“Não consigo esquecer. Com uma toalha molhada no rosto, lembro que olhava para as chamas pedindo a Deus que poupasse a minha casa”. O desabafo é de Rose Vieira, cujo imóvel foi um dos afetados pelo incêndio em uma loja de couros na Vila Rubim, em Vitória.
Um ano após a destruição, a loja incendiada – assim como dois prédios, dois sobrados e quatro casas que fazem limite com o imóvel – seguem interditados, segundo informou a Defesa Civil de Vitória. Cerca de 70 moradores foram afetados.
Os imóveis comprometidos somente serão desinterditados, segundo a Defesa Civil, “quando o proprietário da loja incendiada realizar as intervenções necessárias”. Em relação ao retorno dos moradores aos imóveis, por se tratar de área particular, afirma que os moradores “assumem qualquer tipo de risco ao habitar as residências novamente sem liberação da Defesa Civil”.
MEDO E DESESPERO
Testemunhas informaram, na época, que as chamas começaram por volta das 15h30 e só foram debeladas por volta das 20 horas. Posteriormente a Defesa Civil de Vitória interditou 70 imóveis no entorno da loja de couros.
Uma delas foi a casa de Rose Vieira, que mora na região há 20 anos. No local ela também mantém um salão que não chegou a ser atingido. Ela estava no trabalho na hora em que o incêndio começou. “Meu marido estava em casa, acamado. Uma funcionária chegou desesperada, contando o que estava acontecendo. Tivemos que retirar, às pressas, meu marido de casa e levá-lo para a casa de uma vizinha. Foi um desespero”, conta.
A casa dela ficou interditada por mais de um mês após ter a entrada e a varanda, destruídas. “O reboco soltou, teve rachadura e parte da laje dicou destruída. Tiveram que reformar. Meu salão não foi atingido porque as paredes foram molhadas pelos bombeiros”, relata.
O marido dela não chegou a retornar para a casa. Logo depois foi internado e, em decorrência de complicações médicas, acabou morrendo. “Ainda é difícil lembrar de tudo o que vivenciamos”, conta.
A autônoma Maria Creuza Pereira lembra que mesmo após o incêndio ser apagado, muita fumaça continuou sendo liberada do local. “O cheiro era insuportável. Minha filha, que é especial, e eu tivemos muitos problemas respiratórios”, conta.
Relata ainda que os moradores da região chegaram a ficar cinco dias sem energia elétrica. “Não foi fácil. Mas meus vizinhos sofreram ainda mais. No prédio ao lado, várias pessoas perderam tudo. Até hoje está vazio”, relata.
CAUSA INDETERMINADA
Em janeiro deste ano o Corpo de Bombeiros encerrou a elaboração do laudo pericial. A causa do incêndio foi apontada como "indeterminada". Por nota, a corporação afirmou que a área apontada como "foco inicial", onde surgiu o incêndio, foi completamente destruída pela ação do calor, o que impossibilitou que a equipe de peritos identificasse com precisão a causa de origem do incêndio.
"Todos os trabalhos, com uso de tecnologia, inclusive drones e softwares especiais, foi realizado. Para tanto, os peritos de comum acordo decidiram por causa indeterminada", diz o final da nota, divulgada em janeiro deste ano
LOJA NÃO TINHA ALVARÁ
A loja de couros e tecidos, onde ocorreu o incêndio, não tinha alvará de funcionamento do Corpo de Bombeiros. A informação foi confirmada à época pelo tenente-coronel Carlos Wagner Borges. O local estava sem o documento desde 2017.
Questionado se esse tipo de estabelecimento precisa de autorização especial para armazenar o material, ele explicou: "Não tem autorização especial, mas precisa cumprir tudo aquilo que o Corpo de Bombeiros determina para que venha ter o alvará. São várias exigências como, por exemplo, rota de fuga, extintores de incêndio. Dependendo do tamanho da loja, sistema hidráulico preventivo. Essa loja não tinha o alvará desde setembro de 2017", detalhou.
LOJA FAZ ACORDOS E REFORMA IMÓVEIS
A advogada Ingrid Tassar, que representa a Loja Alves Couros, informou que desde o incêndio “a empresa vem tentando dirimir o sofrimento de todos os moradores que tiveram as suas casas afetadas”.
A representante jurídica do estabelecimento afirma que alguns imóveis já foram reformados e entregues. Outros dependem da burocracia do município para a liberação dos documentos. Ela destaca ainda que houve atrasos no processo de reforma de algumas unidades em decorrência da pandemia do novo coronavírus.
“O laudo não apontou uma causa para o incêndio. Mas a empresa, mesmo com os prejuízos elevados, tentou ao máximo fazer acordos com os proprietários. E ainda estamos abertos a qualquer diálogo”, informa.
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