Um bagre cinza — conhecido também como caçari — pescado na última sexta-feira (5), na Foz do Rio Doce, no distrito de Regência, em Linhares, no Norte do Estado, preocupa pescadores e moradores da região.
O peixe foi retirado da água com úlceras e feridas na região da boca, muito diferentes da aparência normal da espécie. A área onde o bagre foi pescado é próxima à região marinha da foz, onde é proibida a pesca devido aos impactos dos rejeitos de minério do rompimento da barragem de Fundão, em 2015. Apesar de suspeitas dos pescadores, especialistas afirmam que, até que o peixe seja analisado, não é possível confirmar se há relação entre a mutação e os rejeitos de minério.
O pescador que encontrou o animal o levou até a Associação de Moradores, Pescadores, Assemelhados e Comerciantes de Barra Seca (Ampac), onde o peixe está armazenado. Segundo o presidente da Ampac, Flávio Messias Soares, os profissionais estão assustados.
Flávio afirmou que o bagre será enviado para análise em um laboratório particular do Estado na segunda-feira (15), para que a anomalia e a causa dela possam ser identificadas. O prazo é que os resultados sejam divulgados em até 60 dias.
“É um peixe que traz todas as características de que foi alterado. Nós não podemos dizer que foi causado pelos rejeitos, precisamos aguardar os resultados desse centro de pesquisa. Mas, hoje, nós trabalhamos com essa hipótese”, afirma o presidente da Ampac
O líder da associação também coordena a comissão municipal de atingidos de Linhares, e informou que irá comunicar sobre o envio do animal para análise aos órgão ambientais e a 12ª Vara Federal de Belo Horizonte, que cuida dos processos de reparação e compensação dos danos advindos do rompimento da barragem de Fundão.
O biólogo Jorge Dergam, especialista em genética e professor da Universidade Federal de Viçosa (UFV) analisou as imagens, segundo ele as lesões não foram causadas por alguma doença comum à espécie. “Não parece ser uma doença comum. Parece ser uma inflamação, mas é difícil estabelecer uma relação causal com o agente patogênico que causou isso. Para isso, é necessário que essas úlceras sejam analisadas em laboratório”, diz.
O também biólogo e especialista em peixes, João Luiz Rosetti Gasparini, concorda que só após análise é possível determinar se a causa pode ter relação com os rejeitos da lama.
Apesar de seu uma situação anormal, Elber Tesch, o biólogo especialista em biologia da conservação explica que há outras causas naturais possíveis para as lesões encontradas no peixe.
“Isso pode ser uma coisa natural que pode ocorrer com qualquer outro ser vivo, como pode também ser uma anomalia causada pela poluição e contaminação do meio ambiente. É preciso fazer uma análise para saber se isso pode ser uma concentração de metal pesado, mas isso não dá ́ para afirmar. É claro que um animal tem mais chances de apresentar uma anomalia em um ambiente poluído, mas isso também pode ocorrer em ambientes de boa qualidade por algum distúrbio ou até mesmo um parasita comum no ambiente”, afirma.
Procurada pela reportagem, a Fundação Renova, criada para reparar danos do rompimento da barragem, disse em nota que o rejeito não é tóxico e que o material foi classificado como “não perigoso”. Leia a nota na íntegra:
“Monitoramento Hídrico: Os mais de 1,5 milhão de dados coletados anualmente pelo maior programa de monitoramento do país mostram que as condições da água são similares às de antes do rompimento. As informações são armazenadas em um banco de dados e compartilhadas com os órgãos ambientais. Os dados estão disponíveis no portal monitoramento Rio Doce, em forma de gráficos e mapas, sendo possível fazer o download das informações em planilhas. Seis órgãos fazem parte do Grupo Técnico de Acompanhamento (GTA): Agência Nacional de Águas (ANA), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), Agência Estadual de Recursos Hídricos do Espírito Santo (Agerh) e Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Espírito Santo (Iema).
Os resultados desse monitoramento demonstram uma tendência de recuperação em toda a região impactada, com a retomada das concentrações dos parâmetros de qualidade da água em níveis históricos.
O Comitê da Bacia Hidrográfica (CBH–Doce) aponta que 80% do esgoto doméstico gerado pelos municípios ao longo da bacia seguem diretamente para o rio, sem nenhum tratamento, poluindo os cursos d’água. Ao mesmo tempo, grande parte dos resíduos sólidos urbanos coletados são dispostos em lixões, ocasionando vários impactos ambientais, como proliferação de vetores, poluição visual, contaminação do solo e dos recursos hídricos , dentre outros.
Pesca: No Espírito Santo, não há restrição para a pesca e usos da água no rio Doce. As outorgas de usos são emitidas pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA).
Uma ação proposta pelo Ministério Público Federal, no entanto, proíbe a pesca na região marinha da Foz até 20 metros de profundidade, entre Barra do Riacho (Aracruz) e Degredo/Ipiranguinha (Linhares).
Cabe ressaltar que a Fundação Renova não tem competência para estabelecer qualquer normativa quanto ao ordenamento pesqueiro, ou seja, liberar ou proibir a pesca.
Rejeito : O rejeito não é tóxico, nem nocivo. Contém minerais e elementos naturais presentes em rochas e solos da região (rico em ferro, manganês e alumínio), areia (sílica) e água. O material foi caracterizado como não perigoso em todas as amostras, segundo critérios da norma brasileira de classificação de resíduos sólidos.
O rejeito não é impeditivo para a realização de diversas atividades econômicas e produtivas.”
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