O falcoeiro é fundamental no treinamento e êxito do animal no trabalho de afugentamento de outras aves
O falcoeiro é fundamental no treinamento e êxito do animal no trabalho de afugentamento de outras aves. Crédito: Ricardo Medeiros

Abu Dhabi e Malala: as aves que garantem a segurança dos voos no Aeroporto de Vitória

Três espécies de aves de rapina se revezam no afugentamento de outros pássaros que colocam em risco a operação no terminal

Tempo de leitura: 6min
Vitória / Rede Gazeta
Publicado em 02/01/2021 às 15h34
Atualizado em 19/01/2023 às 18h28

Para que um avião decole ou pouse em segurança em um aeroporto é necessária uma combinação de fatores que vai muito além das condições meteorológicas ou o controle de tráfego aéreo. A fase de aproximação e decolagem são dois dos momentos que mais envolvem riscos à aviação comercial, e um dos motivos que podem causar um acidente ou até mesmo atrasar um voo, é a presença de animais na pista ou no entorno dela, especialmente aves.

Em novembro, o maior avião já produzido no mundo, um Antonov An-124, precisou realizar um pouso de emergência no Aeroporto de Novosibirsk, na Rússia, depois que pássaros atingiram a aeronave em voo, danificando uma das turbinas e também a fuselagem. Ao tocar a pista, o trem de pouso dianteiro colapsou, já que o cargueiro ultrapassou o limite da mesma.

Para que o "bird strike" (colisão com ave) não ocorra no Aeroporto de Vitória, funcionários trabalham diuturnamente em todas as áreas do sítio aeroportuário da capital capixaba. Por mais contraditório que possa parecer, quem garante que os aviões operem em segurança são justamente as aves, mais especificamente três espécies classificadas como de rapina. A reportagem de A GAZETA foi ao terminal para conhecer como esse trabalho é desenvolvido. Confira abaixo:

Desde 2011, o Aeroporto de Vitória conta com gaviões e falcões que afugentam pássaros que habitam a região. Com a modernização e a operação do novo terminal, o volume de voos aumentou e foi preciso também aumentar o "quadro de funcionários". No começo desse ano, a empresa que administra o aeroporto capixaba trouxe dois falcões-sacre, que se juntaram à dupla de falcões-de-coleira e também aos três gaviões-asa-de-telha, totalizando sete aves que se revezam no trabalho.

MATRÍCULA 001

Para que uma animal trabalhe no afugentamento de outras espécies, é necessário muito treinamento e condicionamento. É por meio da falcoaria, que consiste em criar, treinar e cuidar de falcões e outras aves de rapina, que o trabalho é desenvolvido. E um dos mais efetivos no Aeroporto de Vitória é o falcão "Abu Dhabi". Primeiro animal desta espécie nascido em cativeiro na América Latina, ele recebeu a matrícula 001 e há meses espanta efetivamente outras aves. O trabalho dele é dividido com "Malala", fêmea da mesma espécie e que recebeu esse nome em homenagem à ativista paquistanesa, ganhadora do Nobel da Paz.

Há mais de 10 anos trabalhando com aves no Aeroporto de Vitória, a bióloga Juliana Peres é uma das pessoas que cuidam do casal de falcões e dos outros bichos. Ela destaca que, sem a presença delas, a operação de aeronaves no terminal seria mais perigoso, visto a incidência elevada de pássaros no sítio aeroportuário.

Aves de rapina fazem trabalho essencial à segurança dos voos no Aeroporto de Vitória

