A receita é simples: coco, açúcar, água do próprio coco, fé e união familiar. O resultado? Um empreendimento de sucesso, que dura há mais de 30 anos no Espírito Santo. O que era um pequeno negócio virou um empreendimento sinônimo de tradição e liberdade financeira. De geração a geração, a venda do doce garantiu não só o sustento, mas também ajudou a pagar faculdade e até a compra da casa própria para a família Nascimento.
Antônio Nascimento, o famoso "Baiano da Cocada", veio do Nordeste para as terras capixabas quando ainda era menino, há 40 anos. No Espírito Santo, ele deu sequência à receita da cocada feita pela mãe, Maria Sofia, fazendo sucesso em pontos variados da Grande Vitória. Após atuar com vendas de porta em porta e na entrada do antigo Cinema Santa Cecília, no Parque Moscoso, instalou-se em um ponto na Praça Costa Pereira, onde sua barraca se tornou parte do cotidiano da Capital.
Antes disso, Antônio ainda chegou a investir em outras profissões, atuando na construção civil, no ramo de vestuário e até empreendendo em uma loja de utensílios domésticos. Entretanto, o retorno financeiro e a satisfação profissional estavam, de fato, na cocada. Após mais de 30 anos de muito trabalho, ele conta que a "a cocada é tudo" e que foi graças ao doce que conquistou independência financeira para a família.
"Poucas pessoas conseguem fazer uma cocada bem feita, com pouco açúcar. Tudo o que eu tenho em conjunto com minha família foi através da cocada. O nosso lar, o trabalho da minha esposa, que se formou arquiteta vendendo cocada, meus filhos com as casas e os carros deles... Então, para nós, a cocada é tudo", diz Antônio.
Com o esforço diário e o processo artesanal da produção da cocada, Antônio saiu do aluguel, construiu imóveis na Grande Vitória e pôde auxiliar a esposa com o pagamento da faculdade de Arquitetura, assim como os filhos a conquistarem independência. Para a família, o sentimento é o mesmo: o coco faz parte da base de cada conquista.
Organização é o ponto de partida do pequeno negócio
O calor intenso do pequeno fogão de inox e da panela de ferro fundido, somados ao peso dos 50 quilos de coco que carrega a cada dia, não são capazes de retirar o sorriso acolhedor do rosto de Antônio, que passou aos três filhos o ofício da produção do doce.
Para cada dia de trabalho, a rotina começa às 6h, quando Antônio busca a matéria-prima para a produção na Central de Abastecimento do Espírito Santo (Ceasa-ES), em Cariacica. Por volta de 9h, a chama do fogão já está acessa para derreter o açúcar e mesclar o coco, abrindo espaço para as vendas que seguem até o início da noite.
Com o negócio, Antônio e sua família fazem parte dos 95% dos trabalhadores que têm empreendimentos formais no Brasil, que representam 30% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Segundo o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o país tem cerca de 15 milhões de Microempreendedores Individuais (MEIs), formando a maioria das empresas do Brasil.
Dados do Painel do Mapa de Empresas elaborado pelo governo federal mostram que o Espírito Santo tem 303.260 empresas ativas com cadastro de MEI. Só em 2024, o Estado ganhou mais de 17 mil empreendimentos nesta modalidade.
Só com a receita cultivada há mais de três décadas, a família de Antônio hoje possui oito pontos de venda na Grande Vitória, todos com cadastro de Micro Empreendedor Individual.
Variedade de sabores e sonho de expansão
Além dos sabores tradicionais da cocada, Antônio afirma que chega a produzir cerca de 60 variedades do doce, explorando principalmente frutas como abacaxi, maracujá, morango e até limão. A qualidade e o sabor conquistam não apenas os moradores do Espírito Santo e os fiéis clientes da Praça Costa Pereira. Segundo o trabalhador, o doce já viajou o mundo e o plano é expandir o negócio.
"Sei que sou um profissional que faz uma cocada muito boa, porque isso é o povo que fala. Vendo cocada até para os Estados Unidos e para a Alemanha, porque as pessoas trazem os parentes (que moram fora) para cá em viagem e compram um monte de cocada, falando que é a melhor que já comeram na Terra", conta.
"Eu cheguei nesse patamar de trabalho com a sabedoria que o Criador deu para minha mente, com os talentos que Deus me deu. Aprendi e fui fazendo (as cocadas) com todo tipo de fruta. Só não dá para fazer aqui porque não tem mais público para isso no Centro de Vitória" explica Baiano, que já tem planos em mente para expandir o negócio e difundir a variedade de seus doces.
Segundo o empreendedor, a meta atual é conquistar investimentos para a abertura de uma unidade de vendas em algum shopping do Espírito Santo.
"Meu sonho agora é conseguir alguém que veja o potencial do nosso trabalho para que a gente possa ter um ponto de venda dentro de um grande shopping, com um maquinário ideal, com tudo mais organizado. Minha meta é essa", planeja.
Passagem do ofício e orgulho familiar
Jennifer Nascimento, filha de Antônio, não esconde o orgulho do pai e do ofício que seguiu. Ela conta que, na infância, observava o trabalho do pai, chegando a aprender a descascar o coco com facão quando tinha apenas sete anos, enquanto se escondia para evitar um "puxão de orelha" por estar usando a ferramenta de corte.
A observação e a vontade de aprender a profissão do pai deram resultado. Aos 32 anos, Jennifer tem seu próprio ponto de venda, onde trilha um caminho de sucesso semelhante ao de Antônio. "Falo com o meu pai assim: ‘Pai, o senhor não me deu uma 'faculdade por escrito', mas o senhor me deu uma faculdade de ensinamento e de caráter", diz Jennifer, que, assim como seus dois irmãos, conquistou a independência financeira através das cocadas.
Jennifer Nascimento
Empreendedora, filha do Baiano da Cocada
"Meu pai sempre foi guerreiro, muito guerreiro mesmo. Admiro muito, porque ele trabalha com uma garra e um vigor que eu vejo como incentivo. É minha inspiração. Meu pai construiu mais de quatro casas vendendo doce, fazendo cocada"
Emocionada, a doceira conta que a venda das cocadas lhe rendeu duas casas e carro próprio, além da oportunidade de ter os dois filhos matriculados em escolas particulares.
"Fácil não é não. Mas é com muita fé em Deus que a gente consegue realizar nossos sonhos. Se a gente tem um sonho, a gente consegue ir até além", garante Jennifer.
Cocada vira negócio de família e paga de faculdade a carro próprio no ES
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