O empreendedorismo feminino também está nas startups. Aos poucos, as mulheres marcam presença à frente de negócios inovadores e tecnológicos no Brasil, com o objetivo de gerar impacto social também no Espírito Santo. Os desafios são muitos, mas elas seguem firmes no propósito de investir naquilo que acreditam.
A Gazeta mapeou iniciativas voltadas para qualificação na construção civil, intercâmbio empresarial, robô guia, aplicativo de aluguel de carro e equipamentos de pesquisa. Elas são comandadas por cinco jovens são apontadas como referência no segmento em que atuam. A ideia é dar visibilidade às mulheres, proposta que faz para parte do projeto Todas Elas.
As empresárias Júlia Caiado, de 33 anos, e Carol Ferreguetti, de 29, criaram a Global Touch, uma startup voltada para o intercâmbio empresarial, ou seja, trabalhar a troca de experiência entre as empresas participantes.
Por nove anos, Júlia foi diretora de novos negócios em uma empresa de Belo Horizonte, em Minas Gerais. Depois do nascimento da filha e de mudar para Vitória, ela procurou algo que pudesse lhe dar "brilho nos olhos". Em 2017, participou, na Capital, do evento Startup Weekend e foi lá que ela conheceu a sócia, Carol.
Como prêmio, as duas puderam contar com a mentoria de Azys, uma aceleradora de startups de Vitória. Para Júlia, essa assistência foi fundamental, pois elas puderam ter o passo a passo para transformar a ideia em produto. Hoje, a Global Touch têm três produtos com foco em educação corporativa.
Em dois anos, já foram mais de 30 edições pelo Brasil e elas se preparam para lançar novos produtos, a partir de ideias ouvidas de pessoas que participaram.
Dar visibilidade para as mulheres no mercado de trabalho é um dos impactos sociais mais importantes da startup Elas Resolvem, desenvolvida pela advogada Jéssica Galvani, de 26 anos. A empresa dela, assim como o negócio de Júlia e Carol, está em processo de aceleração na Azys.
A startup começou em julho de 2019 e surgiu a partir da necessidade de encontrar mulheres para trabalhar em determinadas áreas de prestação de serviços como pedreiro, bombeiro hidráulico ou eletricista. Até agora, já foram três turmas destinadas à essa formação.
Ela lembra que no ramo da construção civil ainda é difícil encontrar profissionais femininas e que a ideia é oferecer outras opções de cursos, a partir da sugestão das alunas.
Meu maior objetivo é gerar impacto social e é nisso que acredito. Empreendedorismo é juntar a resiliência com a vontade de não desistir. É ter atitude para conquistar o sucesso profissional, resume.
A engenheira elétrica Aline Gonçalves Santos, de 33 anos, não gosta de rotina e depois de atuar por anos na indústria resolveu empreender depois que a empresa onde trabalhava encerrou as atividades no Espírito Santo. Junto com a administradora Tatiana Yeh, de 42 , ela criou a Iupi, um aplicativo de aluguel de carros.
Formada em Oceanografia, Diana Abreu, de 36 anos, encontrou muita dificuldade para encontrar equipamentos para pesquisas em sua área de atuação. Junto com o marido, Nelio Secchin, eles perceberam que esta era uma boa oportunidade para investir e criaram a Aratu.
Ela rascunhou a ideia em 2010 e procurou a TecVitória, uma incubadora de startups, para apresentar a invenção. A empresa foi criada em 2012 e ainda desenvolve as atividades no local.
Não basta querer empreender, tem que saber gerir a ideia e outros pontos importantes para o sucesso de uma empresa, como a gestão de pessoas. Agora, estamos nos organizando para nos graduar na incubadora e seguir com na atividade de escolhemos. Hoje o ambiente de startups é dominado pelos homens, mas esse quadro está mudando, afirma.
A partir de uma ideia que surgiu na escola em que dava aula, a professora Neide Sellin, de 40 anos, desenvolveu um robô que poderá servir como guia para deficientes visuais e que recebeu no nome de Lisa. Ela fundou a startup Vixsystem em 2014, que também atua no desenvolvimento de softwares por encomenda.
Na época, Neide era professora de informática em uma escola pública e, junto com seus alunos, precisava desenvolver um projeto para ajudar ao próximo. A partir da ideia dos estudantes, ela criou o Lisa para auxiliar a locomoção de deficientes.
Uma aluna cega validou o processo. Depois disso, apresentei para outras pessoas que tinham o mesmo problema e acabei saindo da escola para desenvolver o robô. Trabalhar com tecnologia é bastante desafiador, mas com um trabalho sério é possível conquistar espaço no mercado", diz.
Neide conta que já validou dez unidades, que já foram vendidas. A tecnologia foi remodelada e uma nova versão foi finalizada e deve ser negociada diretamente com empresas públicas e privadas.
Só para se ter uma ideia, dados da Associação Brasileira de Startups (ABStartups) apontam que, no final de 2019, eram mais de 12 mil empreendimentos no país, sendo que 84,3% são liderados por homens e 15,7% por mulheres.
A diretora de Inovação e Tecnologia do Senai-ES, Juliana Gavini, acredita na importância de incentivar cada vez mais o empreendedorismo feminino, apesar da presença de mulheres ainda ser pequena no ramo das startups. Ela cita a Global Touch e o robô Lisa como exemplo de mulheres de sucesso à frente de seus projetos.
Para o diretor da Azys, Denis Ferrari, as empresas inovadoras lideradas por mulheres estão em crescimento. Segundo ele, o ponto positivo do empreendedorismo feminino é de que elas desistem menos dos que os homens.
Para analista do Sebrae-ES Samuel Graciolli, o cenário tem mudado com o tempo. Ele destaca, por exemplo, o último evento do Startup Weekend que contou com a participação de muitas mulheres.
É preciso despertar o interesse de mulheres investirem em inovação. Elas têm a sensibilidade mais forte e isso pode garantir o sucesso, diz.
O progresso feminino na sociedade não é capaz de acabar com os desafios que as mulheres ainda enfrentam. A discriminação de gênero é real, elas recebem menores salários, são rejeitadas por serem mães, são alvo de assédio no ambiente corporativo. Em casa, muitas são vítimas de violência doméstica. Para dar mais visibilidade a esses problemas e as formas de enfrentá-los, A Gazeta criou o projeto Todas Elas, que entrou na rotina da redação A Gazeta/CBN.
Para isso, reportagens em vídeos, textos, infográficos, podcasts, todos relacionados ao tema, serão reunidos em A Gazeta. As editorias da redação serão responsáveis por gerar conteúdo para o Todas Elas, como a de Economia. O projeto vai destacar as oportunidades de emprego, empreendedorismo, carreira, mulheres que se destacam independentemente de serem do sexo feminino.
O combate à violência também estará em destaque. Desde 1º de janeiro, A Gazeta passou a contar numericamente todos os casos de feminicídio no Espírito Santo.
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