Aumento de gastos com benefícios elevará inflação nos próximos meses; taxas de juros também devem subir
Aumento de gastos com benefícios elevará inflação nos próximos meses; taxas de juros também devem subir. Crédito: Montagem: Geraldo Neto

Como os mais pobres devem pagar a conta da criação de benefícios sociais

A proposta que foi aprovada pelo Senado e tramita agora na Câmara dos Deputados aumentou em mais de R$ 40 bilhões os gastos do governo federal com benefícios sociais a serem pagos até 31 de dezembro

Tempo de leitura: 3min
Vitória
Publicado em 18/07/2022 às 12h06

A proposta de emenda à Constituição (PEC) aprovada e promulgada pelo Congresso, que prevê, por exemplo, um aumento do valor do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600 e a criação de um "voucher" de R$ 1 mil para caminhoneiros autônomos até o fim do ano, pode não ser tão vantajosa para as famílias mais pobres quanto parece à primeira vista.

A chamada PEC "Kamikaze" aumentou em pelo menos R$ 41,2 bilhões os gastos do governo federal com benefícios sociais a serem pagos até o final deste ano.

Esse valor ficará fora do teto de gastos, a regra que limita o crescimento das despesas à variação da inflação. Para isso, foi aprovada a inserção do país em um novo estado de emergência, medida que permite gastos extraordinários, até mesmo a poucos meses das eleições.

Entretanto, há temores de um "efeito rebote", que pode abalar ainda mais o cenário fiscal já fragilizado do país. Analistas de mercado consideram que há uma tendência de piora da percepção de risco dos investidores em relação à economia brasileira.

São esperados ainda outros efeitos, conforme observa Gabriel Meira, da Valor Investimentos. “Traz um pouco de preocupação porque há o risco de o governo não conseguir pagar as contas, tendo um endividamento maior. Ter um fiscal descontrolado gera ainda uma pressão inflacionária em um momento que já estamos lidando com inflação elevada, por efeitos da pandemia e, mais recentemente, da guerra. Agora, com o cenário fiscal deteriorando, é como se estivessem jogando mais álcool na fogueira.”

Diante disso, ele explica, a tendência é de que ocorra uma nova elevação da taxa básica de juros, a Selic, que é utilizada para balizar desde o rendimento de aplicações financeiras até os encargos que serão cobrados por empréstimos e financiamentos, por exemplo.

O sócio-fundador da Pedra Azul Investimentos, Lélio Monteiro, observa que a inflação, por exemplo, é um efeito já de curto prazo. Os juros permanecerão elevados não apenas como tentativa de conter a inflação, mas também porque o mercado passará a pedir por taxas mais elevadas para financiar a dívida pública, tendo em vista que o risco de calote também aumenta.

“No longo prazo, isso vai concorrer com projetos de investimentos. Vai desincentivar que investimentos privados aconteçam também. Projetos bons podem ser engavetados. E a gente precisa investir na criação de empregos, no aumento de renda. O desemprego está começando a cair, mas a renda não sobe porque a economia não está a pleno valor.”

Lélio Monteiro

Sócio-fundador da Pedra Azul Investimentos

"Quando você aumenta o gasto dessa forma, sem ter um objetivo definido, é simplesmente botar um alívio de curto prazo na mão de pessoas que a gente sabe que precisam. Mas essas mesmas pessoas serão penalizadas lá na frente "

Para a economista Arilda Teixeira, os benefícios criam uma falsa noção de proteção, que será extremamente custosa mais à frente. Ela destaca que os recursos disponibilizados são temporários, com previsão de pagamento até o final de 2022, mas os impactos negativos na economia se estendem muito além disso.

“O que está sendo feito não é suficiente para restaurar o nível de renda. É inócuo e deixa no rastro a sensação de deterioração da economia. O que está se fazendo agora não vai repercutir positivamente na atividade econômica, na produção de bens e serviços. Na aplicação financeira, os ganhos continuam vindo. Mas, no lado real da economia, que é onde a população sente, não há ganho.”

OS IMPACTOS DA PEC KAMIKAZE NO BOLSO E NA ECONOMIA

  1. A Gazeta - bgtm0o9ynxi
    01

    Alta do dólar

    Apenas durante o mês de junho, o dólar subiu mais de 10% comparado ao real. A valorização da moeda norte-americana é explicada, em parte, pela elevação das taxas de juros pelo Federal Reserve (banco central americano), em função do aperto monetário daquele país. O aumento das taxas tira dólares de economias emergentes, como o Brasil, e os leva de volta aos Estados Unidos, onde estão, por exemplo, os títulos do Tesouro americano, conforme pontua o especialista da Valor Investimentos, Gabriel Meira. Mas a percepção de alta do dólar também ocorre porque há uma crescente desvalorização do real, que sofre efeitos da acentuação da crise econômica e fiscal do país e da contínua instabilidade política. Os efeitos da PEC foram sentidos já no dia seguinte à aprovação do texto no Senado, quando a moeda norte-americana bateu R$ 5,33.

  2. A Gazeta - 7x0y3is5mn3
    02

    Inflação

    A alta do dólar tem impacto imediato na inflação, isto é, na elevação dos preços. Produtos cotados em dólar, que são importados ou podem ser exportados, como combustíveis, alimentos, entre outros, são afetados e se tornam ainda mais caros. Nos últimos 12 meses, a inflação brasileira acumula alta de 11,73%. No Espírito Santo, o IPCA, medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), chega a 11,53% no período. Esse aumento de preços tem impacto maior justamente para as famílias mais pobres, na medida em que itens essenciais são afetados, conforme lembra a economista Arilda Teixeira.

  3. A Gazeta - c0ypj9d5xvu
    03

    Taxas de juros

    Para tentar conter a alta de preços, o Banco Central terá que manter os juros altos por mais tempo. Com isso, fica mais caro pegar empréstimos e financiamentos. A desconfiança com o cenário fiscal também contribui para a elevação dos juros, inclusive porque o mercado pede por taxas mais elevadas para que continue a financiar a dívida do governo.

  4. A Gazeta - qdaa8qvp
    04

    Criação de empregos

    Com dólar e juros em alta, sobe o custo das empresas. E como a inflação também penaliza o consumidor, as vendas caem. As empresas deixam de investir para ampliar sua produção, gerando menos empregos, conforme observa o sócio-fundador da Pedra Azul Investimentos, Lélio Monteiro.

  5. A Gazeta - flc3058
    05

    Risco País

    Além de contribuir para a maior desvalorização do real, a PEC aprovada no dia 30, e que agora deve voltar à Câmara, tem potencial de elevar ainda mais o chamado Risco País, ou Risco Brasil, que é como as demais nações percebem a capacidade de pagamento do país e decidem, por exemplo, se emprestam recursos para financiar investimentos. É, basicamente, um indicador que aponta ao mercado financeiro se a possibilidade de o país dar calote em seus credores está aumentando ou diminuindo, e que piora em momentos de deterioração fiscal.

  6. A Gazeta - 3awg1vg6f
    06

    Aplicações financeiras

    Diante do cenário fiscal fragilizado, da expectativa de crescimento econômico frustrada e a contínua desvalorização do real, há uma tendência de queda da bolsa brasileira, o que torna os investimentos em renda variável menos atrativos. Já os investimentos em renda fixa se beneficiam do aumento da inflação e das taxas de juros, dependendo da aplicação.

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