A formação da comunidade do Jaburu, em Vitória, tem origem naqueles que deixaram a roça para tentar a vida na capital do Espírito Santo. Uma prova deste vínculo com a terra pode ser percebido nas diversas plantas e árvores espalhadas pelas escadarias do bairro. No entanto, esta habilidade no trato com a terra não foi suficiente, e muitos outros espaços que poderiam ser aproveitados para o plantio, viraram depósitos de lixo, um dos maiores problemas do bairro.
Revitalização e sustentabilidade transformam o Morro do Jaburu
Na tentativa de transformar essa realidade, a comunidade, com auxílio do Instituto Unimed, criou o Projeto Circuito Verde, destinado a revitalizar áreas, elaborar espaços culturais e hortas pelo morro, contribuindo para revitalização de áreas degradadas e possibilitando o início de um circuito turístico comunitário.
A gestora do instituto, Milene Mello, explica que um dos princípios do cooperativismo “é desenvolver e apoiar projetos sociais em suas regiões de atuação, principalmente aqueles que ajudem o desenvolvimento comunitário e que cooperem com o crescimento de comunidades integradas, capazes de promover seus ativos e sua sustentabilidade”.
Cosme Santos, 55 anos, agente de desenvolvimento local , conta que a revitalização do local era um desejo antigo da comunidade. “Aqui era um ponto de lixo, era um local que incomodava muito os moradores em volta. Aí surgiu a ideia de fazer uma horta, para produzir alimentos e acabar com a sujeira”.
Parceria especializada para superar os desafios
Para implementar um projeto tão significativo foi necessário apoio de várias frentes. Para superar o desafio de construir um espaço para o plantio em uma área de topografia íngreme, a comunidade recorreu a uma ONG composta por arquitetos dispostos a projetar espaços que valorizassem a comunidade de forma sustentável.
Renan Grisoni, 41 anos, membro da Onze 8, recorreu à técnica de terraços, ela amortece o volume intenso de água que escorre no morro durante as chuvas e, ao mesmo tempo, fornece espaço para assentar a terra fértil que gera folhas e frutos. “Foi um desafio enorme por conta da declividade do terreno e das chuvas, um lugar complexo. A ideia foi facilitar o plantio, construindo um recurso utilizado pelos incas, os platôs, que possibilitam o cultivo e drenam a água. Também trabalhamos a ideia de sustentabilidade na construção quando reaproveitamos muitos materiais descartados por aqui”, diz.
Tradição com a terra enriquece a plantação
Nascida na roça, a dona de casa Dilse Joana Rodrigues, 72 anos, levou sua horta para além de seu limite domiciliar. A filha de lavradores criada no interior assumiu a missão de semear, adubar, regar e colher os frutos da Horta do Amanhã.
Dilse Joana Rodrigues
Dona de casa
"Eu sempre tive minha hortinha em casa e conheci este espaço. Aqui eu planto alface, cebolinha, coentro, salsinha, mostarda, couve, jiló, almeirão, tomate e chuchu. Tudo que der para plantar, a gente planta. Dá para fazer uma feira”, conta Dilse esbanjando bom humor e disposição "
Orgulho
Mais que gerar alimentos para a população da comunidade, o Projeto Circuito Verde, se torna uma experiência multiplicadora e mexe com o sentimento de uma comunidade marcada pelos desafios de áreas periféricas dos centros urbanos, como relata Cosme Santos.
”Depois que a gente fez estas intervenções e construímos as hortas, vimos que outros moradores passaram a fazer canteiros nos becos, nas ruas, em frente à casa e nos quintais. Os moradores ficam mais orgulhosos porque em um passado recente nossa comunidade era taxada como um local que tinha acúmulo de lixo, e com o Circuito Verde, tem mudado, as pessoas estão plantando e limpando, cuidando mais do nosso bairro".
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