Uma preguiça resgatada em uma rodovia no Espírito Santo viralizou nas redes sociais ao posar para selfie com o operador de tráfego Wesley Liria. Ele fez o resgate do animal que tentava atravessar a BR-101, na região de Água Limpa, que dá acesso a Jaguaré, no Norte do Estado. O caso aconteceu no dia 23 de outubro, mas a foto só foi publicada dias depois.
Essa foi a terceira vez que o profissional resgata esta espécie de animal Ele também já salvou uma jiboia e uma tartaruga. Liria fez o registro dos resgates, mas a foto com a preguiça que teve uma maior repercussão.
O operador estava finalizando uma ocorrência de um acidente quando um motorista passou e o avisou que tinha um animal tentando atravessar a rodovia. Como utiliza um veículo de inspeção, ele consegue ter acesso aos locais de maneira mais rápida.
“Consegui chegar e fazer o resgate quando a preguiça saía do acostamento e já estava quase na faixa branca. Foi quando realizei a parada e fiz a captura da maneira que nos foi orientada. Quando os animais estão querendo atravessar a pista e fazemos a captura dele o ideal é atravessá-los no sentido em que eles estavam indo. Caso ele seja colocado no mesmo sentido , corre o risco deles retornarem para a pista para tentar atravessar novamente. Então, peguei o animal, o atravessei e foi nesse momento que eu consegui fazer o registro”, relatou.
O operador colocou a preguiça em uma árvore e aguardou alguns minutos para verificar se ela ficaria mesmo lá.
Wesley Liria trabalha em um veículo de inspeção como operador de tráfego há três anos. Ele já está na Eco 101 há quase sete anos. O profissional tem como tarefa observar se há veículos quebrados, detritos sobre a pista, acidentes, usuários com agravo de saúde, atropelamentos e resgates de animais, tudo para evitar acidentes na rodovia.
“A empresa nos orienta como agir no caso do resgate de animais. Não somos especialistas na área, mas sabemos como proceder. Temos dias estressantes, principalmente quando o usuário desconta na gente o que não podemos resolver. A experiência de resgatar um animal é muito legal”, afirmou.
O biólogo e mestre em Biologia Animal pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Daniel Gosser Motta, recomenda nunca encostar em qualquer tipo de animal silvestre, pois podemos machucá-los ou sermos machucados.
Além disso, segundo Motta, há risco da transmissão de zoonoses (doenças infecciosas transmitidas por bichos para os seres humanos) ou doenças que nós seres humanos podemos transmitir para os bichos, como herpes.
“Neste caso, foi uma exceção para livrar o bicho-preguiça de um possível atropelamento e o operador de tráfego manipulou o animal de forma correta, o pegando por trás e as mãos segurando embaixo dos braços dele. O único descuido foi na hora da foto, pois deixar os braços do bicho-preguiça livres pode acarretar em um grande arranhão, caso ele se sinta ameaçado”, ressalta.
Motta observa que o bicho-preguiça é um animal que vive nas árvores, tem hábitos diurnos e durante a primavera ocorre o período de reprodução dele, com isso é mais comum vermos esse animal transitando à procura de possíveis parceiros sexuais. A preguiça é um mamífero que se alimenta basicamente de folhas.
“Esses animais também descem das árvores para realizarem suas necessidades fisiológicas ou ir para outra árvore que ele queira, caso não consiga alcançar os galhos dela”, complementa.
Ao G1 ES, a Eco 101 informou que, em 2024, oito preguiças foram resgatadas na BR-101, no Espírito Santo.
Para proteger os animais e dar segurança aos usuários que trafegam pela rodovia, a empresa realiza o Programa de Proteção à Fauna. O trabalho inclui ações de monitoramento, prevenção, resgate e cuidado com os bichos que habitam ao redor das pistas.
O programa possibilita, ainda, a adoção de ferramentas e procedimentos que reduzem os impactos oriundos do atropelamento de fauna ao longo da rodovia. São diversas espécies resgatadas, sendo a maioria mamíferos e aves.
A iniciativa se divide em dois subprogramas. O primeiro deles é o de Monitoramento de Atropelamento de Fauna que consiste no acompanhamento realizado pela equipe capacitada, que percorre, mensalmente, o trecho concessionado. Todos os dados coletados são cadastrados numa planilha, de onde é gerado o resultado analítico dos atropelamentos por grupo faunístico, espécie, local e demais informações pertinentes.
A segunda iniciativa é de Resgate e Afugentamento de Fauna, que compreende no resgate e cuidado do animal encontrado com vida na rodovia.
O coordenador de Sustentabilidade, Thiago Cardoso, ressaltou que as ações são de fundamental importância, visto que o trecho administrado pela Eco 101 intercepta seis unidades de conservação relevantes para a manutenção da biodiversidade local. São elas: Reserva Biológica de Sooretama, Monumento Natural Goytacazes, na cidade de Linhares, APA Estadual Mestre Álvaro, nas cidades de Serra e Cariacica, Concha D’Ostra, em Guarapari, Monumento Natural Frade e a Freira, em Itapemirim e Monumento Natural Estadual Serra das Torres, no município de Mimoso do Sul.
“Toda a vistoria é realizada em veículo em baixa velocidade para identificar o maior número possível de animais e facilitar a parada para a coleta dos dados. Também é realizado um monitoramento a pé, dividido por segmentos amostrais”, explicou.
A empresa informou ainda que o trabalho facilita a tomada de decisões e execução de medidas adequadas para cada trecho da rodovia, como placas educativas e de sinalização e passagens de fauna subterrâneas e aéreas. Além disso, são realizadas ações de conscientização e educação para os usuários. Estas ferramentas contribuem para minimizar a ocorrência de acidentes envolvendo a fauna, preservando a biodiversidade capixaba.
Os animais resgatados são encaminhados para tratamento veterinário em clínicas parceiras, especializadas em animais silvestres, e também para o Projeto Cereias, localizado em Aracruz. Barros diz ainda que há também casos de animais encontrados e resgatados por usuários, mas essa é uma prática não recomendada.
“A ação aumenta o risco de acidentes tanto para o animal, quanto para o usuário e terceiros, além de estressar e agravar o quadro clínico do espécime”, ressaltou.
Já os animais domésticos encontrados na rodovia são encaminhados para os Centros de Zoonozes dos municípios. A concessionária também faz operações para recolhimento de cavalos e gados, que geralmente fogem das fazendas nas proximidades da rodovia. Eles são encaminhados para o Rancho Serra, onde passam por exames e tratamentos, além de chip para identificação. Os animais ficam no local até a retirada do proprietário.
Além disso, a Eco 101 realiza algumas campanhas para evitar a evasão dos animais de fazendas, como orientação para o reforço das cercas. Tudo isso para evitar a morte dos bichos e garantir a segurança dos usuários que trafegam pela rodovia.
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