O vento que vem pela Orla Noroeste, na Ilha das Caieiras, em Vitória, ganha aroma de moqueca e de torta capixaba ao passar pelos restaurantes à beira do Rio Santa Maria. Termina com um cheiro adocicado de uma mistura de banana com chocolate, que aguça o paladar e dá pistas de onde estamos: na fábrica de bombom que leva o nome da comunidade.
Bombom Caieiras é o sonho realizado do empreendedor Hudson Rei, de 40 anos. Em 2007, ele começou a fazer e vender bombons caseiros para pagar um curso de Meio Ambiente na faculdade. A iniciativa se converteu em uma microempresa, que hoje é a fonte de renda dele e da família, gera emprego e renda para moradores da comunidade e contribui na transformação social do local.
Em um dos píeres da orla do bairro, Hudson senta em um banco em formato de barco que ele mesmo colocou no local para os turistas. Ao fundo, a paisagem é composta por casas na beira do rio e pelo movimento quase imperceptível das águas. Na frente, a pequena indústria do Bombom Caieiras, que ele observa com um olhar contemplativo e de orgulho. O que ele vê era apenas imaginação há cerca de 20 anos.
“Eu fazia o bombom na cozinha da minha casa, preparava com um fogão normal e colocava nos saquinhos para vender. Palha italiana, bombom de morango, de coco, e foram testes feitos até chegar o bombom de banana, que hoje é o nosso carro-chefe”, relembra.
Em 2013, nesse mesmo píer onde hoje recorda sua história, foi dado o pontapé inicial para a transformação na venda do doce. "Uma cliente falou: ‘por que você não faz esse bombom com o nome de Ilhas Malvinas?’ e eu falei: 'não, acho que vale a pena colocar o nome da Ilha das Caieiras'". Foi aí que surgiu a ideia de procurar o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
“Conseguimos uma parceria junto ao Sebrae, fazendo cursos e qualificações, na busca de embalagem e parceiros, e conseguimos comprar uma flowpack (embaladora automatizada) e é a embalagem que hoje nós temos, que para a gente tem mais durabilidade, temos muito mais segurança no produto e se tornou algo muito mágico para gente aqui”.
Com o apoio do Sebraetec, programa de consultoria tecnológica, Hudson conseguiu profissionalizar a produção dos bombons e os doces ganharam tabela nutricional, identidade visual e código de barras. Assim, o que antes era vendido informalmente pelas ruas da cidade, passou a ser comercializado em estabelecimentos de vários municípios capixabas, em outros estados, como Bahia, Rio de Janeiro e Piauí, e fora do país, em Massachusetts (EUA).
A consultoria deu tão certo que os bombons deixaram a cozinha da casa dele, no bairro Santo André, e passaram a ser produzidos na fábrica, montada em 2020 na Ilha das Caieiras.
“É muito legal, porque, hoje, eu posso dar oportunidade às pessoas que conheci e filhos de amigos. Para a gente, é muito, muito gratificante, conseguir gerar mais empregos. Hoje, nós temos sete colaboradores. Acredito que vamos ter mais de 20, a partir do ano que vem, com esse novo momento da Ilha das Caieiras, com essa nova orla, nós vamos gerar em torno aí de mais ou menos 20 emprego diretos, indiretamente mais de 60”, afirma Hudson.
TRANSFORMAÇÃO SOCIAL
Além da preocupação em transformar a realidade local, dando preferência a moradores do bairro na contratação de funcionários, Hudson tem iniciativas sociais desenvolvidos a partir do Bombom Caieiras, como a parceria com a Associação dos Amigos dos Autistas do Estado do Espírito Santo (Amaes).
“Todos os nossos produtos vão vir com esse símbolo ‘Eu respeito, eu cuido’, e todo ano a gente participa aqui na Ilha das Caieiras dando bombom para as crianças, e é muito legal. É uma ação de retribuição para nós, comunidade, então, todas às vezes que eu tenho de retribuir o nome que eu uso, nada mais justo do que devolver para essa comunidade, e de uma maneira muito carinhosa”.
O empreendedor ainda planeja outros projetos sociais em parceria com o Sebrae. “A ideia é fazer com que a comunidade se sinta parte do nosso negócio, se sinta pertencente. Nós vamos ter cursos do Sebrae para as pessoas fazerem artesanato, alguns tipos de reúso, do que a maré, do que a orla oferece, como ostra e sururu”.
