No final de 2019, o mundo foi surpreendido com o surgimento de uma pneumonia misteriosa, que estava afetando pessoas na cidade chinesa de Wuhan, na província de Hubei. No último dia daquele ano, a Organização Mundial de Saúde (OMS) emitiu o primeiro alerta sobre a doença que mais tarde recebeu o nome de Covid-19 e que rapidamente se espalhou pelo mundo, tirando a vida de milhões de pessoas, impactando os sistemas de saúde e a economia de estados e países.
Um ano depois o Espírito Santo já registrou quase 250 mil casos confirmados da doença e mais de 5 mil pessoas perderam a vida para a doença. Embora alguns países já tenham iniciado a vacinação contra a Covid-19, ela ainda não está disponível no Brasil, e a única alternativa para evitar o contágio, por enquanto, tem sido os cuidados sanitários: uso de máscara, higienização das mãos e distanciamento social.
Confira abaixo um pouco das acontecimentos mais marcantes no Espírito Santo e no mundo:
Segundo o jornal "South China Morning Post", de Hong Kong, o primeiro caso da Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus (SRA-CoV-2), pode ter ocorrido no dia 17 de novembro do ano passado. A reportagem se baseia em dados do governo. Foi na província de Hubei, foco do surto, que uma pessoa de 55 anos teria contraído a doença.
Declarações oficiais do governo chinês à Organização Mundial da Saúde (OMS) informam 8 de dezembro como a data em que surgiram os primeiros casos com sintomas da doença que mais tarde foram diagnosticados com Covid-19. No dia 30, a Comissão Municipal de Saúde de Wuhan, capital de Hubei, notifica os hospitais locais sobre uma pneumonia de causa desconhecida e pede que eles informem casos com sintomas semelhantes observados na semana anterior.
No dia 31 de dezembro, a OMS emite o primeiro alerta da doença após autoridades chinesas notificarem casos de uma misteriosa pneumonia na cidade de Wuhan. No mundo as máscaras são incorporadas ao vestuário da população.
No início do mês, o Laboratório de Xangai detecta um coronavírus similar à Sars (Síndrome respiratória aguda grave). A OMS relata que as autoridades chinesas determinaram que o surto é causado por um novo coronavírus e é confirmada a transmissão do vírus de pessoa para pessoa.
A cidade de Wuhan é colocada em quarentena. Pelo menos 17 pessoas haviam morrido nesta data, segundo o governo chinês, e mais de 570 casos haviam sido identificados, dentro e fora da China. A OMS declara o surto como uma emergência internacional de saúde.
Neste mês, foi ainda registrado o primeiro caso da doença fora da China. Tratava-se de uma pessoa que havia viajado de Wuhan para a Tailândia. Logo em seguida outro caso é identificado nos Estados Unidos, de um viajante que retornava da mesma cidade chinesa. No dia 11, foi registrada a primeira morte pelo vírus: um homem de 61 anos faleceu em Wuhan.
Impacto no ES
Muito antes das medidas restritivas começarem a ser adotadas no Espírito Santo, ou até mesmo do registro dos primeiros casos, a economia capixaba já sentia os impactos dos desdobramentos causados pelo novo coronavírus, como relata Pablo Lira, diretor de Integração e Projetos Especiais do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN).
Ele explica que o Espírito Santo é um dos estados com maior grau de abertura econômica - relação exportação-importação. E tem como principais parceiros econômicos a China, os Estados Unidos e a Europa, os três epicentros da Covid naquele momento. Não sofremos impactos em dezembro, mas no decorrer das medidas restritivas impostas naqueles países, a nossa balança comercial foi impactada, relata.
A primeira morte fora da China é confirmada. Tratava-se de um homem de 44 anos que morreu nas Filipinas. No dia 3, o Brasil declara Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN). Chegam ao país os 34 brasileiros repatriados que viviam na cidade chinesa de Wuhan.
No dia 11, a doença causada pelo novo coronavírus é batizada de Covid-19 (Coronavirus Disease 2019). O nome, segundo a OMS, foi escolhido para evitar imprecisões e estigmas e, portanto, não se referia a uma localização geográfica, um animal, um indivíduo ou grupo de pessoas.
No dia 26, o primeiro caso de Covid-19 é confirmado no Brasil, em São Paulo. O homem de 61 anos tinha viajado para a Itália. O segundo caso foi confirmado em 29 de fevereiro. O paciente, um morador de São Paulo de 32 anos, também tinha acabado de chegar da Itália. Foi ainda um mês crítico de disseminação do coronavírus pelo mundo: na Europa, os números cresceram e a Itália se tornou o país mais afetado.