Aeroporto
Três espécies de aves de rapina atuam no aeroporto: o falcão-sacre, o falcão-de-coleira e o gavião-asa-de-telha . Ricardo Medeiros
Aeroporto
Abu Dhabi e Malala são as aquisições mais recentes do Aeroporto de Vitória . Ricardo Medeiros
Aeroporto
A bióloga Juliana Peres é uma das responsáveis por cuidar das sete aves de rapina do Aeroporto de Vitória. Ricardo Medeiros
Aeroporto
As aves trabalham principalmente nas imediações da pista do Aeroporto de Vitória. Ricardo Medeiros
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Um exemplar da capacidade de Abu Dhabi chega a custar até R$ 12 mil em um cativeiro autorizado. Ricardo Medeiros
Aeroporto
O trabalho do falcoeiro é fundamental no treinamento e êxito do animal no trabalho de afugentamento de outras aves. Ricardo Medeiros
Aeroporto
Abu Dhabi é o primeiro falcão-sacre nascido em cativeiro na América Latina e tem matrícula 001. Ricardo Medeiros
Aeroporto
Os falcões-sacre usam esse capuz para mão se estressarem antes de voarem. Ricardo Medeiros
Aeroporto
Malala, é um falcão-sacre e tem capacidade para afugentar aves de até dois quilos. Ricardo Medeiros
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A falcoaria é utilizada no Aeroporto de Vitória desde o ano de 2011 e garante mais segurança operacional no terminal. Ricardo Medeiros
Aeroporto
Após trabalhar e se alimentar, a ave retorna para o controle do falcoeiro. Ricardo Medeiros
Aeroporto de Vitória
Para lidar com aves de rapinas, é preciso ter um aparato próprio para a segurança dos pássaros e falcoeiros. Ricardo Medeiros
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Os objetos da falcoaria usados nas aves são confeccionados manualmente. Ricardo Medeiros
Aeroporto
Após o trabalho... a recompensa. Abu Dhabi se alimenta da presa colocada no lure fly. Ricardo Medeiros
Aeroporto
A alimentação das aves é controlada diariamente e monitorada por biólogos e veterinários. Ricardo Medeiros
Aeroporto
As aves de rapina apenas são colocadas para voar quando não há movimentação na pista. Ricardo Medeiros
As aves de rapina apenas são colocadas para voar quando não há movimentação na pista
As aves de rapina apenas são colocadas para voar quando não há movimentação na pista
As aves de rapina apenas são colocadas para voar quando não há movimentação na pista
As aves de rapina apenas são colocadas para voar quando não há movimentação na pista
As aves de rapina apenas são colocadas para voar quando não há movimentação na pista
As aves de rapina apenas são colocadas para voar quando não há movimentação na pista
As aves de rapina apenas são colocadas para voar quando não há movimentação na pista
As aves de rapina apenas são colocadas para voar quando não há movimentação na pista
As aves de rapina apenas são colocadas para voar quando não há movimentação na pista
As aves de rapina apenas são colocadas para voar quando não há movimentação na pista
As aves de rapina apenas são colocadas para voar quando não há movimentação na pista
As aves de rapina apenas são colocadas para voar quando não há movimentação na pista
As aves de rapina apenas são colocadas para voar quando não há movimentação na pista
As aves de rapina apenas são colocadas para voar quando não há movimentação na pista
As aves de rapina apenas são colocadas para voar quando não há movimentação na pista
As aves de rapina apenas são colocadas para voar quando não há movimentação na pista

"Esta é uma ave com algumas particularidades. É um Falco cherrug (Falcão-sacre) que vem fazendo um trabalho muito significativo no Aeroporto de Vitória, principalmente no afungentamento e captura de aves que se tornam problema nesse ambiente em relação, principalmente, à segurança dos voos, executando um trabalho de excelência aqui. É considerado um falcão de grande porte, com potencial para pegar e afugentar espécies maiores que ele, como patos e garças", destaca Juliana.

ACIONAMENTO

Para que desempenhem o trabalho com máxima eficiência, os animais são condicionados e ficam à disposição dos tutores. A todo momento, o espaço aéreo e também a região da pista são monitorados. Havendo a incidência de pássaros colocando em risco os aviões, a equipe pede autorização via rádio à torre de controle e, então, uma das sete aves de rapina é solta na região identificada.

