Quando o ano se aproxima do fim, muitos gostam de refletir sobre os dias que se passaram, o que fizeram ou deixaram de fazer e até traçar planos para os 12 meses seguintes. Para outros, revisitar o passado recente pode ter um sentido ainda maior: representa conquistas, desafios vencidos, períodos de angústia deixados para trás. São histórias de superação que ajudam a ressignificar momentos, renovar a fé e inspirar outras pessoas.
A jornalista Jennifer Trindade Pacheco já começou 2022 com um misto de sentimentos. Descobriu-se grávida pela segunda vez, mas sem planejar. Ela tinha acabado de vivenciar com o primogênito, Raul, hoje com 2 anos, um período de batalha pela vida dele, que nasceu com uma malformação e teve complicações ao ser internado para uma cirurgia. Para Jennifer, Raul seria filho único.
No primeiro semestre do ano, a gestação da jornalista avançou, porém houve intercorrências de saúde, e Elis nasceu prematura, em 5 de julho, um mês antes do previsto. Ela passou pela UTI Neonatal, mas sem complicações, e logo teve alta. Jennifer, então, imaginou que não teria com a caçula a mesma angústia de internações hospitalares como a que passou com Raul.
Até que em outubro, quando seguia para o Rio de Janeiro com o filho para ele realizar uma nova cirurgia no Hospital da Criança, Elis ficou doente. Foi internada com quadro de bronquiolite que rapidamente evoluiu para pneumonia. De longe, Jennifer ouvia dos familiares o que não queria: a menina foi internada na UTI e precisava de auxílio de oxigênio para respirar. "Ela ficou bem grave, teve atelectasia (mancha) no pulmão, ficou com uma cicatriz", lembra.
As preocupações de Jennifer eram dobradas: Raul passando por um procedimento importante para reconstrução da uretra, enquanto Elis seguia internada. Mas chegou o momento em que a apreensão deu lugar à esperança de que tudo terminaria bem. A cirurgia do filho foi bem-sucedida e a jornalista pôde voltar para o Espírito Santo. Ela retornou em um sábado e, na terça seguinte, a caçula teve alta.
Para ela, 2022 foi mais um ano de superação.
Jennifer Trindade Pacheco
Jornalista
"Acho que tudo serve para ressignificar tanta coisa! Meus filhos me trouxeram mais empatia pelo próximo; a gente aprende com a dor e a alegria do outro."
Jennifer conta que renova seu ânimo diariamente ao ver os filhos com saúde. Raul, que corre pela casa e a deixa de "cabelo em pé", apesar dos prognósticos de que poderia ter sequelas neurológicas e motoras, e Elis, ainda bebê, mas já resistente às adversidades. "Eles são duas potências, que não reencarnaram à toa, passaram por muito e nos ensinam bastante", analisa.
Conquistas
As histórias de superação também passam por esforço e dedicação para realizar um sonho. É o caso da percussionista Bruna Leite, de 20 anos, primeira musicista da família.
O interesse pela música começou na adolescência, cantando na igreja, e o desejo de se tornar profissional ganhou força quando ingressou em um projeto social, no bairro Flexal, em Cariacica, há quatro anos. Com um bom desempenho logo que entrou, Bruna foi incentivada a participar da seleção do Vale Música — uma iniciativa sociocultural da Vale que oferece oportunidades de formação musical — e foi admitida.
Desde então, se dedicou a estudar e batalhar por espaço no cenário musical. E 2022 foi, até agora, o seu grande ano: concluiu a formação técnica na Faculdade de Música do Espírito Santo (Fames), tocou em duas edições do Festival de Jazz Marien Calixte, acompanhando artistas do renome de Pedro Alcântara e Chico Chagas, teve participação em apresentação da Orquestra Sinfônica do Espírito Santo (Oses) e, no início de dezembro, fez residência artística com a Orquestra Sinfônica do Rio de Janeiro.
