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Pesquisadora do ES estuda transformar veneno de pererecas em remédio

Pesquisadora do ES estuda transformar veneno de pererecas em remédio

A substância, segundo a pesquisadora Geisa Paulino Caprini Evaristo, seria duas mil vezes mais forte que a morfina — medicação conhecidamente potente no tratamento de dores

Publicado em 16 de setembro de 2021 às 17:45

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A pesquisadora Geisa Paulino Caprini
Pesquisadora Geisa Paulino Caprini Evaristo é de Iconha, mas mora em Rondônia, no Norte do país, onde trabalha em uma sede da Fiocruz. (Arquivo pessoal)

A biodiversidade brasileira nunca precisou provar a sua importância na vida de milhões de pessoas ao redor do mundo. Entre a fauna e a flora, estão inúmeras substâncias que  melhoram a qualidade de vida. E é a perereca-das-folhagens, também chamada de Filomedusa, o alvo de estudo de uma bióloga capixaba que vai investigar se o veneno produzido por essa espécie pode ser transformada em remédio. A substância, segundo a pesquisadora Geisa Paulino Caprini Evaristo, seria duas mil vezes mais forte que a morfina — medicação conhecidamente potente no tratamento de dores.

Nascida em Iconha, município no Sul do Espírito Santo, a pesquisadora contou que atualmente mora em Rondônia, no Norte do país, onde trabalha em uma sede da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Geisa é Mestre em Biociências e Biotecnologia pela Universidade Estadual do Norte Fluminense e Doutora em Bioquímica e Biotecnologia pela Universidade Tecnológica de Delft, da Holanda.

Em entrevista ao jornalista Mário Bonella, durante o programa CBN Cotidiano, da  CBN Vitória, a pesquisadora explicou que estudos como esse, que envolvem possíveis remédios, podem demorar até vinte anos para serem concluídos. A demora se justifica pela quantidade de testes envolvidos ao longo da pesquisa. Até a aprovação da substância por agências reguladores, os estudiosos analisam cada parte do animal e de seu veneno.

Entrevista da pesquisadora capixaba sobre estudo para transformar veneno de pererecas em remédio
Montagem | Geisa Paulino
Perereca-das-folhagens, também chamada de Filomedusa, é alvo de estudo de pesquisadora capixaba . (Montagem | Geisa Paulino)

Geisa relatou que tem observado a composição do veneno dos anfíbios, como as pererecas. A secreção tem potencial para virar um fármaco, colaborando com a saúde humana.

Aspas de citação

Estou atrás das pererecas do gênero Filomedusa. Essas pererecas são bem especiais, porque elas têm uma substância, os chamados peptídeos, uma classe de moléculas, de compostos que têm bioatividade. Tem atividade contra doenças, contra micro-organismos. Essa molécula pode se tornar um fármaco. Chega a ser duas mil vezes mais forte que a morfina. Depois de passados 5 a 20 anos de testes, pode se tornar um remédio importante em hospitais

Geisa Paulino Caprini Evaristo
Pesquisadora capixaba da Fiocruz
Aspas de citação

COMO OCORRE A COLETA DO VENENO

A pesquisadora explicou que o verão costuma oferecer as melhores condições climáticas para a pesquisa. Segundo ela, as buscas por esses animais são feitas durante a madrugada, em um período chuvoso, e os ambientes escolhidos são campos perto de rios ou brejos. Geisa disse que a procura por esses anfíbios já chegou a ser feita em Venda Nova do Imigrante.

A bióloga capixaba ressalta que o intuito da pesquisa é extrair o veneno. Os animais não são levados para um laboratório, tampouco mortos durante o processo.

Tanatose é quando os anfíbios aparentam estar mortos. A estratégia é para evitar o predador
Tanatose é quando os anfíbios aparentam estar mortos, estratégia que utilizam para evitar o predador. (Geisa Paulino Caprini)

Ela relatou que uma estratégia utilizada pela espécie é o tanatose — quando se fingem de morta para o predador. Segundo Geisa, o animal fica assim por vários minutos.

"Uma vez que conseguimos coletar o animal, fazemos uma massagem no dorso e nas costas da perereca, com o dedo. Pegamos água destilada e passamos no corpo do animal. É assim que acontece a coleta. O resultado é um líquido que, além da água, tem a secreção liberada pela espécie", explica.

Pesquisadora do ES estuda o veneno de anfíbios(Geisa Paulino Caprini)

A pesquisadora garantiu que, após a massagem, a Filomedusa é devolvida para a natureza. Ela disse que, após o líquido ser levado para o laboratório, uma máquina fica responsável por alterar o estado da água. O fim do processo é alcançado quando o veneno é separado.

Na sequência, o veneno obtido na forma de um pó banco, é analisado por várias técnicas analíticas. "As principais são a cromatografia e a espectrometria de massas. Na cromatografia, as centenas de compostos presentes nesse veneno são separadas, formando grupos menores (frações contendo menos substâncias do que a amostra buta), os quais são utilizados em testes biológicos, como testes antimicrobianos. E esses compostos presentes nas frações são identificados através da outra técnica, a espectrometria de massas, que é uma balança em escala molecular. Ou seja, essa técnica permite identificar o composto pelo peso que ela possui e assim afirmar de qual molécula se trata", detalha a estudiosa.

A capixaba explica ainda que, seguindo o fluxo da análise desse veneno, os pesquisadores fazem os testes de atividade contra várias doenças. Em Rondônia, por exemplo, os testes são feitos contra doenças tropicais, como malária, leishmaniose e arboviroses. Assim é possível saber exatamente qual foi a substância que apresentou a atividade (entre as centenas que compõem o veneno dessas pererecas).

"Tudo isso buscando a cura para doenças que ainda não têm vacinas ou remédios eficazes para seu tratamento, e, ao mesmo tempo, para destacar a importância da preservação do meio ambiente para que sobrevivam esses pequenos animais que carregam um tesouro em moléculas bioativas nas costas", finaliza.

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