A reabertura do comércio na Grande Vitória a partir da próxima segunda-feira (11), após quase dois meses de restrição à atividade, é cercada de expectativas. Mas especialistas ouvidos por A Gazeta alertam: se a população não mantiver o distanciamento necessário, agora que as lojas também ficarão abertas, pode ocorrer um crescimento acentuado de casos de coronavírus no Espírito Santo, o que colocaria em risco a capacidade de atendimento dos hospitais.
O governador do Estado, Renato Casagrande, autorizou a reabertura de lojas na Grande Vitória e em outras cidades com risco alto para Covid-19 em esquema de rodízio e com horário de funcionamento limitado, mas afirmou que comerciantes e clientes precisarão cumprir os protocolos de distanciamento social.
Para o infectologista Carlos Urbano, o ideal seria que a flexibilização só ocorresse em um cenário de curva decrescente de casos de Covid-19, o que não acontece no momento: com mais de 4,2 mil infectados, ainda não é possível dizer quando o Estado vai alcançar o pico da contaminação.
Embora compreenda a decisão do governo, Carlos Urbano destaca que o melhor seria não ter ninguém na rua, além dos trabalhadores de atividades consideradas essenciais, como profissionais da saúde e da segurança. Segundo o infectologista, cabe ao governo monitorar com muito cuidado a taxa de ocupação dos leitos de UTI para pacientes com coronavírus no Estado, que hoje é de 61, 65%.
"Entendo do ponto de vista econômico, mas o ideal seria que não tivesse ninguém na rua porque há uma ascensão de curva. É só ver o que está acontecendo em Belém (PA), em Manaus (AM), no Rio de Janeiro (RJ). Se ficarmos em ascensão na curva e não tomarmos cuidado, pode acontecer com a gente nas próximas semanas o que acontece com Manaus hoje: um colapso na rede de saúde", alerta.
Na avaliação do infectologista Paulo Peçanha, o momento não era para flexibilizar. "De um lado, o governo pede isolamento social, do outro abre o comércio. Essa conta não fecha. Ao mesmo tempo que quer aumentar o índice de isolamento, abrindo o comércio está sinalizando que as pessoas podem ir comprar. O que pode acontecer, com decisões que flexibilizem o isolamento, é ter mais pessoas com infecção que vão pressionar os hospitais com mais internações, mais pacientes em UTI e mais mortes", pontua.
Já a infectologista Rúbia Miossi avalia que a estratégia de reabertura em esquema de rodízio é boa porque vai dar um pouco de alívio aos comerciantes, sem pesar no transporte público, mas também chama a atenção para a necessidade de cumprimento dos protocolos de distanciamento social no comércio, inclusive por parte da clientela, para não faltarem leitos no Estado.
"O risco (sem o distanciamento) é em 15 dias a gente não ter leito para internar e as pessoas começarem a morrer sem assistência. É óbvio que o número de casos vai subir com essa reabertura, o vírus também circula mais. Mas, independentemente disso, se tivermos leitos suficientes para acolher as pessoas que tiverem necessidade, não é de todo inseguro fazer essa reabertura, não é criticável. Não posso penalizar a saúde, mas também não posso penalizar muito a questão socioeconômica", pondera.
Para justificar essa flexibilização, o governador disse que apertou o cerco contra outros setores produtivos: determinou que todas as tarefas administrativas das industrias devem ser feitas em home office e mandou fechar restaurantes e lanchonetes aos sábados e domingos, além de estabelecer multa de R$ 6 mil para quem não usar máscaras no comércio e nos ônibus.
"Será que com isso eu compenso abrir comércio dia sim dia não? Não sei, não conheço esses números.Tenho que ter esses dados nas mãos. Será que com essa medida eu vou ter menos gente circulando ou mais gente circulando? Dá impressão, grosseiramente, que eu vou ter mais gente circulando, mas não tenho esse número na mão", pontuou Urbano.
Com 61% dos leitos de UTI para pacientes com coronavírus ocupados, o governador disse, porém, que se essa ocupação chegar a uma taxa de 80%, terá que tomar medidas mais radicais.
O Espírito Santo já registra 4.242 casos confirmados de Covid e 165 mortes, segundo o último balanço, divulgado nessa sexta-feira.
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