Giovanna Negreiro e Beatriz Januário são crianças atendidas pelo projeto 'De Olho no Futuro'
Giovanna Negreiro e Beatriz Januário são crianças atendidas pelo projeto "De Olho no Futuro". Crédito: Fernando Madeira

Projeto do ES cuida da visão de alunos, que passam a enxergar novas chances de vida

Iniciativa criada por médico oferece consultas, acompanhamento de problemas de vista e até óculos a crianças em idade escolar de regiões de vulnerabilidade social da Grande Vitória, o que ajuda também no rendimento escolar

Tempo de leitura: 6min
Vitória
Publicado em 10/10/2024 às 14h45

"Minha meta é levar todas as crianças com baixa visão para a sala de aula." Esse é o objetivo do oftalmologista Ubirajara Moulin de Menezes, que, por enxergar uma necessidade presente, especialmente em áreas de vulnerabilidade social da Grande Vitória, criou o projeto “De Olho no Futuro". A intenção é promover saúde ocular para crianças que convivem com problemas de visão, como miopia, hipermetropia e astigmatismo e que, normalmente, não têm acesso a médicos e consultas oculares. Um problema que desencadeia outro: o baixo rendimento escolar.

De acordo com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), 30% das crianças em idade escolar no Brasil apresentam problemas de visão. Desse contingente, 80% nunca fizeram uma avaliação oftalmológica. Por isso, outro objetivo do médico com seu projeto — que também faz doação de óculos para quem não tem condições de adquiri-los — é ampliar esse atendimento no Espírito Santo.

"Eu conversava com os professores e eles me passavam a informação se havia algum aluno com deficiência de visão. A gente atendia os estudantes entre a primeira e terceira série (atuais segundo e quarto ano do ensino fundamental) e as crianças que convivem com necessidades especiais e que são atendidas pela Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae). Inicialmente, fazíamos um exame simples e depois o mais sofisticado", relembra Ubirajara.

Beatriz Januário Correia, 13 anos, nasceu em Rondônia, mas foi criada no Pará.  E foi em Belém que ela teve seus primeiros atendimentos oftalmológicos. Aliás, o Estado da Região Norte tem apenas 353 médicos para atender a todo a população paraense, o que corresponde a um profissional para cada 24 mil habitantes, segundo dados do CBO. 

“Eu já reclamava com a minha mãe que, às vezes, ela me apontava alguma coisa que estava longe e eu não enxergava. Fiz os primeiros exames ainda em Belém e, quando ia mandar fazer os óculos, vim para o Espírito Santo”, lembra Beatriz, que está no 7º ano do ensino fundamental. Em Vila Velha, a família da menina foi morar na região de Jabaeté, área atendida pelo “De Olho no Futuro”, que foi retomado pelo Instituto Unimed, com o apoio do Sicoob.

Projeto Social De Olho no Futuro, Cooperativa Unimed Vitória
Beatriz Januário projeta seu futuro tendo como referência Maria Júlia Coutinho: "Tem coisas que a gente não sabe e acaba descobrindo por causa do jornalismo". Crédito: Fernando Madeira

Beatriz Januário Correia

13 anos

"Agora que ganhei os óculos, está bem melhor para escrever. Não fica aquele negócio embaçado no quadro. Leio mais, e até livro de letra pequena"

Outra beneficiada pelo projeto é Giovanna Negreiro Gama, também de 13 anos, que está no 8º ano do ensino fundamental e  agora diz ter um bom desempenho também nas atividades de leitura na sua igreja: “No templo, tínhamos que achar versículos na Bíblia, e eu só conseguia localizar porque já os havia decorado, e assim conseguia vencer as competições”.

Giovanna nasceu na Bahia e está no Espírito Santo desde 2018. Ainda no território baiano, a família se juntou para poder pagar pelos primeiros óculos da menina, que só os usou por um ano. Após uma nova troca por outro óculos, ela ficaria sem nenhum por cerca de quatro anos, o que não ocorreu graças à doação feita ao projeto. 

Projeto Social De Olho no Futuro, Cooperativa Unimed Vitória
Giovanna Negreiro ficou sem óculos por quatro anos. Agora, sonha com um futuro: "Quero ser advogada". Crédito: Fernando Madeira

Segundo Giovanna, seu rendimento escolar melhorou com a chegada dos óculos. 

Giovanna Negreiro Gama

13 anos

"Eu ficava sem fazer o dever e com dor de cabeça, às vezes. Depois que passei a usar, minhas notas melhoraram"

A fala de Giovanna se alinha à do próprio Dr. Ubirajara. "As crianças dependem de trabalhos oftalmológicos. Algumas delas ficam reprovadas por falta de óculos."

Projeto Social De Olho no Futuro, Cooperativa Unimed Vitória
Beatriz e Giovanna vislumbram possibilidades de existir enquanto cidadãs do mundo a partir do momento que se enxergam como parte dele. Crédito: Fernando Madeira

Como funciona o projeto

O "De Olho no Futuro" atende crianças em idade escolar de outros projetos sociais atuantes na região da Grande Vitória. Após  avaliação, o Instituto Unimed conduz os que necessitam de um acompanhamento ao Centro de Especialidades, em Vitória, onde passam por uma nova triagem, que determina quem precisa ou não do atendimento oftalmológico.