Caso confirmado no ES
A informação correta do Painel Covid-19 é de que o primeiro caso confirmado de coronavírus no Espírito Santo foi no dia 26 de fevereiro, a quarta-feira de Cinzas, de uma mulher de Vila Velha que havia retornado de viagem para a Itália, onde contraiu o vírus, no dia 20 do mesmo mês. Mas chegou a ser cogitada a existência de um caso no dia 15 de fevereiro.
No dia 11, a OMS reconhece que há uma pandemia do novo coronavírus. Na data, haviam sido registrados 118 mil casos, em 114 países, com 4.291 mortes. No dia seguinte ocorre a primeira morte por coronavírus no Brasil. A paciente, uma mulher de 57 anos, havia sido internada em um hospital de São Paulo no dia anterior.
O Ministério da Saúde só confirmou que essa foi a primeira morte causada pela Covid-19 em território brasileiro meses depois, em 28 de junho. Até então, acreditava-se que o primeiro óbito causado pela doença no Brasil tinha ocorrido em 16 de março, também em São Paulo.
Donald Trump, presidente dos EUA, declara emergência nacional no país. O Ministério da Saúde do Brasil declarou reconhecimento de transmissão comunitária. Já os italianos passaram a viver no epicentro da doença: até o fim daquele mês, mais de 10 mil mortes tinham sido confirmadas.
Restrições no ES
No dia 17, o governador Renato Casagrande anuncia a suspensão das aulas presenciais nas redes pública e privada de ensino. O número de infectados chegava a oito, segundo a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa).
As restrições também atingiram atividades econômicas não essenciais, houve proibição de eventos festivos e redução de voos. Antes de se chegar ao estágio comunitário, foi necessário adotar medidas não farmacológicas para ampliar o distanciamento. Nossa taxa de transmissão era de 3,4, com dez pessoas contagiando outras 34. O percentual de recuperados da doença, que ajudariam a bloquear o contágio, era mínimo. As medidas adotadas, por necessidade, impactaram a nossa economia, relata Pablo Lira, diretor de Integração e Projetos Especiais do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN).
O Fundo Monetário Internacional alerta que a economia global terá seu pior ano desde a Grande Depressão de 1929. Segundo o Ministério da Economia, o país fechou 1,1 milhão de vagas de emprego entre março e abril. A expectativa para muitas famílias passou a ser o auxílio emergencial de R$ 600, lançado em abril pelo governo federal.
Em paralelo, a crise no Ministério da Saúde com o presidente Jair Bolsonaro se agrava e a exoneração do então ministro Henrique Mandetta é anunciada. No lugar, foi nomeado Nelson Teich, que também foi exonerado um mês depois.
Em maio, a Universidade de Oxford inicia testes de uma vacina contra Covid-19 em grande escala. E a cidade chinesa epicentro da pandemia, Wuhan, sai do lockdown.
Ampliação de leitos no ES
O registro da primeira morte por coronavírus no Estado é de 1º de abril. E com o crescimento exponencial da doença, o governo do Espírito Santo começa um programa de expansão da capacidade hospitalar na rede pública. A preocupação é com a garantia de leitos de UTI, além do atendimento oferecido em enfermarias. Os hospitais já contavam com 70% de ocupação de suas UTIs.
No mesmo período, se acentua a disputa pela compra de respiradores para garantir o oferecimento de leitos de UTI. Gestora do Hospital Dr. Jayme dos Santos Neves, na Serra, recorre à Justiça para garantir a entrega dos equipamentos, que chegam ao Estado escoltados pela polícia.
No final de abril, o governo estadual começa a divulgar o Mapa de Risco das cidades capixabas, definido a partir de alguns critérios, como: a taxa de letalidade do novo coronavírus, o índice de isolamento dos moradores, a quantidade de idosos em cada município, além da a taxa de ocupação dos leitos de UTI e o coeficiente de incidência (proporção de contaminados em relação à população). Juntos definem se uma cidade está em risco baixo, moderado, alto ou extremo de transmissão do novo coronavírus.
Em maio, os estados do Pará e do Amazonas enfrentam o colapso em seus sistemas de saúde com o aumento de internações e mortes causadas pela Covid-19, situação que nas semanas seguintes passa a ser enfrentada por outros estados. Foi o mês ainda em que o Brasil ultrapassou a China com mais mortes pela doença. Em 9 de maio, o país alcança a marca de 10 mil mortos.
A discussão sobre o uso da cloroquina se intensifica e é defendida pelo presidente Jair Bolsonaro, mesmo sem a comprovação científica. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o uso deste tipo de medicamento causa mais efeitos colaterais do que benefícios. A entidade recomenda que o uso seja restrito a ensaios clínicos.
No início de junho, algumas cidades brasileiras começam a flexibilizar as medidas restritivas, apesar da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) recomendar cautela. No mesmo período, brasileiros começam a testar a vacina da Universidade de Oxford, na Inglaterra.
