O Espírito Santo tem inúmeras belezas naturais, como praias, lagoas e cachoeiras. Essa diversidade tornou-se um grande atrativo para turistas e também tem chamado a atenção de pesquisadores, que descobriram cinco novas espécies de plantas de uma mesma família no Estado – quatro delas endêmicas, ou seja, só são encontradas em território capixaba.
Um artigo publicado no último dia 8 na revista Rodriguésia (RJ), descreveu três das cinco espécies. Já as outras duas foram divulgadas em novembro, na revista Nordic Journal of Botany.
Segundo artigo da revista Rodriguésia, as espécies estudadas são do gênero Microlicia. A Microlicia caparaoensis é endêmica do Parque Nacional do Caparaó e pode ser encontrada tanto no lado capixaba quanto no mineiro. Já a Microlicia capixaba e a Microlicia misteriosa existem somente nas montanhas rochosas do Alto Misterioso, em São Roque do Canaã. Há uma quarta espécie, a Microlicia sp., ela ainda necessita de mais estudos para ter a origem confirmada.
Na revista Nordic Journal of Botany foram descritas duas espécies de Miconia endêmicas do Espírito Santo: a Miconia quartzicola, coletada no município de Vargem Alta; e a Miconia spiritusanctensis, encontrada no Parque Estadual do Forno Grande, em Castelo.
Segundo um dos autores dos dois artigos, o pesquisador e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Renato Goldenberg, a Miconia spiritusanctensis ocorre em uma distribuição um pouco mais ampla, incluindo também o município de Venda Nova do Imigrante.
203 ESPÉCIES NO ESPÍRITO SANTO
O Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA) comunicou que as cinco novas espécies são da família Melastomataceae, que tem 203 espécies registradas no Estado, e 53 são endêmicas. De acordo com Renato Goldenberg, as cinco espécies foram descritas do final do ano de 2021 e início de 2022. Entretanto, se fosse para contabilizar desde 2017, seriam 21 espécies descritas para o Espírito Santo.
Renato Goldenberg explicou ainda que a equipe do INMA realizou um grande trabalho em locais remotos e de difícil acesso, com o intuito de fazer coletas, que foi muito importante para a descoberta das espécies.
Renato Goldenberg
Pesquisador e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR)
"Trabalhos recentes nos apontam que ainda deve ter muita coisa para descrever"
Um fato curioso é sobre como ocorre a escolha dos nomes das espécies. Goldenberg contou que os pesquisadores buscam criar uma relação com o local ou com a situação que a planta foi encontrada. “O nome tem que estar em latim, mas é uma referência ao local”, disse.
TRÊS FATORES
Segundo o pesquisador, há três fatores que explicam os motivos dessas espécies terem sido encontradas somente nas terras capixabas. O primeiro diz respeito ao ponto de vista biológico. Dessa forma, uma série de circunstâncias fez com que o Espírito Santo se tornasse extremamente rico nesse sentido. “A diversidade de plantas aqui, principalmente a região montanhosa, é muito grande”, relatou.
Em seguida, de acordo com Goldenberg, vem o fator histórico. Segundo ele, o Estado foi menos explorado que as regiões vizinhas. “A exploração de fauna e da flora foi mais forte no Rio de Janeiro, Sul da Bahia e em Minas Gerais. Essa também é uma questão socioeconômica”, enfatizou.
E o terceiro fator descrito pelo pesquisador é que somente recentemente é que o Espírito Santo entrou na rota de pesquisa dessas plantas, por causa da iniciativa de algumas instituições e de profissionais particulares. “Somente com os recentes esforços de coletas, especialmente pela equipe e colaboradores do herbário do Museu de Biologia Professor Mello Leitão, gerido pelo INMA, essa riqueza está sendo mostrada”, disse Renato Goldenberg.
RISCO DE EXTINÇÃO
Goldenberg destacou que o Alto Misterioso, em São Roque do Canaã, é um morro isolado, bem alto e muito bonito. “No entanto, é uma área que não é protegida e precisa urgente de uma política de conservação porque, se não for protegida, certamente essas plantas do local vão desaparecer”, alertou.
As três espécies que estão em risco de extinção são a Microlicia capixaba, de São Roque do Canaã, a Miconia spiritusanctensis, de Castelo, e a Miconia quartzicola, de Vargem Alta. O pesquisador considera o município de Vargem Alta extremamente importante, visto que é uma área muito diversa com espécies que só aparecem na região.
Por outro lado, outra característica que chama a atenção dele é a falta de reservas biológicas. “Não tem nenhuma reserva biológica de porte lá, nem estadual nem federal, só reservas particulares", pronunciou.
Renato Goldenberg
Pesquisador e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR)
"Vargem Alta é um lugar superimportante que carece muito de áreas de conservação"
O pesquisador pontuou o que fazer para evitar a extinção. Segundo ele, em alguns lugares com espécies mais raras, é necessário que elas sejam conservadas. “Tem que ter uma unidade de conservação que impeça a destruição da vegetação natural”, orientou.
ESPÉCIES ENCONTRADAS, MAS NÃO IDENTIFICADAS
As espécies Miconia spiritusanctensis e Microlicia caparaoensis já haviam sido coletadas há algum tempo, porém, não estavam descritas. A primeira foi em 1985 e a segunda, em 1988. Goldenberg explicou que as amostras estavam em herbários, isto é, coleções biológicas, mas se encontravam como não identificadas pois os pesquisadores não sabiam a espécie delas. “Isso porque elas pertencem a grupos muito complexos, em que a distinção entre as espécies é difícil”, contou Goldenberg.
Nesse caso, o papel do pesquisador Renato Goldenberg, que não é capixaba e sim paulista, é trabalhar como especialista de um determinado grupo. Ele comentou que vai ao herbário e observa as plantas que não possuem identificação. Após encontrar uma planta que considera diferente, vai atrás de outras e analisa se ela é nova. “Se eu acho aquela espécie nova, tenho que comparar ela com todas as outras espécies desse gênero para ter certeza”, explicou.
Logo, as cinco espécies devem receber destaque pela publicação do nome. “A espécie é nova, mas não porque apareceu do nada, ela já estava lá, só que era desconhecida, ninguém coletou e não tinha o nome”, explicou Goldenberg.
Para o pesquisador, a publicação é um marco, porém vem de um trabalho longínquo, de coleta e depois do estudo da planta. “Tem mais espécies novas, só não temos material suficiente para fazer a descrição, como em Santa Leopoldina e nas encostas capixabas do Caparaó”, revelou.
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