O PIX, novo método de pagamento instantâneo digital brasileiro, começou a aparecer em propagandas na televisão e até em notificações no celular. Com a data de início das operações marcado para 16 de novembro, bancos e instituições financeiras iniciaram o processo de pré-cadastro dos clientes.
Já oferecem essa possibilidade o Picpay, o Nubank, o Banco do Brasil, o Mercado Pago, entre outras instituições.
Segundo especialistas, esse esforço antecipado é para que os usuários atualizem seus dados de telefone e de e-mail, informações que serão utilizadas como identificadores uma vez que for autorizado o pagamento com o PIX. O cadastro oficial, contudo, só poderá ser feito a partir de 5 de outubro.
De acordo com o diretor de inovação e novos negócios da Matera, Alexandre Pinto, já há cerca de mil instituições de pagamento grandes e pequenos bancos, fintechs, cooperativas de crédito, agências de investimento e até varejistas cadastradas para utilizar o novo meio de pagamento a partir de 16 de novembro.
No Espírito Santo, o Banestes e o Sicoob já estão na lista de instituições cadastradas no Banco Central, assim como o PicPay. Veja relação completa abaixo.
"O Banco Central teve o cuidado de obrigar os bancos maiores a entrarem. Aqueles que têm mais de 500 mil contas são obrigados a oferecer PIX para pessoas e empresas no dia 16 de novembro. No caso de bancos menores e instituições de pagamentos, é adesão voluntária. Mas imagino que pelo menos 800 devem oferecer logo nesse início, o que significa que teremos muito mais concorrência do que temos hoje com o TED e o DOC", afirma Alexandre Pinto.
Com o PIX, é esperado que modalidades de pagamento como TED, DOC e boletos sejam virtualmente eliminadas. Isso porque, o novo modelo permitirá a transferência de valores entre pessoas de forma gratuita e instantânea (menos de 10 segundos), enquanto os meio antigos só funcionam em horário comercial e em dias úteis. Além disso, os bancos cobram taxas que podem passar de R$ 10 por transação.
Não há regulamentação quanto à cobrança para pessoas jurídicas, então é possível que empresas tenham que pagar para utilizar o PIX. Especialistas concordam que esse valor, contudo, deve ser muito menor do que o pago atualmente para geração de boletos, por exemplo.
O BC afirmou que vai cobrar das instituições financeiras R$ 0,01 a cada 10 transações e que esse valor não pode ser repassado para pessoas físicas. No caso das empresas, o valor deverá ser autorregulado pela concorrência. Atualmente, para cada boleto gerado, empresas pagam em torno de R$ 2,00. Há ainda taxas para pagamentos com cartões de débito, que também poderão ser substituídos.
Uma vez liberado o cadastro oficial, os usuários poderão, juntos às instituições financeiras, registrar os dados e escolher uma chave de identificação, que poderá ser o CPF/CNPJ, e-mail ou número de celular. Esse dado é o que será utilizado para identificar os pagamentos.
Ou seja, o recebedor fornecerá a chave de identificação ao pagador para que seja feita a transferência. Pagamentos poderão ainda ser feitos através de QR Code gerado pelo recebedor. O código será escaneado pelo pagador para identificar o destino da transferência.
Segundo os especialistas, será possível cadastrar chaves diferentes em instituições diferentes. Uma pessoa que tem conta em dois bancos e em uma carteira digital, por exemplo, deverá cadastrar o celular como chave em um deles, o e-mail pessoal no outro e o CPF no terceiro.
Uma vez confirmada a transferência, que poderá acontecer em qualquer hora do dia, mesmo em fins de semana e feriados, o dinheiro cairá na conta de destino em até 10 segundos. Se houver erro na identificação ou no valor enviado (envio para a pessoa errada ou valor digitado errado, por exemplo) não haverá como voltar atrás. A devolução do dinheiro dependerá de negociação com o recebedor.
