As revoluções tecnológicas causam sempre um grande impacto no mercado de trabalho. E com a chegada das startups não poderia ser diferente. Com toda esta movimentação, é natural surgirem profissões para solucionar novos desafios. UX Writer, agile coach, custumer success e startup hunter são apenas alguns exemplos desse universo de novas carreiras. Todas elas se complementam e, com a chegada da tecnologia 5G, outras tantas ainda vão surgir nos próximos anos.
Um outro exemplo de posição que passou a fazer parte do dia a dia das empresas é o de product designer, voltada para o desenvolvimento de produtos. Ana Claudia de Lima, de 35 anos, ocupa o cargo desde maio na fintech Will Bank, com sede em Vitória.
Formada em psicologia, ela trabalhou na área por alguns anos até que decidiu trocar de profissão e partir para uma segunda graduação. Desta vez, o curso escolhido foi o de Sistemas de Informação. Com as facilidades do home office, ela consegue atuar no banco digital em sua casa em Recife.
Ana Claudia de Lima
Product designer
"Logo após a minha formação, migrei para área de designer de produto. Minha primeira experiência foi no núcleo do hospital das clínicas e agora, atuo no banco digital. Gosto de trabalhar com coisas que impactam a sociedade e mesmo na área financeira consigo aliar a tecnologia com a psicologia. E uma dessas maneiras é avaliar como o usuário se comporta ao utilizar a plataforma"
O diretor-presidente da Associação Capixaba de Tecnologia (Act!on), Emilio Barbosa, lembra que muitas dessas profissões têm uma relação direta com a vinda das startups. Entretanto, algumas outras são transformadas para atender às novas demandas de mercado.
É o caso do user interface (UI), que se preocupava com a interface gráfica, e hoje é conhecido como UX (responsável pela comunicação com o usuário). Barbosa alerta que esta é uma carreira que já passa por outra transformação, recebendo a dominação de CX, ou seja, o profissional que olha para o cliente como um todo.
Uma nova posição destacada pelo diretor-presidente da Act!on é a voice experience, que é aquele que analisa as experiências do usuário ao utilizar os assistentes virtuais como Google Assistente. A ideia é oferecer experiências inovadoras, deixando claro para o usuário que ele não conversa com um robô.
Além disso, Barbosa cita que em alguns países já começa a surgir a carreira de walker talker, que é o especialista que ajuda pessoas idosas a usarem a tecnologia.
A diretora de Pessoas e Cultura do PicPay, Luiza Gomide, cita outros exemplos de funções que foram surgindo à medida que o mercado e a tecnologia foram amadurecendo. Entre elas estão especialistas em growth, lead of design, product manager e customer.
“Assim como provocou uma mudança de hábitos das pessoas, a tecnologia influenciou o mercado de trabalho. Várias dessas profissões, especialmente em tech, são inerentes ao surgimento de aplicativos, por exemplo. Então é difícil discernir quem veio primeiro, porque tanto startups como fintechs têm, muitas vezes, a tecnologia no core e buscam suprir suas demandas e necessidades no recrutamento e aperfeiçoamento de talentos, levando a uma modernização do mercado”, esclarece.
A diretora de Pessoas & Cultura do Will Bank, Marília Amêndola, elenca ainda os profissionais de DevOps, que são os especialistas que atuam com as equipes de planejamento do projeto, passando em seguida para o desenvolvimento. Eles lidam diretamente com o controle dos códigos e na integração dele com a segurança da rede.
Marília Amêndola
Diretora de Pessoas & Cultura do Will Bank
"As coisas estão se desenvolvendo e crescendo muito rápido e, às vezes, mudanças são necessárias para se adaptar melhor ao que o mercado está querendo. Para isso, precisamos de pessoas com capacidade de desenvolver suas soft skills, além de saber trabalhar em cenários instáveis e ambientes diversos, tomar decisões rápidas e avaliar riscos. Na empresa, os colaboradores fazem parte de times multidisciplinares e não mais divididos por departamento"
Luiza Gomide, do Picpay, ressalta que a vantagem dessas novas profissões é que elas envolvem habilidades que não necessariamente estão atreladas a uma formação específica, o que permite mais flexibilidade e variedade nas experiências de cada profissional.