“Essa é uma ave (Abu Dhabi) que voa todos os dias aqui no Aeroporto. A gente faz todo um balanceamento da alimentação, calculamos diariamente o metabolismo deles, o alimento que precisam ingerir, pois eles precisam comer uma quantidade exata para que possam ter a musculatura adequada, principalmente no peitoral, para fazerem um voo perfeito. As aves voam livres todos os dias, por isso são submetidos a treinamentos desde bem jovem. Depois vão evoluindo naturalmente. Aqui a gente jamais vai colocar uma ave dessas para voar sem que haja uma janela da torre de comando entre os voos para que possamos soltá-los”, conta a bióloga.

Aeroporto
A bióloga Juliana Peres é uma das responsáveis por cuidar das sete aves de rapina do Aeroporto de Vitória. Crédito: Ricardo Medeiros

As operações envolvendo a falcoaria são rápidas e desenvolvidas em poucos minutos, assim evitando atrasos nas chegadas e partidas. Quando não estão em serviço, as aves descansam no próprio cativeiro ou nos poleiros.

OUTROS RISCOS

A presença de pássaros é o tipo de acionamento mais comum, porém no espaço do Aeroporto outros bichos também podem colocar a operação em risco. A equipe que faz esse monitoramento já identificou a presença de capivaras, cobras, lagartos e outros animais. Por isso mesmo o trabalho é constante e diário, como dito pelo também biólogo Gustavo Diniz Carvalho.

“Aqui no Aeroporto de Vitória, a fauna é muito diversificada, então temos que utilizar várias espécies de aves de rapina diferentes para dispersar esses animais que se aproximam da pista. Só de patos, são pelo menos cinco espécies, com algumas chegando a pesar quase dois quilos. Neste caso, a Malala é a escolhida porque a fêmea é maior e tem mais capacidade. Mas como há outros bichos no sítio dos quais as aves não conseguem afugentar, nós fazemos a identificação e remoção deles para outras áreas se preciso for”, explica o biólogo.

Aeroporto
Abu Dhabi é o primeiro falcão-sacre nascido em cativeiro na América Latina e tem matrícula 001. Crédito: Ricardo Medeiros

Por terem característica de voos mais altos, Abu Dhabi e Malala voam com uma antena de radiofrequência nos pés. Desta forma, a equipe em solo consegue saber onde o animal está mesmo que ele não seja visto. Os falcões desta espécie costumam voar por até três quilômetros de distância e podem trabalhar por um longo período. Segundo o biólogo, o falcão-sacre consegue ter alta eficiência por cerca de 20 anos, e um exemplar treinado e preparado da espécie pode custar até R$ 12 mil.

EFICIÊNCIA

O trabalho do time de rapina tem resultados efetivos. Segundo Kleyton Mendes, gerente geral da Aeroportos do Sudeste SA, que administra os terminais de Vitória, Florianópolis (SC) e Macaé (RJ), os gaviões e falcões são essenciais para a segurança operacional.

R$ 12 mil

Uma ave treinada para operar em aeroporto tem alto valor de mercado

"Por sermos cercados por áreas verdes, alguns animais podem procurar o sítio aeroportuário como abrigo. A ação é coordenada pela Linha Ambiental, empresa terceirizada responsável pelo serviço. Todo o trabalho é aprovado pela ANAC e fiscalizado pelo IEMA, respeitando estritamente as normas de segurança e preservação. O monitoramento das espécies aponta uma redução no número de aves como quero-queros, corujas, garças, patos e marrecos. O resultado vem apresentando melhoria através do conjunto de fatores e com certeza, a falcoaria é um dos principais", destacou o gerente.

Aeroporto
Após o trabalho... a recompensa. Abu Dhabi se alimenta da presa colocada no lure fly. Crédito: Ricardo Medeiros

Além de Abu Dhabi e Malala, as outras aves que formam o time de rapina do Aeroporto de Vitória são os falcões-de-coleira Sol e Umbra, e o trio Shogun (homenagem ao lutador brasileiro de MMA), Bruta e Xiluba. É esse hepteto de asas que ajuda a dar a segurança necessária aos pilotos para que pousem e decolem com os gigantes do ar na pista de 2.058 metros do terminal.

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