Não é raro e costuma acontecer sempre. Basta as aulas começarem para muitas crianças reclamarem da mochila. Excesso de peso, regulagem malfeita ou mesmo o jeito de carregá-la costumam incomodar os estudantes e, pior, podem causar dores e até problemas sérios na coluna.
Em entrevista à reportagem de A Gazeta, o médico ortopedista José Alexandre Cunha Baptista, especialista em coluna vertebral, dá dicas sobre o uso da mochila e ainda deixa um alerta: o mau uso pode causar danos à saúde, como o encurvamento da coluna e encurtamento da musculatura peitoral.
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1 - De olho no peso x distância
Uma mochila pesada pode causar lesões e, sobre esse problema, muita gente já tem conhecimento. Mas, como o item é necessário na rotina escolar, qual é o máximo de carga que pode ter? José Alexandre explica que, nessa balança, é preciso observar bem mais que o volume carregado, mas também a distância percorrida pelo estudante. A combinação desses dois fatores é que vai estabelecer o limite, que pode variar de 10% a 20% do peso de quem vai carregá-la.
"Se a criança ou adolescente for carregar apenas da porta da escola até a sala de aula, a mochila pode pesar até 20% da massa dele. Agora, para distâncias maiores, como uma criança que vai a pé para a escola, o recomendado é que seja, no máximo, 10%", compara o médico. O peso também depende da idade. Por segurança, segundo ele, o ideal é ficar o mais próximo da porcentagem menor.
2 - O ajuste ideal
Seja por motivos estéticos, seja pela pressa, é comum ver jovens segurando a mochila apenas por uma das alças ou ajustada para ficar bem baixa. O ortopedista, no entanto, desaconselha essa conduta. "O ideal é que a mochila fique presa nas costas, com as duas alças nos ombros. O mais colada possível no corpo, passando apenas um pouco da linha da cintura, presa ao tórax e não muito baixa. O esforço deve ser feito com braços e pernas, não com a coluna", orienta.
3 - Para guardar o material
Além do volume de material, a forma como é acondicionado na mochila também é importante. "É preciso distribuir o peso dentro da mochila e até levar algumas coisas na mão, como um caderno", aconselha José Alexandre. É indicado que materiais mais pesados, como livros, fiquem mais juntos ao corpo.
Algumas escolas disponibilizam armários para que o material fique na escola. Quando não há essa disponibilidade, o médico recomenda que o material seja dividido em partes menores. Um "cadernão" de 10 matérias, por exemplo, pode ser substituído por apenas um caderno para cada matéria. Assim, só vai à escola o material necessário.
O ortopedista conta que já houve uma situação em que recomendou que os pais fizessem uma cópia do livro em uma gráfica e o dividissem em três partes, por causa da grossura e do peso do material. Assim, a criança só levava a parte que estava sendo estudada.
5 - Mochila de rodinhas: uma solução?
Se nas costas a mochila pode ser um problema, então é só optar pela versão com rodinhas. Certo? De certa forma, sim. Mas é preciso estar atento às medidas da criança. "Tem que comparar o tamanho da mochila com o da criança, para que ela não fique curvada ao puxar", disse o médico. Ele ainda lembra que há uma opção com quadro rodinhas, similar a uma mala de viagem.
Segundo o ortopedista, as possíveis lesões causadas por mochilas pesadas demais podem ir de uma simples dor muscular nas costas – que, corrigindo o problema do excesso de peso, também é curada – até problemas mais complexos, como o dorso curvo postural, isto é, o aumento da curvatura da coluna devido à má postura.
A musculatura, então, vai se acostumando a essa condição, acarretando ainda mais problemas, que podem culminar em ombros mais fechados para a frente e o encurtamento da musculatura peitoral, segundo o médico. No entanto, é preciso fazer um levantamento de outras condições da criança ou adolescente, como o hábito postural — como se senta, como anda etc. — e sedentarismo.
Nesses casos, o peso da mochila pode não ser o principal fator de risco, mas pode contribuir para o agravamento de casos ainda mais sérios, como alterações na cartilagem e no crescimento das vértebras, danos que precisam de um tratamento mais especializado, de acordo com José Alexandre.
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