“Por exemplo, um agile coach deve ter habilidades de ensino, resolução de problemas e coaching. O UX writer deve usar seu conhecimento não só da linguagem, mas também de comportamento, já que busca otimizar a experiência de quem usa a plataforma a partir do conteúdo. Essa lógica se aplica a todas essas novas carreiras. Nesse caso, falamos muito mais de soft skills e valores, que são reforçados pelo conhecimento técnico do que o contrário”, pontua a diretora.
Ela destaca que as novas profissões exigem mais habilidades comportamentais do que a maioria das tradicionais. Por conta disso, Luiza acredita que os valores e comportamento devem guiar o recrutamento.
Luiza Gomide
Diretora de Pessoas e Cultura do Picpay
"As competências técnicas são fundamentais e queremos ter as melhores pessoas do mercado. Mas nosso time será mais engajado, motivado e realizado se estiver trabalhando naquilo que acredita. Esse propósito deve ser compartilhado. No aplicativo, esse perfil se traduz em sete valores: atitude de dono, humildade, determinação, disponibilidade, disciplina, simplicidade e franqueza"
Em meados de 2020, o aplicativo contava com 1,5 mil funcionários. Hoje, já são mais de 3,6 mil. É um avanço de mais de duas vezes em um ano e meio, que está alinhado à evolução da companhia. A empresa acredita que o crescimento vai continuar forte no próximo ano, e isso também deve se refletir na contratação de pessoas.
Marília Amêndola, do Will Bank, cita que a fintech procura profissionais com visão de negócios financeiros, criação de produtos digitais, diversas linguagens de programação como java, node, go, entre outros. Também é necessário ter capacidade em trabalhar e tomar decisões em times multidisciplinares, fit cultural com nossa visão de decisão orientada por dados, trabalho colaborativo e interdependente, protagonismo e auto-gestão.
Outra característica necessária para trabalhar no setor de tecnologia da empresa é ter conhecimento em alguma linguagem de programação e em produtos digitais. Mesmo na pandemia do coronavírus, o Will Bank dobrou o número de profissionais. Desde janeiro deste ano, foram contratadas 800 pessoas. Só para se ter uma ideia, as equipes de tecnologia e dados cresceram 78%, enquanto que as de produtos, design e marketing, 164%.
“No próximo ano, queremos crescer 100% nosso time de tecnologia, que suportará a diversificação dos produtos e sustentabilidade da nossa plataforma. Puxados com esse crescimento, os times de dados, riscos e produtos cresceram em alta proporção”, afirma.
ALGUMAS PROFISSÕES QUE SURGIRAM COM AS STATUPS
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01
Startups hunter
Profissional focado na descoberta de novas startups, geralmente atua dentro de empresas de investimentos. A maioria das startups tem pouco capital humano e alta necessidade de investimento externo e é o startups hunter que seleciona quais delas estão aptas para serem investidas. Ele faz a conexão entre a startup e as aplicações.
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02
UX writer
Uma profissão que se modificou. Antes conhecido como roteirista, o UX Writer trabalha com o conteúdo que vai estabelecer a melhor relação com o cliente por meio do roteiro. Roteirizar o processo de relacionamento entre o consumidor e o produto ou serviço é fundamental para que o modelo de negócio das startups consiga atender de forma eficaz a relação com o consumidor. Um bom exemplo é o ciclo de perguntas e respostas para os assistentes virtuais. Uma função ocupada, geralmente, por jornalistas, publicitários ou até psicólogos.
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03
Satartup scanner ou investigadores
Profissional que investiga a startup, faz o perfil da empresa baseado em dados coletados sobre quem está à frente da empresa. Como as startups têm a característica de serem empresas pequenas, às vezes de uma ou duas pessoas, esse profissional faz uma investigação sobre o comportamento psicológico do gestor. Como o diretor da empresa se comporta diante das condições de mercado. O investigador vai indicar se a startup oferece condições aos investidores, se a empresa não é uma opção equivocada, de acordo com o seu perfil psicológico comportamental.
