Um estudo do Imperial College London, instituição britânica de pesquisa que tem analisado dados sobre o novo coronavírus em todo o mundo, mostrou que as medidas de isolamento e distanciamento social aplicadas até o momento nos estados brasileiros ainda não são suficientes para inverter a curva de contágio da Covid-19. O relatório foi publicado nesta sexta-feira (8).
A entidade analisou informações de casos confirmados e mortes pela doença em 16 estados brasileiros, incluindo o Espírito Santo. A conclusão é de que, sem vacina ou remédio, e sem medidas mais duras de isolamento, a epidemia nos estados estudados continuará crescendo exponencialmente.
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores calcularam o número básico de reprodução (Rt) da Covid-19 em cada um dos estados entre 8 de março e 7 de maio.
O Rt é um termo utilizado na epidemiologia para indicar o quão contagiosa é uma doença infecciosa. O valor dele indica o número de outras pessoas que uma pessoa infectada irá contagiar. O estudo parte do princípio que quanto menos gente circulando nas ruas, menor é o nível de contágio.
No Espírito Santo, esse indicador varia entre 1 e 2 desde que as medidas de isolamento e distanciamento social, como fechamento do comércio e paralisação das aulas, foram implementadas. Na última semana analisada, esse valor foi de 1,5.
Antes das ações de contenção, o Rt no Espírito Santo era mais próximo de 3. A mudança pode não parecer grande, mas já faz muita diferença.
Em um cenário de Rt igual a 3, uma pessoa infectada contamina outras três. Cada uma delas vai passar a doença para mais três pessoas e assim por diante. Ao final de cinco rodadas, 121 pessoas teriam sido infectadas.
Já no cenário de Rt igual a 1,5, como o atual, cada paciente contamina uma ou duas outras pessoas. Em cinco rodadas, segundo o modelo estatístico, serão cerca de 12 contaminados.
Os cientistas apontam que para inverter a curva de contágio, é necessário que o Rt seja menor que 1. Isso significaria que cada vez menos pessoas passariam a ser infectadas. Um cenário oposto do que temos hoje, onde cada doente pode ser a fonte de mais de uma infecção.
Nossos resultados sugerem que, apesar das reduções, essas medidas são parcialmente bem-sucedidas em reduzir a transmissão em todos os Estados considerados, em contraste com a situação europeia onde lockdonws foram implementados, levando a reduções estimadas de Rt abaixo 1. Essas reduções foram associadas a diminuições substanciais em padrões de mobilidade, afirma o estudo.
O bloqueio total de atividades devido à pandemia do novo coronavírus, como já vem ocorrendo em outros estados e países, não está tão distante da realidade do Espírito Santo. O secretário estadual da Saúde, Nésio Fernandes, afirmou esta semana que não descarta que o lockdown - expressão em inglês que designa confinamento - seja implementado.
Um dos fatores é a baixa adesão da população ao isolamento social, pressionando a rede assistencial pública e privada.
Nésio Fernandes aponta que taxa de isolamento abaixo de 44%, somada ao aumento de casos e mortes no Espírito Santo, pode levar ao estrangulamento do sistema de saúde e, assim, somente o bloqueio total de atividades seria capaz de conter a disseminação da Covid-19. Ao longo desta semana, o indicador ficou na casa dos 46%.
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