Se depender da determinação de Hudson no empreendedorismo e da gana para criar soluções de desenvolvimento econômico no bairro, o Bombom Caieiras vai continuar levando o nome da comunidade para todos os cantos do Estado e se tornar mais um elemento que representa a cultura da Ilha de Vitória, assim como aqueles citados na música Pedacinho do Brasil, do capixaba Cecitônio Coelho. “Essa é a Vitória da panela de barro, terra da gente ser feliz…”.
Hudson Rei
Empreendedor
"É um sonho. Se me perguntarem se eu estou realizado, eu digo que sim, cheguei no meu auge. Meu sonho era vir para a Ilha das Caieiras, construir a fábrica na Ilha das Caieiras e isso foi possível. Hoje é uma realidade"
Hudson agora tem um projeto de valorizar não só a comunidade, mas todo o Espírito Santo com o "Caieiras Adventure". A proposta é criar caixas personalizadas para os 78 municípios do Estado, com identidade visual própria e a história de cada cidade. E, em breve, o que começou com uma combinação de banana e café, deve ganhar novos sabores, valorizando produtos locais.
A ideia é que o Bombom Caieiras ganhe novas versões, com ingredientes tipicamente capixabas, como coco, café e canela. O empreendedor também planeja ampliar a fábrica, que deve mudar para o segundo andar do imóvel onde está e ganhar mais espaço. O local atual no primeiro piso deve se transformar em uma cafeteria.
Assim, quem passa pela Ilha das Caieiras e hoje sente o cheiro adocicado da produção do doce, deve começar, muito em breve, a sentir novos aromas, contemplando a vista do Rio Santa Maria.
APOIO DO SEBRAE
Quem deseja empreender pode contar com o apoio do Sebrae, assim como fez Hudson. “Estamos aí para apoiar, muitas soluções são gratuitas, então o empreendedor tem que aproveitar o máximo esse ente que existe em prol da microempresa”, destaca Bernardo Buteri, analista do Sebrae no Espírito Santo.
“Desde a ideia até o alavancar do negócio, o Sebrae pode estar junto. Se a pessoa tem uma ideia, mas continua no papel, ela está insegura, não sabe estimar os custos do que aquilo vai gerar para ela, se a ideia é boa ou não, e ela quer estudar, o Sebrae tem solução para isso. Ao mesmo tempo que o cara que tem um pouco mais de mercado, assim como Hudson, e precisa se adequar, pode contar com o Sebrae também”, prossegue.
O analista explica ainda que quando a solução não vem de forma gratuita, o Sebrae consegue subsidiar uma boa parte do custo da consultoria. “Vai empreender, está querendo empreender, já empreende? Chega junto do Sebrae, constrói um relacionamento com a gente, porque a gente consegue te ajudar com vários aspectos, de emissão de nota fiscal gratuita à genética melhorada para vacas de leite. Fica junto do Sebrae, o Sebrae está on”.
Na avaliação do analista, independentemente do empreendimento, o importante é buscar ajuda. “O nosso colega do Bombom Caieiras foi desde o início bebendo da fonte do Sebrae. Hoje, ele já sabe o que buscar lá, o quanto esse apoio alavancou o negócio dele e é superlegal saber que isso acontece”.
Bernardo destaca ainda iniciativas como a de Hudson, que contribuem para a mudança de realidades.
Bernardo Buteri
Analista do Sebrae no Espírito Santo.
"É muito claro para o Sebrae que a transformação da sociedade se dá por meio do empreendedorismo. Empreender é um ato nobre, de alguém corajoso, que vai gerar emprego e renda, vai sustentar a família"
"Quanto mais empregados o Bombom Caieiras tiver, melhor para a região. Ele contratar pessoas locais enriquece ainda mais a história dele na região e carrega a região com ele. O Sebrae tem hoje um projeto específico, o Plural, que tem essa pegada do empreendedorismo local, realizado, bairrista, vindo de pessoas que sofrem de uma dor específica na região. Às vezes, tem um problema que ocorre em um bairro mais humilde que só o morador dali vai saber solucionar aquela dor", destaca.
O analista evidencia também que o Sebrae aderiu aos pactos da Organização das Nações Unidas (ONU), logo quando eles foram lançados e, hoje, o empreendedor que buscar apoio do serviço já vai estar por dentro das práticas de ESG, sigla em inglês para Environmental, Social and Governance (Ambiental, Social e Governança).
"Ajudamos os negócios a olhar para isso com atenção, não é um hype que vai passar, ESG não é uma moda, é algo que veio para ficar", evidencia.
Bombom Caieiras leva nome da comunidade para todos os cantos do ES
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