"Indignação, ansiedade e frustração com o governo, isso é o que venho sentindo nesse tempo todo de espera." Assim é como a capixaba Adeyula Dias Barbosa Rodrigues, 31 anos, descreve os últimos meses. Parece até brincadeira, mas, na verdade, o caso dela é motivo para muita revolta e desânimo. A estudante de Gestão de Recursos Humanos descobriu que era "presidente da República" enquanto pedia pelo auxílio emergencial de R$ 600. Desde o dia 7 de abril, quando fez a solicitação, até esta terça-feira (4), já se passaram quase quatro meses.
O drama da moradora da Região da Grande Terra Vermelha, em Vila Velha, acabou repercutindo em todo o país e mostrando que muitas pessoas que têm direito ao auxílio estão ficando sem assistência durante esse período de pandemia do novo coronavírus devido aos erros nas bases de dados usadas pelo governo federal.
Na primeira reportagem, publicada por A Gazeta no dia 7 de maio, Adeyula contou que na sua Carteira de Trabalho Digital havia dois vínculos empregatícios em aberto, sendo que um era o de presidente da República. Os dados foram corrigidos, mas o benefício continua a ser negado pelo governo federal.
Ela, os dois filhos um menino de 11 anos e uma menina de 8 anos e o marido tiveram que restringir as despesas ao máximo possível para conseguir manter a casa. Além dela estar desempregada e não conseguir o auxílio, o marido teve a jornada de trabalho e o salário reduzidos em 50% e o tíquete-alimentação cortado, o que agravou ainda mais a situação.
"Nos últimos meses, conseguimos receber duas cestas básicas, uma em maio e outra em junho, o que gerou um pouco de economia com a alimentação das crianças. Acaba que o dinheiro você direciona para o básico, e tenho dois filhos pequenos, que entendem pelo que nossa família está passando mas, mesmo assim, são crianças", relata.
Adeyula conta ainda que recebe muitas ligações de cobrança. "Minha faculdade está atrasada e deixei de pagar empréstimo, cartão de crédito. Tivemos que fazer sorteio de boletos para decidir qual pagar primeiro. Até a internet de casa está em atrasa. Tive que focar o dinheiro que tinha na água, na luz, na comida e no carro, que compramos ele no ano passado, porque os juros dele são muito altos e a parcela compromete mais de 50% da renda atual", revela.
No dia 7 de abril, Adeyula pediu o auxílio emergencial pelo aplicativo da Caixa. Quase um mês depois teve o benefício negado porque, de acordo com a Dataprev instituição do governo federam responsável pelo processamento e por verificar se o cidadão cumpre todas as exigências previstas em lei afirmava que ela estava com vínculo empregatício na Relação Anual de Informações Sociais (Rais). Segundo os dados, ela estava trabalhando, sendo que seu último contrato de trabalho foi interrompido em agosto de 2019. Atualmente, todos os dados estão atualizados.
No dia 13 de maio, ela entrou com um processo pelo site da Justiça Federal no Espírito Santo (TJ-ES) para ter direito de receber o benefício. No final de junho, o juiz que estava com o caso pediu à União para que desse uma resposta sobre a negativa do benefício.
Segundo as respostas do governo federal, enviadas em julho, ela não recebeu porque um dos filhos não estava incluso no pedido, já que é preciso colocar o CPF de todas as pessoas da família no cadastro. Além disso, a União alegou que o marido de Adeyula ganhava acima do teto permitido para receber o auxílio.
A última atualização do seu processo foi feita no dia 24 de julho. Ele traz a seguinte mensagem: "Registro retificada a autuação de assunto", que é uma correção que precisa ser feita pela Justiça, mas que não afeta o processo. Porém, não tem mais nenhuma data para resposta.
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