite é uma doença infecto-contagiosa causada por um vírus que vive no intestino, chamado poliovírus (existente nos sorotipos 1, 2 e 3). O agente é capaz de infectar crianças e adultos por meio do contato direto com fezes ou com secreções eliminadas pela boca das pessoas infectadas.
Especialistas ouvidos por A Gazeta explicam os riscos que a não vacinação contra a pólio podem causar.
Quando uma pessoa não tem histórico de vacinação, ou seja, não tem a proteção imunológica contra o poliovírus, após uma infecção, o agente começa a se multiplicar livremente na garganta ou nos intestinos, causando náusea, vômito, dor abdominal e constipação.
Já o acúmulo de secreção na boca e na garganta levam à dificuldades de fala, condição que não tem cura.
Depois, o vírus pode chegar à corrente sanguínea e, se o quadro não for tratado a tempo, atingir o cérebro, causando a chamada "infecção paralítica".
"Nesses casos, mais raros, mas que podem causar sequelas irreversíveis, o vírus ataca o sistema nervoso, destruindo os neurônios motores, e provoca paralisia nos membros inferiores", explicou a pediatra Elisa Heringer.
Ao chegar no cérebro, o vírus da poliomielite também pode causar meningite, que é um processo inflamatório das meninges, ou seja, das membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal. Os principais sintomas são febre, rigidez da nuca e náuseas.
Se não for tratado adequadamente, o quadro pode deixar sequelas como a perda de audição e da visão parcial ou total, causar epilepsia e paralisia em um ou ambos os lados do corpo.
Já se forem infectadas as células dos centros nervosos que controlam os músculos respiratórios e da deglutição, a doença pode afetar a capacidade da pessoa em respirar de forma normal e se alimentar, podendo levar à morte.
A condição grave da meningite não é o único risco da não imunização. Uma pessoa sem o histórico de vacinação contra o poliovírus, após a primeira infecção, pode ter a multiplicação do vírus em outros locais do corpo.
Por isso, a pediatra Elisa Heringer destaca a importância de os pais e responsáveis manterem o acompanhamento médico de rotina das crianças. É com o profissional que eles recebem as informações necessárias sobre os riscos de os pequenos não tomarem o imunizante e sobre a atualização do calendário vacinal, fundamental para a prevenção da reintrodução do poliovírus na sociedade.
De acordo com a especialista, é importante reforçar que levar os filhos para tomar a vacina protege a todos. Afinal, a doença pode infectar adultos e crianças pelo contato direto com fezes ou secreções.
“As informações incorretas das redes sociais estão gerando um medo na população em relação à vacina. Precisamos ter mais medo é da poliomielite. Na maior parte, as complicações são da própria doença, com muitas sequelas, com alta letalidade”, pontua a pediatra.
Os dados de coberturas vacinais mostram uma distância cada vez maior da meta estabelecida pelo Ministério da Saúde, que é de imunizar 95% do público-alvo. Em 2020, o índice foi de 81,6%, enquanto o último dado de 2021 aponta algo alarmante: a imunização foi de apenas 77,4%.
De acordo com o relatório anual entregue em abril para a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), o Espírito Santo está em risco muito alto de reintrodução do poliovírus por motivos multifatoriais.
A infectologista e pediatra Ana Paula Neves Burian — membro do Comitê Nacional de Certificação (NCC), responsável por revisar e aprovar o relatório apresentado a OPAS — ressalta que o Estado obtém o risco de reintrodução da poliomielite devido à cobertura vacinal estar em baixa e por ter muita transitoriedade de estrangeiros, por conta da economia portuária.
A especialista acrescenta: "Mesmo tendo sido eliminada no Brasil, a poliomielite ainda continua em outros países, como o Afeganistão e o Paquistão, que já emitiram alguns alertas”.
A pediatra explica, ainda, que a falsa sensação de segurança de que a doença está sob controle é uma das causas da baixa adesão à vacinação.
“As pessoas mais jovens que não viram a pólio não entendem os danos que ela pode causar. A última notificação no País foi em 1989 na Paraíba. As pessoas acham que é uma doença que pode infectar só a criança, mas essa não é a realidade”, explica.
Para aumentar a cobertura vacinal, o Ministério da Saúde decidiu prorrogar a campanha de vacinação contra a doença até o dia 30 de setembro em todo o País.
A Secretária de Estado de Saúde (Sesa) informou que tem realizado trabalhos constantes por meio do Programa Estadual de Imunizações e Vigilância das Doenças Imunopreveníveis junto aos municípios para alcançar o índice de cobertura.
A vacina contra a poliomielite é disponibilizada nos serviços de Imunização do SUS para crianças menores de 5 anos de idade. Os pais ou responsáveis devem levar as crianças até o posto de saúde mais próximo para receber a dose.
As primeiras vacinas do público infantil devem ser preferencialmente injetáveis, pois essa forma de imunização aplica o vírus inativado (que não é capaz de gerar a doença no corpo). Já a vacina oral, que é famosa pelo Zé Gotinha, é composta pelo vírus enfraquecido e usada em doses de reforço.
Não manter o histórico com as sequências vacinais em dia traz o risco de, caso a criança tenha uma alteração imunológica, o vírus seja ativado, resultando na doença.
“A vacina da pólio é feita com o vírus inativado nas três primeiras doses nas idades de 2, 4 e 6 meses. Já os reforços podem ser feitos com as gotinhas, ou seja, de forma oral nas idades de 15 meses e 4 anos”, informou a pediatra Elisa Heringer.
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