Após mais de um ano do fim da pandemia da Covid-19, ainda é possível enxergar, no Brasil e no mundo, algumas consequências geradas pelo período de isolamento. Entre elas, está a queda do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que mede a qualidade de vida da população de uma região. Somente no Espírito Santo, taxa diminuiu 2,8% em relação a 2019, ano anterior à crise de saúde.
Os dados são do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), divulgados nesta terça-feira (28), e revelam os níveis de longevidade, taxa de escolaridade e renda, qualidade de vida da população, em cada Estado de 2019 a 2021, além do nível de desigualdade de gênero e raça. Essa estimativa é conhecida como IDH Municipal por também medir a garantia ao acesso ao conhecimento e a saúde na região.
Em valores, quanto mais perto de 1, maior é o IDH. Em 2021, o índice de desenvolvimento na Grande Vitória foi de 0,796, apresentando uma queda de 3,1% em relação a 2019, quando a taxa ficou em 0,822. De acordo com o diretor da Fundação Getúlio Vargas Social ( FGV Social), Marcelo Neri, a redução do índice não prejudicou apenas as estatísticas, mas também a vida dos capixabas e de todo o Brasil.
"Durante a pandemia, o Brasil perdeu dois anos de expectativa de vida. No período anterior, estávamos em uma crescente em que, a cada três anos, avançávamos um ano de expectativa de vida. Porém, isso se perdeu. Outro setor que sofreu muito foi a educação, com o aumento da evasão escolar, principalmente entre os mais jovens", conta o especialista.
Apesar de ainda se manter no nível "muito alto", em 2021, o índice de desenvolvimento no Espírito Santo foi de 0,771, apresentando uma queda de 2,8% em ralação a 2019, quando a taxa atingiu a marca de 0,793. Para o especialista, esse decréscimo é reflexo da gestão pública e de como o Estado lidou com a crise.
“As políticas que foram feitas durante a pandemia, tanto em relação à educação, à renda e, até mesmo, à vacinação, influenciaram muito para o resultado que vemos hoje. O atraso em muitas decisões fizeram com que o Brasil, que anteriormente era premiado por seu IDH, ficasse muito atrás na recuperação em relação a outros países.”, afirma Neri.
Marcelo Neri observa que existe uma diferença notável entre a média de IDH – que é considerada alta e positiva no Espírito Santo e no Brasil – e o nível de IDH social. Nesse caso, pelos índices altos de desigualdade, a taxa qualidade de vida social é baixa.
Os números do relatório também apontam o mesmo. Em 2021, enquanto brancos alcançaram 0,810 no dado que indica qualidade de vida, pessoas negras estão 10,9% atrás, com 0,721 no IDH. Segundo o especialista, essa diferença mostra que pretos e pardos ainda vivem menos e têm pouco acesso à escolaridade e renda, uma realidade que pode ser comparada ao século passado.
“Os dados mostram de maneira muito clara a desigualdade racial. Enquanto os dados dos brancos refletem uma realidade do século XXI, os negros, em avanço de qualidade de vida, ainda estão no século XX”, observa o diretor do FGV Social.
Já em relação ao sexo, as mulheres têm o IDH 6,8% maior que o dos homens. Marcelo Neri esclarece que o motivo está na longevidade e taxa de escolaridade, que é maior entre as mulheres. Porém, elas são as mais vulneráveis em relação à renda, devido à desigualdade salarial.
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