Sair de casa sem máscara, voltar a se reunir sem medo de aglomeração e poder abraçar os familiares e amigos sem peso na consciência. Essa é a expectativa alimentada até tomarmos a vacina contra a Covid-19, certo? Na verdade, especialistas alertam que esses cuidados precisam ser mantidos mesmo após a aplicação do imunizante.
Em duas semanas o organismo reage e desenvolve anticorpos numa quantidade suficiente para se proteger. No caso da vacina da Covid-19, uma parte das pessoas já vai ter anticorpos a partir da primeira dose. Como a maioria usa esquema de duas doses, é preciso aguardar 15 dias mantendo o distanciamento e usando máscara."
A orientação é do professor de Epidemiologia da USP, Expedito Luna. Ele reforça que as medidas de higiene pessoal, como a lavagem das mãos com água e sabão ou álcool 70%, são importantes porque a transmissão ou reinfecção do novo coronavírus podem ocorrer enquanto o corpo ainda aprende a se defender do vírus.
Daniel Oliveira Gomes é imunologista, professor e pesquisador da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Ele explica que a vacina mimetiza um processo de infecção. De maneira artificial, induz os processos imunológicos do indivíduo e a imunidade contra os agentes infecciosos.
As quatro vacinas que já tiveram a eficácia comprovada Pfizer, Moderna, Oxford/AstraZeneca e a Sputnik V exigem aplicação de duas doses. Isso vale também para a Coronavac, que está em desenvolvimento pelo Instituto Butantan, de São Paulo, em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac.
Neste caso, a orientação será tomar a primeira dose e retornar ao posto de vacinação, conforme orientações do governo federal. O intervalo entre uma aplicação e outra pode variar entre as diferentes vacinas. Os cientistas alertam que a eficácia do medicamento está diretamente relacionada à aplicação das duas doses.
De maneira geral, a depender do tipo de vacina e da doença, um imunizante funciona introduzindo no organismo humano um antígeno uma partícula que induz o corpo a produzir uma reposta imunológica, fazendo com que ele se prepare para enfrentar uma infecção caso entre em contato com o vírus.
Nas composições das vacinas, os cientistas podem adotar diferentes técnicas: quando um antígeno tende a ser um vírus morto (inativo); um vírus inativo incapaz de adoecer alguém; pode ser um pedaço do vírus; alguma proteína que se assemelhe ao vírus; ou até mesmo um ácido nucléico (como a vacina da RNA).
Segundo Daniel, o sistema imunológico tem capacidade de lembrar de patógenos, de micro-organismos ou até mesmo de componentes desses micro-organismos em momentos posteriores ao encontro primário. Em geral, a chamada resposta imunológica acontece cerca de 15 dias após o primeiro contato.
Após a primeira dose da vacina, daria uns 15 dias para que eu tenha células capazes de atuar contra esse micro-organismo. Tendo as células de memória, toda vez que eu entrar em contato subsequente com esse micro-organismo, a resposta acontece em um período mais curto. Assim, a segunda dose produziria mais anticorpos capazes de enfrentar o vírus, enfatiza Daniel.
Nesta quarta-feira (16) o governo federal apresentou o Plano Nacional de Operacionalização da Vacina contra a Covid-19. O documento prevê quatro fases de vacinação para grupos prioritários. As três primeiras devem imunizar 49,65 milhões de pessoas.
Não há data definida para início da aplicação dos imunizantes, mas o governo, no entanto, prevê que a campanha será iniciada cinco dias após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizar o uso emergencial do medicamento.
O Ministério da Saúde afirma já negociar cerca de 350 milhões de doses de vacinas para 2021, sendo que a imunização deve exigir duas aplicações em cada pessoa.
Na etapa inicial, a proposta é usar doses da vacina de Oxford/AstraZeneca, além de aplicar a da Pfizer em profissionais de saúde de capitais e regiões metropolitanas que atuaram na pandemia. A expectativa é receber 2 milhões de doses da Pfizer no primeiro trimestre de 2021.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), existem 52 vacinas Covid-19 candidatas em fase de pesquisa clínica e 162 candidatas em fase pré-clínica de pesquisa.
Das vacinas candidatas em estudos clínicos, há 13 em ensaios clínicos fase 3 (testes em humanos) para avaliação de eficácia e segurança, a última etapa antes da aprovação pelas agências reguladoras e posterior imunização da população.
Quatro compostos estão sendo testados no país: o produzido pela farmacêutica americana Pfizer em parceria com a alemã BioNTech; a vacina da AstraZeneca, desenvolvida na Universidade de Oxford; a chinesa Coronavac, feita em parceria entre o Instituto Butantan com a chinesa Sinovac; além da Janssen-Cilag, da Johnson & Johnson.
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