A notificação de um possível caso de paralisia infantil no Pará, no último dia 6, acendeu o alerta de especialistas e gerou dúvidas na população. A Secretaria de Saúde daquele Estado identificou o poliovírus nas fezes de uma criança de 3 anos após ela apresentar febre, dores musculares e quadro de Paralisia Flácida Aguda (PFA) com redução motora nas pernas cerca de 24 horas depois de receber a Vacina Oral contra a Poliomielite (VOP), a famosa gotinha, que contém o vírus da pólio enfraquecido.
A infectologista e pediatra Ana Paula Neves Burian explica que, para se confirmar se a causa da reação foi a aplicação do imunizante VOP, são feitas investigações para descartar outras doenças e infecções na criança, entre elas a Síndrome de Guillain Barré, e até avaliações de tumores na coluna.
“O prazo de efeito adverso é de quatro a 40 dias da vacina, por isso, a partir da suspeita, é realizada a investigação. Como a criança tomou a vacina e as fezes foram colhidas imediatamente, então a chance de dar positivo para o vírus do tipo 1 e 3 que está no imunizante em gotas é grande", ressalta.
A identificação do vírus nas fezes após a vacinação é esperada, mas o registro no Pará passou a ser analisado por causa dos sintomas que causou. Porém, casos que relacionam o imunizante com o desenvolvimento da pólio são considerados raros e até nulos, pois a versão oral é aplicada como reforço, depois de a criança ter tomado a Vacina Injetável Poliomielite (VIP), administrada por via intramuscular, ou seja, com uma injeção.
No caso paraense, foi constatado que a criança não tinha registro da VIP em seu histórico vacinal.
Daí a importância de pais e responsáveis ficarem atentos, já que as duas doses de reforço da famosa "vacina do Zé Gotinha" (VOP) só deve ser aplicada depois que os pequenos recebem, nos primeiros seis meses de vida, as três doses por injeção (VIP).
Todas as crianças menores de cinco anos de idade devem ser vacinadas conforme o calendário de rotina e na campanha nacional anual. As cinco doses contra a pólio são oferecidas gratuitamente nas unidades de saúde.
Caso a vacina esteja atrasada, a criança pode e deve se vacinar mesmo assim, começando pela injeção.
O poliovírus presente na VIP contém os tipos 1, 2 e 3, inativados em sua fórmula, para criar a base para as próximas doses, em gotas. Especialistas ressaltam que a forma injetável não traz riscos de provocar a doença, ainda que a criança esteja imunologicamente indefesa, já que o vírus administrado está morto.
Isso significa que ele é incapaz de se reproduzir dentro do organismo. Se fosse ingerido, em vez de injetado, poderia ir embora nas fezes e não seria eficaz. “A pessoas com imunidade baixa ou que têm pacientes que realizam quimioterapia, por exemplo, é indicado para o filho ou neto tomar a vacina injetável. A mesma orientação vale para quem tem HIV ou faz tratamento para adquirir alguma imunidade”, explica a médica infectologista Euzanete Coser.
A função dessa vacina é induzir a produção de anticorpos que agem na eliminação de agentes causadores da poliomielite na corrente sanguínea. Caso a pessoa seja infectada, é pela corrente sanguínea que a pólio, após se multiplicar no intestino, consegue chegar até o sistema nervoso, onde destrói os neurônios motores levando a forma grave da doença.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), algumas vacinas, como a da poliomielite, requerem várias doses para permitir a produção de anticorpos de longa vida.
Por isso, após a injeção, é necessário tomar as doses de reforço por meio da VOP. Ela, que traz em sua fórmula o vírus atenuado, tem a eficácia de chegar até o intestino e atuar diretamente na formação de colônias, que vão criar uma imunidade no local em que o poliovírus se multiplica e promove complicações.
O Instituto Butantan informa, em seu site, que imunizantes em gotas são recomendados apenas para enfermidades contraídas por via fecal-oral, ou seja, pela ingestão de água ou alimentos contaminados, como é o caso da poliomielite.
A infectologista e pediatra Ana Paula Neves Burian ressalta que todas as vacinas são fundamentais, contudo, há uma vantagem do “Zé Gotinha” sobre a VIP.
“Quando a criança toma a gotinha, ela libera nas fezes esse vírus enfraquecido. Então, quem vai limpar essa criança pode ter contato com o vírus vacinal e criar sua própria proteção, enquanto a versão injetável, que é inativada, só protege quem a toma”, explicou a infectologista.
A especialista ainda reforça que muitos outros imunizantes, como o da febre amarela, a tríplice viral, contra caxumba, rubéola e até o BCG, têm os vírus enfraquecidos e funcionam no combate das doenças.
Efeitos adversos pós vacinais, com o aparecimento de sintomas como no caso do Pará, são raros. Ocorre apenas um caso em cada 3,2 milhões de aplicações e, conforme o Ministério da Saúde, de 1989 a 2012, houve apenas 50 registros.
A pediatra Elisa Heringer conta que é comum as crianças terem reações como dor, febre e vermelhidão no local onde se recebe a vacina, seja nas unidades de saúde quanto na rede particular.
A pediatra ainda destacou a importância de manter a vacina em dia, afinal, a consequência pode ser o retorno da doença. “Caso a vacina esteja atrasada, pode e deve vacinar mesmo assim, até os 5 anos de idade. Desde 1989 não tínhamos mais casos da doença graças à vacina. Reforço que os riscos da doença são muito mais graves se o imunizante não for tomado. Vacinar é fundamental”, reiterou.
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