O que você é capaz de comprar com R$ 6? E com R$ 60? A pergunta pode parecer estranha, mas o ideal é que a gente aprenda a respondê-la ainda na infância. Em um país com cerca de 63,2 milhões de inadimplentes (dados da Serasa Experian), aprender a usar bem o dinheiro virou assunto até de sala de aula. E especialistas garantem: quanto mais cedo, melhor.
Para o economista e professor universitário Antônio Marcus Machado, a partir dos 5 anos é preciso ensinar à criança o que é preço relativo (preço de um bem em relação aos demais), para que ela passe a entender o real valor das coisas.
"Em geral, a criança vê uma roupa e quer a roupa. Vê uma mochila e quer a mochila. Vê o brinquedo e quer o brinquedo. Temos que comparar o brinquedo com a alimentação, por exemplo, que são coisas que a criança entende. Explicar que ela sente fome e que não dá para deixar de comprar comida, mas que o brinquedo muitas vezes é algo desnecessário", explica.
A educadora financeira Andressa Tasso garante que é possível iniciar as lições de finanças com crianças ainda menores, aos 2 anos, como acontece em algumas escolas particulares.
"As crianças pequenas estão em um momento de descoberta, inclusive dos maus hábitos financeiros da família. De forma lúdica, é preciso ensinar a criança como usar bem o dinheiro. Conforme o amadurecimento dela inserimos novas informações sobre o assunto. É aprender a fazer escolhas, a abrir mão de pequenos prazeres para conquistar o sonho", defende Andressa.
Ensinar a criança a poupar dinheiro para conquistar o que deseja vai ajudá-la também a ser autoconfiante e ter uma vida financeira saudável no futuro.
"A maior preocupação é de se tornar uma pessoa sustentável e alcançar a independência financeira na vida adulta. Em geral, temos um comportamento financeiro muito ruim. Nós financiamos a casa, o carro... São muitos os prazeres que não nos deixam poupar dinheiro. É preciso ensinar a poupar para conquistar, e não financiar. Quando a gente não tem a meta acaba desviando", afirma a educadora financeira.
Aos 11 anos, o capixaba Cauã Zanella Alves tem videogame, celular, notebook e televisão. Tudo comprado graças à mesada de R$ 60 que ele recebe dos pais. O garoto começou a ter lições de finanças em casa aos 7 anos, e, desde então, passou a juntar todo o dinheiro que recebe - incluindo as quantias que ganha de parentes no aniversário - para comprar as coisas que mais deseja.
"Gosto muito de economizar. É bom poder comprar as minhas coisas sem depender dos outros. Sempre anoto o dinheiro que recebo da mesada e falo com a minha mãe o que eu quero comprar. Por último, comprei um videogame mais moderno do que o que eu tinha (o anterior também foi comprado com a mesada) e um celular. Agora estou guardando para comprar mais coisas", conta.
A boa relação do menino com o dinheiro o ajudou a vencer a Olimpíada Brasileira de Educação Financeira. Cauã foi campeão da etapa estadual e vai disputar a fase final, com representantes de outros Estados do Brasil, no mês que vem. Para a mãe, a consultora de viagens Leandra Zanella, de 39 anos, tudo isso só é possível graças a determinação do filho.
"Ele é filho único e sempre estudou na escola pública. Conversamos abertamente com ele sobre o que temos e no que podemos gastar. Explicamos as necessidades e que a ajuda dele é importante. Damos a mesada, mas descontamos parte do valor se ele não cumprir com as obrigações dele da escola e de casa. Ele guarda todo o dinheiro que recebe. No último Natal, comprou um notebook (que queria para fazer pesquisas), e eu e o pai completamos apenas o que faltava", conta a mãe.
Vale comparar o preço de itens como brinquedos com o valor que é gasto em uma compra de supermercado. Mostrar para a criança que ela sente fome e não pode ficar sem comida. Já o brinquedo caro, esse pode esperar
Para aprender a usar, a criança precisa ter dinheiro. De à ela semanalmente (ou mensalmente) uma quantia, ainda que pequena, como R$ 5, e mostre que, se ela quer algo de R$ 10, precisará juntar o dinheiro de duas semanas para poder comprar.
Uma vez estabelecida a quantia da mesada ou semanada, é preciso deixar a criança administrar o dinheiro. Não se deve repor o dinheiro se ela gastar tudo antes da semana/mês acabar. Se ela quer algo caro e tem algum dinheiro guardado, você pode ajudá-la com a quantia que falta. Mas se a criança quer o brinquedo, por exemplo, e não guardou nada, é preciso ensiná-la a esperar por uma próxima oportunidade para comprar - quando ela tiver ao menos parte da quantia necessária.
Mostrar a criança que ela pode juntar o dinheiro dela com o de outra pessoa, um amigo, por exemplo, para conseguir a quantia correta para comprar um brinquedo que ela e a amiga desejam muito.
Para conseguir juntar dinheiro é preciso ter meta. Mostre à criança como é prazeroso realizar sonhos, conquistar aquilo que se deseja, ainda que para isso ela precise abrir mão de outros prazeres. Economizar o dinheiro gasto com chocolate, por exemplo, pode ajudá-la a comprar algo maior, que ela deseja muito.
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