Bruna Leite
Percussionista
"Eu tenho sonho de ser percussionista orquestral. Então, essas participações em orquestras são uma realização para mim. Este ano está marcado pelas conquistas"
Bruna ainda está fazendo graduação na Fames e foi convidada para integrar a filarmônica de mulheres do Estado.
Carteira assinada
Para Camila Ribeiro da Costa, também de 20 anos, o sonho era outro: ingressar no mercado formal e ter a carteira assinada. Desde os 16, a jovem já trabalhava, mas foi somente agora, em 2022, que conseguiu uma oportunidade com jornada regular e salário garantido no fim do mês.
Ela já havia atuado em várias áreas, sempre na informalidade e, com a pandemia da Covid-19, a situação se agravou. "Fiquei bastante tempo desempregada, às vezes arrumava uns bicos, em outras não tinha renda nenhuma", conta a jovem, que é mãe de uma menina de seis anos e está à espera de outra, com parto previsto para janeiro.
Camila é auxiliar de serviços gerais em uma empresa da área de logística, na qual ingressou no início do ano. No trabalho anterior, em um trailer de venda de tapiocas, foi vista por um colega que, ao observar as condições difíceis em que se encontrava, disse que havia vaga no local que é hoje seu empregador. Ela passou por uma seleção e foi contratada.
Camila Ribeiro da Costa
Auxiliar de serviços gerais
"Foi a melhor coisa que me aconteceu. Está muito difícil arrumar trabalho de carteira assinada e não falo só por mim. Saber que tenho salário fixo, que consigo pagar minhas contas, é a melhor coisa"
Primeira loja
A realização profissional foi também o grande desafio para Jhenyffer Dias Monteiro neste ano. Após deixar um cargo de técnica em metalurgia numa multinacional para se dedicar à filha mais velha devido a um problema de saúde, ela passou nove anos dividida entre os cuidados da casa e os da família.
"Eu parei por necessidade. Eu gosto de cuidar da casa, da maternidade, mas, em meio a essas funções domésticas, a gente perde um pouco da identidade, porque se mistura tanto com a rotina e a gente acaba ficando em segundo plano. E eu sempre gostei de estudar, de trabalhar", pontua.
Com o nascimento da terceira filha, que fez 2 anos agora em dezembro, veio junto a necessidade de aumentar a renda familiar, e Jhenyffer enxergou que era o momento de voltar ao mercado de trabalho. Então, fez pesquisas, estudou e decidiu investir na produção de donuts (bolo em forma de rosca, popular nos Estados Unidos).
"Até então, eu nunca tinha pensado em trabalhar no ramo de alimentos, porque exige muito preparo e qualificação. Mas eu tenho um dom, facilidade para cozinhar e resolvi entrar na área", conta Jhenyffer, acrescentando que fez cursos no Sebrae e no Senac para poder empreender.
No começo, as vendas começaram por contatos via aplicativo de mensagem. Depois, abriu um perfil profissional em rede social. Em janeiro deste ano, com o aumento da demanda, Jhenyffer passou a participar de feiras promovidas pela Aderes para divulgar seus produtos. Nesses eventos, percebeu que o público ficava impactado com a vitrine de doces, o que não ocorria no dia a dia porque seu trabalho, até então, era por delivery (entrega).
Assim, com a procura crescente por seus doces, a empreendedora decidiu abrir uma loja em 2022 e ela viu nascer a primeira unidade da Jheny Donuts, um espaço em Laranjeiras, na Serra, em que recebe os clientes fiéis, de onde também partem as entregas e, ainda, emprega três pessoas.
Jhenyffer Dias Monteiro
Empresária
"Eu me seguro para não chorar. Trabalho tanto que não tenho nem tempo de me emocionar. Mas estou muito feliz. É muito gratificante ver a alegria das pessoas ao comerem meus produtos, que me dedico tanto a fazer. Brilham os olhos por ser reconhecida pelo meu trabalho"
Enfrentar desafios, superar obstáculos, realizar sonhos. O ano de 2022 está chegando ao fim, mas 2023 está logo aí, para novas histórias.
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