Começa a crise nos relatórios governamentais, que decide promover mudanças nos dados estatítiscos. Veículos de imprensa se reúnem e passam a divulgar os dados da pandemia.
Pico de transmissão no ES
No Estado, hospitais públicos foram destinados ao tratamento exclusivo da Covid-19, com a suspensão de tratamentos, consultas e cirurgias eletivas. Chegamos a 1.500 leitos na rede pública para tratamento de pacientes com a Covid. Não houve falta de leitos. Mas o aumento de casos e as medidas restritivas geraram impactos na economia, explica Pablo Lira.
Houve também uma pressão grande junto ao governo para a construção de hospitais de campanha, semelhante ao que ocorria em outros estados. Mas a nossa opção foi por investir na rede pública, criando novos leitos. O que foi uma boa estratégia, que deixou um legado para a saúde pública do Estado, acrescenta Pablo.
Em maio, o governo lançou o Painel Covid-19, ferramenta da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) com dados estatísticos da doença, além de informações sobre isolamento social, leitos de UTI, dentre outras. Em junho, o Estado começou a ampliar a testagem para a doença, com agentes de saúde indo nas casas.
Em julho, os EUA enviam carta à OMS anunciando a saída do país da organização. O presidente Jair Bolsonaro testa positivo para a Covid-19. Ainda neste mês, teste de uma vacina contra a Covid-19, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac, começa a ser feito no Brasil.
Em agosto, o Brasil alcança os 100 mil mortos pela Covid-19. No mundo, começam os testes com outras vacinas, como a da AstraZeneca, Coronavac, Johnson & Johnsonss e Sputnik V.
Já em setembro, a segunda onda da doença alcança a Europa, com o aumento do número de casos e de mortes. No Brasil, o general do Exército Eduardo Pazuello, que comandava o Ministério da Saúde interinamente, assumiu a pasta de forma oficial.
Queda de casos no ES
A partir de agosto, o Espírito Santo começa a registrar uma queda no número de casos confirmados da doença e ainda de óbitos.
Com o passar do tempo, assinala Pablo Lira, o tratamento da doença evoluiu. Os profissionais de saúde aprenderam com a doença. Isto, aliado a evolução dos tratamentos, com a criação de mais leitos, e ainda das medidas restritivas, permitiu a preservação de mais vidas preservando vida, explica.
O governo estadual começou a liberar algumas medidas restritivas, permitindo a retomada de algumas atividades econômicas. Começamos a observar o crescimento do comércio, dos serviços. O PIB do 3º trimestre (10,3), em comparação com o do 2º semestre, apresentou crescimento maior do que a média brasileira (7,7), o que indica que estamos apresentando recuperação econômica, explica.
Enquanto o país registrava uma queda no número de casos e de mortes, aumentam as discussões em torno da vacina contra a doença. Em novembro, logo após vários períodos de feriados e as eleições, o Brasil volta a registra um crescimento no número de casos e mortes pela doença.
O ano chega ao fim com a informação de que o Brasil irá comprar vacinas, mas sem que a Anvisa tenha autorizado nenhum dos imunizantes já disponíveis no mercado internacional.
Países como Inglaterra, Rússia e EUA já iniciaram as suas campanhas. No Brasil foi liberado apenas o plano de vacinação que prevê quatro etapas e produção de imunizantes em território nacional. Além disso, motivados pelo aumento de casos, os estados voltam a traçar estratégias de isolamento social.
Em paralelo, ganham destaque as informações sobre as novas mutações do coronavírus. O assunto já vinha sendo discutido desde setembro e alguns países chegaram a promover a matança de milhares de animais, como o vison, para evitar que algumas variantes do vírus se espalhassem.
Segunda fase da pandemia no ES
A partir de outubro, logo após uma sequência de feriados e das eleições, o número de casos e mortes da doença, que chegou ao menor patamar em outubro (293 mortes no mês), volta a apresentar crescimento. Em novembro, foram registradas 458 óbitos e em dezembro já chegamos a 706. O Estado chegou nesta terça-feira (29) aos 5.031 mortos pela doença.
Segundo Pablo Lira, o segundo pico da pandemia não tem sido tão intenso quanto foi a primeira fase. Há um avanço nas atividades econômicas, principalmente nos ambientes em que é possível fazer a prevenção da transmissão da doença com uso da máscara, distanciamento físico e higienização das mãos.
Porém, segundo Lira, há segmentos que não são tão propícios ao controle das medidas sanitárias, como bares, restaurantes e ambientes festivos. Principalmente nesta fase de final do ano, período de comemorações, quando é importante redobrar os cuidados, assinala.
A preocupação com o aumento dos casos levou o governo estadual a suspender a realização de festas públicas, como as tradicionais queimas de fogos, e eventos de final de ano. O objetivo é evitar a aglomeração para tentar evitar um aumento do número de casos da doença.
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