Super-heróis e super-heroínas são personagens que, nas histórias em quadrinhos, ajudam a salvar a população. No entanto, quando lidamos com pessoas supertransmissoras do novo coronavírus, o termo "super" não traz nada de positivo. De acordo com estudos científicos divulgados na revista científica Science, esses indivíduos são os que mais transmitem a doença.
O estudo apontou que os indivíduos com maior capacidade de disseminar a doença chamados de supertransmissores representam 8% dos casos de Covid-19 e provocam 60% das infecções. Em contrapartida, 70% das pessoas com o novo coronavírus não transmitem o vírus para outros indivíduos.
O supertransmissor é um fato novo dentro do cenário da pandemia e ainda cercado de dúvidas para médicos, epidemiologistas e também para a população que vive no Espírito Santo a flexibilização das medidas de distanciamento social.
"Supertransmissores são aqueles que contaminam mais pessoas que o habitual de três a cinco pessoas. Mas ainda não sabemos por que elas contaminam mais pessoas, pois é tudo muito inicial. Sabemos que esses indivíduos existem, pois, o identificamos pelo número de pessoas contaminadas que esse supertransmissor teve contato", explicou a infectologista Rubia Miossi.
De acordo com o infectologista Lauro Ferreira, o supertransmissor ou superespalhador não pode ser identificado através de exames. "A maioria das pessoas está sujeita a se infectar pelo vírus, ser receptor dele. Porém, uma menor quantidade está propensa a repassá-lo, é o que explicaria o fato de, às vezes, o marido ter a doença e a esposa não. Os exames que usamos não identificam esse supertransmissor, por isso a gente defende o uso de máscaras e o distanciamento", explicou o médico.
O infectologista explica que um único supertransmissor pode infectar várias pessoas em um único grupo, sendo um disseminador forte do vírus. Isso porque ele consegue expelir uma grande quantidade de vírus, podendo contaminar até 60 pessoas com quem tiver contato.
A preocupação dos infectologistas e epidemiologistas aumenta em relação a esses supertransmissores devido ao momento de flexibilização das atividades comuns. Para a médica Rubia Miossi, eles podem causar um desastre como contaminar muita gente por coronavírus em um ônibus e uma sala fechada.
Este é mais um motivo para os especialistas insistirem na orientação sobre o distanciamento e o uso de máscaras, pois mesmo o indivíduo sendo um supertransmissor, essas medidas ajudam a reduzir as gotículas e partículas contendo o vírus que essa pessoa coloca no ar.
Também há registros de casos de supertransmissores entre os contaminados por HIV (vírus da Aids). "No caso do HIV, sabemos que depende da carga viral, podendo ser disseminador em potencial quando ela é alta, assim como outros contaminados que chegam a manter várias relações sexuais sem passar para ninguém", exemplificou Lauro Ferreira.
Porém, com o novo coronavírus ainda não é possível afirmar que se trata de quantidade de carga viral. Não existe um exame preciso de carga viral, mas sim da presença do vírus ou dos anticorpos dele. O que se pode afirmar é que, nos casos relatados fora do Brasil, geralmente os supertransmissores são pessoas sintomáticas da Covid-19. "Tudo isso ainda é muito teórico e ainda teremos surpresas", afirma Rubia Miossi.
No Espírito Santo, o fato dos contatos de pessoas positivadas com Covid-19 não terem sido testados devido à ausência de testes suficientes no auge da pandemia, não foi possível até agora identificar supertransmissores.
"O Estado passou a testar, a partir do mês de setembro, os contatos de casos positivos de Covid-19. Ou seja, será possível verificar a rede de contatos desses pacientes e identificar os supertransmissores, mas isso depende do trabalho da Vigilância Epidemiológica", explicou a infectologista.
Segundo a epidemiologista Ethel Maciel, os testes realizados atualmente são para diagnosticar a Covid-19, mas não há um teste para que aponte com precisão que o doente deixou de transmitir. "No Brasil, fazemos quarentena de 14 dias, e depois a pessoa volta a trabalhar, a ir para a academia, a fazer as demais atividades. A Fiocruz já chegou a identificar o vírus na cavidade nasal após cinco meses do primeiro teste positivo", lembrou. Para ela, isso aumenta os riscos de um supertrasmissor continuar levando, por mais tempo, o vírus para outras pessoas.
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