Em caso de necessidades mais complexas, essas crianças são encaminhadas ao Sistema Único de Saúde (SUS). Neste ano, 610 crianças e adolescentes foram atendidos no total, sendo que 182 (30%) foram encaminhadas para consulta oftalmológica e 126 (69%) receberam prescrição para uso de óculos. A edição deste ano foi concluída no mês de julho.

No município de Vila Velha, o Instituto Unimed se aliou às ONGs Fome de Leitura e Missão Vida, que atuam no bairro Normília da Cunha. Somente nessa comunidade, houve a triagem de 155 alunos, 96 consultas foram realizadas e 79 óculos prescritos.

Participaram como voluntários das ações deste ano 118 colaboradores da Unimed Vitória e empresas parceiras, que doaram cerca de 700 horas de trabalho voluntário às atividades do projeto. O valor total investido foi de R$ 96.680, considerando o valor da operação (infraestrutura, logística, alimentação etc.) e os óculos.

Projeto Social De Olho no Futuro, Cooperativa Unimed Vitória
Dr. Ubirajara ressalta que muitas crianças acabam sendo reprovadas na escola em razão da dificuldade na leitura. Crédito: Fernando Madeira

Problema de saúde e social

Dores de cabeça, lacrimejamento excessivo, coceira constante nos olhos, sensibilidade à luz e o ato de aproximar objetos para enxergar ou apertar os olhos para ver a distância são alguns dos sinais mais importantes de pessoas que convivem com problemas de visão. Porém, muitas vezes, todos são ignorados ou não-tratados por conta da desigualdade social. “E, a esses sinais, soma-se a fome”, diz Milene Mello, gerente geral do Instituto Unimed Vitória, citando a dura realidade de muitas das pessoas da região onde a iniciativa do Dr. Ubirajara atua.

A médica oftalmologista e voluntária do "De Olho no Futuro", Adriana Cardozo, completa a fala de Milene: "Esse projeto veio numa crescente. E nos conscientizamos de que não adianta oferecer apenas a consulta e não disponibilizar os óculos, já que grande parte dos assistidos não tem condições de comprá-los, e a ação acaba não sendo tão resolutiva". 

464 oftalmologistas

É o número de especialistas no Espírito Santo, que tem quase 4 milhões de habitantes, ou seja, um médico para cada 8.561 pessoas

Um estudo realizado pela Universidade de Vila Velha (UVV), publicado na Revista Brasileira de Pesquisas em Saúde, em 2018, selecionou 1.010 pacientes daquela cidade, sendo 85 crianças. Desse total, 86% possuíam um problema ocular e não usavam óculos. Os distúrbios mais complexos (glaucoma, conjuntivite, toxoplasmose ocular, retinopatia diabética, retinopatia hipertensiva), perfazem 18%. Já os que convivem com miopia (dificuldade para enxergar de longe), hipermetropia (dificuldade para enxergar de perto) ou astigmatismo são 68%.

De Olho no Futuro

Projeto Social De Olho no Futuro, Cooperativa Unimed Vitória
Projeto Social De Olho no Futuro, Cooperativa Unimed Vitória. Fernando Madeira
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Olhar o mundo pede atenção. Mas a quem a visão desse horizonte parecia "embaçada", o projeto "De Olho no Futuro — Dr. Ubirajara Moulin" parece agora tornar essa visão mais clara, como no caso de Beatriz e Giovanna, que agora acreditam enxergar um futuro com melhores oportunidades.

Beatriz vislumbra o caminho que deseja trilhar. “Meu sonho é ser jornalista, é informar as pessoas. Tem coisas que a gente não sabe e acaba descobrindo por causa do jornalismo”, revela a garota, cuja inspiração vem da apresentadora da TV Globo Maria Júlia Coutinho. Já a melhora da qualidade de vida faz Griovanna desejar seguir na área jurídica: “Quero ser advogada”.

Projeto Social De Olho no Futuro, Cooperativa Unimed Vitória
Para Dr. Ubirajara o maior legado de seu ofício não é dele, mas de sua mãe, dona Maria José (Zezé): "Meu filho, não cobre consulta de uma pessoa pobre". Crédito: Fernando Madeira

É essa esperança na transformação na vida de crianças como Giovanna e Beatriz que inspira iniciativas como a criada pelo médico Ubirajara Moulin — que, como ele mesmo conta, convivia com a pobreza e, apesar dos desafios, conseguiu se formar pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Para o médico, aliás, o maior legado de seu ofício não é dele, mas de sua mãe, dona Maria José (Zezé) Moulin de Moraes. 

 "Minha mãe sempre ajudou muita gente. Quando eu me formei ela me aconselhou: 'Meu filho, não cobre consulta de uma pessoa pobre'. Esse foi seu maior ensinamento. Quanto a mim, o sentimento é de prazer e dever cumprido. Esse é o meu maior trabalho como médico."

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