O BC anunciou que também será permitido agendar as transferências para datas futuras. Contudo, não será permitido fazer parcelamentos nem qualquer operação de crédito.
Segundo o professor do curso de Gestão Financeira da Uninter Joni Borges, o sistema é seguro, mas será preciso ter cuidado no momento do cadastro para evitar fraudes.
"O que pode dar errado é alguém cadastrar seu telefone ou e-mail como se fosse dele. Aí, quando você for cadastrar, ele já vai ter sido usado. O sistema é seguro, mas o cuidado deve ser redobrado", aponta.
Se para as pessoas físicas, a velocidade e gratuidade do PIX geram praticidade, para empresas essas características significam melhoria na gestão e redução de custos.
A primeira consequência é um controle maior de logística e estoque no caso das empresas de e-commerce. "Hoje, se você for fazer uma compra pela internet, tem que esperar que aquele boleto seja compensado ou que o valor seja validado pela empresa de cartão de crédito para depois separar a mercadoria para envio. Com o PIX, em 10 segundos o lojista já sabe se o dinheiro chegou e já pode enviar o produto", diz o professor.
O PIX é ainda mais vantajoso quando comparado ao boleto, método utilizado por muitas pessoas para compras on-line, principalmente aquelas que não têm cartão de crédito. Como é preciso esperar dias para que o pagamento seja compensado, o produto em questão fica "bloqueado" para outra venda. É estimado que metade dos boletos gerados não são pagos. Com isso, os empresários acabam perdendo a oportunidade de fazer a venda para outro cliente.
Alexandre Pinto afirma que o PIX deve também agilizar importações de produtos. "Hoje, há uma ineficiência muito grande em portos e aeroportos. Você tem guias de importação que precisam ser pagas. Se um carregamento, um contêiner, chegar durante o fim de semana, aquela mercadoria fica aguardando até a guia ser paga para que seja liberada. Isso pode demorar dias. E isso é custo", aponta.
Atualmente, só bancos podem fazer operações de transferência como TED e DOC. Os pagamentos com cartões também são restritos a poucas (grandes) empresas. A expectativa é que o PIX coloque grandes bancos tradicionais, operadoras de crédito e fintechs na mesma "frequência".
Segundo especialistas, a concorrência deve se acirrar. E é esperado que, na disputa, vença que oferecer o melhor serviço com menor preço.
"Hoje, se você tem conta em uma carteira digital e precisa mandar dinheiro de um banco, ou vice-versa, não é muito fácil e você tem que usar TED. Os dois mundos não conversam muito bem. No sistema do PIX vão estar os bancões e as fintechs pequenas. Todo mundo na mesma rede. Isso abre espaço interessante paras as fintechs. Não importa mais onde eu tenho conta, eu vou conseguir transferir o dinheiro", afirma Alexandre.
Joni Borges concorda que há grande potencial de crescimento para empresas que chegaram mais recentemente ao mercado. Mas acredita que as grandes corporações devem investir em tecnologia para não ficar para trás.
"Os bancos têm uma grande estrutura, grande capital e tem muito mais dinheiro para investir. Eles não vão ficar para trás. Vão concorrer de igual para igual, talvez em serviços diferenciados", avalia.
O novo modelo de pagamento digital permitirá, ainda, que clientes saquem dinheiro em lojas. Segundo os especialistas, essa já é uma realidade em outros países, como nos Estados Unidos e na China.
"Nos Estados Unidos, por exemplo, você faz uma compra de US$ 13. Você passa US$ 63 no cartão e a loja te dá uma nota de US$ 50 de 'troco'", explica Alexandre.
Ele afirma que, além de gerar fluxo na loja, a possibilidade do saque reduz a quantidade de dinheiro em espécie que os estabelecimentos precisam guardar. Para poder oferecer esse serviço, contudo, os estabelecimentos também precisam estar cadastrados junto ao Banco Central.
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