Era apenas mais um dia de trabalho que chegava ao fim. Ao lado de uma amiga, Milena Gottardi deixava o plantão no Hospital Universitário Cassiano Antônio de Morais (Hucam), em Vitória, onde atuava como hematologista. Por alguns minutos parou em uma calçada, para um bate-papo, próximo a um poste. Era 14 de setembro de 2017 e aqueles foram os últimos momentos de vida da médica, que pouco depois foi baleada e teve sua morte declarada no dia seguinte.
O vídeo foi divulgado pela Polícia Civil em 18 de outubro de 2017, quando o inquérito que apurava o crime foi concluído. Nas imagens é possível ver que um carro passa pelo local. Nele estavam Valcir da Silva Dias e Hermenegildo Palauro Filho, o Judinho. É o momento, segundo as investigações, que a dupla mostrava ao executor, Dionathas Alves Vieira, quem era a médica que seria morta. Logo depois, eles deixam o hospital.
Milena então segue para o estacionamento com a amiga, e lá encontra Dionathas, que em um assalto simulado atira na médica e foge do local, em uma moto. O socorro é prestado pela amiga, também médica. Confira o vídeo:
MÉDICA ATUAVA EM DOIS HOSPITAIS PÚBLICOS
De acordo com a família, Milena fez três residências médicas — pediatria, hematologia e oncologia — e atuava em dois hospitais públicos, o Hucam e o Hospital Infantil de Vitória, atendendo crianças que lutavam contra o câncer. Também realizava trabalhos voluntários para a Associação Feminina de Educação e Combate ao Câncer (Afecc).
Em São Paulo, ela fez residência no Instituto de Tratamento do Câncer Infantil de São Paulo (Itaci). “Ela fez muitos contatos e conseguia encaminhar vários pacientes para o Itaci, para tratamentos que só tinha lá”, conta Shintia Gottardi, prima da médica.
Lembra ainda que Milena tinha muito apego aos pacientes. “Era uma pessoa muito humana, que adorava o trabalho, que chorava junto ou comemorava as conquistas dos pacientes. Vivia tudo com eles. Não deixava transparecer aos pacientes ou para as filhas as dificuldades que estava enfrentando”, recorda a prima.
CRIME E JULGAMENTO
Seis pessoas foram apontadas como as responsáveis pelo assassinato da médica, entre elas o ex-marido de MIlena, Hilário Frasson, hoje um ex-policial civil. Todos começaram a ser julgados na segunda-feira (23), no Fórum Criminal de Vitória.
MPES: “COM ELA MORREU A ESPERANÇA DE VÁRIAS FAMÍLIAS”
O promotor Leonardo Augusto de Andrade Cezar dos Santos, um dos três que acompanham o caso, destaca que junto com Milena morreu a esperança de várias famílias de crianças com câncer por ela tratadas. “É um impacto para além da família da vítima. A maldade que consta nos autos é de desacreditar qualquer pessoa, pelo menosprezo com a vida humana”, destaca.
A expectativa do Ministério Público do Espírito Santo (MPES) é de que será feita Justiça no júri popular dos seis acusados pelo assassinato da médica. “A sociedade de Vitória foi muito afetada com a morte de uma pessoa tão boa. Neste julgamento vai ser demonstrado a concretização do mal que foi praticado”, assinala o promotor.
A EXPECTATIVA DO ASSISTENTE DE ACUSAÇÃO
Renan Sales, que atua no processo como assistente de acusação, representando a família da vítima, destaca que não há dúvidas sobre a condenação dos réus. “Todas a prova produzida ao longo do processo não deixa dúvidas de que os seis réus foram os responsáveis pelo feminicídio que vitimou a médica Milena Gottardi”, atesta. Confira o vídeo:
DEFESA DOS RÉUS
O advogado Leonardo Gagno, que realiza a defesa de Hilário Frasson, informa que apesar das graves acusações e da complexidade do processo está confiante que a Justiça será realizada. “Durante o júri, a defesa terá a oportunidade de apresentar provas importantes, aclarar os fatos e demonstrar que a imagem do Hilário foi distorcida pela acusação.”
Leonardo da Rocha de Souza, que faz as defesas de Dionathas e Bruno, fez uma última visita aos réus na sexta-feira (20) para conversa e orientação.
Rocha relata que, em relação a Bruno, a expectativa será a sua absolvição. “Será o nosso grande desafio. Ele está muito angustiado e espero provar a sua inocência e que a Justiça seja feita em relação a ele”, destaca.
Já Dionathas, réu confesso, quer prestar os esclarecimentos. “Espero que ele tenha tranquilidade para esclarecer todos os fatos”, pontua Rocha.
Alexandre Lyra Trancoso, que realiza a defesa de Valcir, assinala que ele não participou do crime. “Queremos reverter a situação. Entendemos que ele não atuou como intermediário do crime."
Os advogados Davi Pascoal Miranda e David Marlon Oliveira Passos, que fazem as defesas de Esperidião e Hermenegildo, respectivamente, não foram localizados. Assim que a reportagem conseguir o contato, esta matéria será atualizada com as informações deles.
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