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04
Curador startup
Após a identificação das startups, o curador analisa quais as melhores empresas a serem investidas. Ainda no radar dos investidores, a curadoria analisa a capacidade e maturidade da startup em relação ao mercado. É o profissional que vai selecionar quais as melhores empresas para serem investidas, uma vez que os investidores têm mais de uma startups para compor a sua carteira de investimento.
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05
Startups SEO
O SEO ( Search Engine Optimization) é o gestor de tráfego. O profissional responsável por organizar, analisar e liberar demandas, estratégias e ações para colocar a empresa em destaque na web. Ele é responsável por gerar a possibilidade de vendas e resultados a um cliente, por intermédio de ferramentas disponibilizadas pelo marketing digital. O gestor de tráfego (SEO) faz a organização das atividades, demandas e serviços oferecidos por uma agência de publicidade, marketing digital e afins. Este cargo funciona como um maestro que rege todos os processos que compõem a produtividade diária para que as empresas sejam encontradas na web.
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06
Data scientist
É o profissional capacitado para reunir, interpretar e comunicar toda informação relevante contida em toneladas de dados que diariamente as empresas armazenam sobre o comportamento das pessoas, sejam elas seus clientes, prospects, funcionários, entre outros. Também conhecido como a Inteligência do Negócio, este profissional lida com a Big Data. É ele que vai contribuir com outros setores da empresa, como o Startup SEO, que precisa de informações sobre as características do comportamento, preferências, dados demográficos, entre outros.
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07
Startup API
Uma profissão que trabalha com a engenharia dos sistemas. Um especialista que tem a visão Machine to Machine. É esse profissional de API (Application Programming Interface) que vai fazer com que os sistemas interajam uns com os outros. O profissional cria a interface que se comunica com os sistemas sem a interferência do ser humano. Como exemplo, os softwares de busca que consomem API para interagir com o que se procura e o que oferece a resposta.
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08
Arquiteto cloud
É um dos cargos mais novos, é o arquiteto em cloud que é responsável pela infraestrutura de nuvem oferecida aos clientes. Ele avalia as necessidades do negócio e define como implementar a nuvem usando a tecnologia disponível.
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09
Startup redes públicas
Uma das mais valorizadas profissões, o especialista em redes públicas é o profissional capaz de dimensionar, orçar e programar a complexa atuação dos aplicativos nas mais variadas redes: Amazon, Google, Google Cloud, Azure, entre outras. É ele quem consegue ter a visão das dificuldades e desenvolvimento necessário para que um aplicativo seja instalado nas plataformas públicas e funcione corretamente.
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10
Cyber AI ou especialista em inteligência artificial
Com a premissa que não vai mais existir vida em TI sem a presença da Inteligência Artificial, este profissional é o responsável pela tecnologia de autoaprendizagem. O Cyber AI é o desenvolvedor que atua na segurança, na comunicação dos sistemas que realizam bilhões de cálculos baseados em probabilidades diante da evidência em constante evolução e, principalmente, na passagem pelas redes públicas.
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11
Agile coach ou delivery coach
É um profissional capaz de orientar times extremamente técnicos e de maneira veloz. A metodologia agile está inserida no gerenciamento de projeto e utiliza ciclos curtos de desenvolvimentos de produtos e serviços.
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12
Costumer success
É o profissional que se dedica a descobrir duas variáveis durante a experiência do consumidor: resultados necessários (o que o cliente deseja alcançar) e experiência apropriada (relacionada a como ele precisa alcançar). Resumidamente, é o profissional que auxilia o cliente a usar o software depois de adquirido.
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13
Desenvolvedor de aplicativo
A profissão surgiu junto com a popularização dos smartphones. A atuação do desenvolvedor ou aperfeiçoar algum aplicativo. É ele quem define a arquitetura do programa, a linguagem, as etapas de criação, a navegação, entre outras.
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14
Product designer
É o profissional que desenvolve a criação de um produto (físico ou digital) participando de todo o seu processo. O product designer tem como função criar ou evoluir um produto ou até resolver um problema, utilizando metodologias, abordagens e técnicas.
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