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Por que a Covid se estabilizou no ES, mas o número de mortes está maior?

Por que a Covid se estabilizou no ES, mas o número de mortes está maior?

O comportamento da doença no Estado, que apresenta dados, ora positivos, ora negativos, gera dúvidas. Contudo, os indicadores estão corretos e não há contradição

Publicado em 23 de julho de 2020 às 20:07

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Homenagem às vítimas da Covid-19 no ES realizada na Praia da Costa, em Vila Velha
Homenagem às vítimas da Covid-19 no ES realizada na Praia da Costa, em Vila Velha. (Leandro Tedesco | TV Gazeta)

Desde o início da pandemia, é possível acompanhar a evolução da Covid-19 no Espírito Santo por meio da quantidade de pessoas infectadas e o de  óbitos. O comportamento da doença  em território capixaba, que ora apresenta dados positivos, ora negativos, acaba gerando dúvidas na população. 

Um resultado que suscita bastante questionamento é o fato de o Estado indicar estabilidade e, ainda assim, ter um volume de mortes maior. Embora pareça contraditório, os números também esclarecem esse cenário.

Professor do Departamento de Matemática da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e membro do Núcleo Interinstitucional de Estudos Epidemiológicos (NIEE), Etereldes Gonçalves Junior explica que o Estado alcançou a estabilidade, porém em um patamar alto de mortes, se refletindo nos resultados de agora. 

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Quando os casos estacionam, não significa que a situação está ótima, mas que parou de piorar

Etereldes Gonçalves Junior
Professor do Departamento de Matemática da Ufes
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Usando números hipotéticos, Etereldes diz que, na velocidade a que o Espírito Santo chegou na quantidade de óbitos, pode-se exemplificar da seguinte maneira: nos primeiros meses, com 2 óbitos diários, seriam necessários 100 dias para atingir 200 mortes, ao passo que, por já ter atingido o pico da Covid-19, agora as 200 mortes podem ser registradas num intervalo menor de tempo. 

O professor também apresenta um gráfico com a simulação da curva de mortes. Todos os óbitos são somados e, conforme a velocidade em que avança a doença, é necessário um período temporal reduzido para alcançar um volume maior de mortes. 

Gráfico demonstra evolução de mortes hipotéticas
Em simulação, gráfico demonstra que, conforme o aumento da velocidade, total de mortes é maior num intervalo de tempo menor. (Professor Etereldes Gonçalves Junior)

"CARRO EM VELOCIDADE"

É isso o que os indicadores da doença demonstram agora em julho, ao registrar mais óbitos do que abril e maio juntos. Nas redes sociais, reportagem de A Gazeta que apresentava os dados estimulou o debate, iniciado por um leitor que considerava a informação contraditória. 

Como resposta, outro leitor usou como referência um automóvel na estrada para explicar a relação entre os casos e o aumento de mortes. 

"Imagine um carro a 10 km/h que acelere um quilômetro a cada hora. Ao final de 90 horas, ele estará a 100 km/h. Certo? Se parar de acelerar agora e estabilizar a velocidade em 100 km/h, em 20 horas, ele terá percorrido 2 mil quilômetros, certo? Essa distância é maior que a percorrida nas primeiras 60 horas, que equivalem a 1.785 quilômetros. Por mais que ele tenha parado de acelerar, já estava muito mais rápido. Entende? Agora, troque quilômetros por casos, e horas por dias, e você verá com esse exemplo se encaixa na questão", afirmou. 

O professor Etereldes diz que a comparação da evolução da Covid-19 com a velocidade de um carro é um bom exemplo para explicar o contexto atual. "A única diferença para o  trabalho que fazemos é que, no nosso cálculo, usamos a velocidade relativa (percentual) em vez da absoluta apresentada nesse caso. O conceito é o mesmo".

Não há nada errado com os números, em que o mês de julho aparece com mais mortes que abril e maio, assegura Etereldes. Na opinião do professor, o que pode ser de difícil compreensão  para muitas pessoas é o fato de a Covid-19 apresentar, atualmente, indicadores bons e ruins.

Importante esclarecer, ainda, que a estabilidade a que se referem os especialistas tem um margem que pode variar em até 15%, para mais ou para menos, nas comparações de dados entre as semanas epidemiológicas.

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O Espírito Santo está apresentando sinais de queda como um todo, mas ao olhar para as mortes em julho, ainda há um número expressivo. Isso ocorre porque os óbitos diários param de aumentar, mas estão num patamar muito alto e levam um tempo para descer. Para reverter o cenário, ainda precisamos desse tempo

Etereldes Gonçalves Junior
Professor do Departamento de Matemática da Ufes
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