Era feriado de Páscoa em abril de 2018. Marlúcia Butkovsky Loureiro e os filhos, incluindo Rainy, foram passar o feriado em Linhares, para ficar com o neto Kauã, de 6 anos. Na tarde de domingo, eles se reuniram ainda com o pequeno Joaquim, de 3 anos, e curtiram a tarde no shopping.
No final do dia, a família se despediu das crianças com muitas lágrimas. “Fui me afastando e ainda voltei o olhar, uma última vez, para eles. Ainda me recordo do olhar de despedida deles. Não sabia que aquela seria a última vez”, relata a avó, em meio a lágrimas.
Vinte dias depois, em 21 de abril, as crianças morreram queimadas em um incêndio criminoso. Elas estavam em casa com Georgeval Alves Gonçalves, padrasto de Kauã e pai biológico de Joaquim, que foi acusado pelo crime e preso ainda durante o inquérito policial.
O pequeno Kauã Salles Butkovsky era filho do primeiro casamento de Juliana Salles com o empresário Rainy Butkovsky. Ela teve outros dois filhos com Georgeval, um deles o Joaquim, de 3 anos.
Por decisão judicial, Georgeval enfrentará o júri popular em data ainda não marcada, em decorrência dos recursos por ele apresentados. Enquanto isto a família sofre com as mortes. “A saudade não passa. Meu coração espera por justiça”, desabafa a avó, que nos contou um pouco de como tem sido a sua luta para que as mortes não fiquem impunes.
Como está sendo a espera pelo julgamento do acusado pela morte do seu neto e do irmãozinho dele?
A espera tem sido lenta, muito lenta. As informações que recebo do advogado (assistente de acusação que representa a família) é de que não há muitas novidades. O processo está praticamente parado. Houve muitas trocas de advogados por parte dos acusados e ainda teve a pandemia do coronavírus. É uma morosidade que nos traz muita incerteza. Ele (Georgeval) tem que ser julgado e não agendaram nem a data do júri popular.
E a Juliana, mãe das crianças?
Houve recursos contra a decisão do Juizado de Linhares, que não a encaminhou para um Júri Popular. O Ministério Público recorreu e estamos aguardando. É outro processo que caminha a passos lentos. Meu coração de avó espera por Justiça.
Nesta quarta-feira (21), o crime completa três anos.
Três anos de saudade. Meu coração está pesado com tanto sofrimento. Fico sem palavras para descrever a dor, a perda do meu bem mais precioso, arrancado de forma tão violenta da família… (não consegue falar pela emoção). Se estivesse vivo, Kauã completaria 10 anos em 26 de outubro. Não vou vê-lo crescer, realizar seus sonhos. Esperava vê-lo se transformar em um lindo um rapaz. Ainda me lembro da sua voz, das brincadeiras. Adorava ficar com ele nas férias, sempre ficamos por perto, exceto quando a mãe foi morar em São Paulo com o Georgeval. Depois mudaram para Linhares e se esconderam atrás de uma religião. Meu coração fica ainda mais dilacerado neste momento que estamos vivendo.
Qual?
Vendo casos de tantas crianças sendo brutalmente espancadas e mortas. Casos brutais que deixam meu coração ainda mais dilacerado, como o do menino Henry. Quando vejo as imagens do Henry, andando pela casa, com o telefone nas mãos, me lembro do meu neto. Kauã gostava de fazer as mesmas coisas. Esse caso ativa a minha memória e a saudade. São situações tão absurdas.
Qual a última lembrança do seu neto?
Foi no feriado da Páscoa, em abril de 2018. Fui com meus filhos, um deles o Rainy Butkovsky, pai do Kauã, para Linhares passar o final de semana com o menino. Foi uma alegria. Na tarde de domingo conversei com a Juliana e ela falou que o Joaquim estava com saudade do irmão. Passamos na casa dela e o levamos, junto com o Kauã, para o shopping, para finalizar o domingo. Brincaram a tarde inteira. No final do dia levamos os dois para casa e nos despedimos. Fui me afastando e ainda voltei o olhar, uma última vez para eles. Ainda me recordo do olhar de despedida deles. Não sabia que aquela seria a última vez. Ficou uma saudade imensa.
O Joaquim, que era filho do Georgeval, era próximo da sua família?
Era pequenino e sempre queria vir com a gente. Ela poderia ter nos avisado que eles ficariam sozinhos com o Georgeval no final de semana seguinte. Não precisava deixá-los sozinhos com ele. A dor da perda ainda é muito grande. Não vou desistir de lutar por justiça para os meninos.
Este vídeo pode te interessar
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.