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Costureiras fazem máscaras de pano para enfrentar crise do coronavírus

Costureiras fazem máscaras de pano para enfrentar crise do coronavírus

Várias profissionais que perderam clientela neste período de queda nas vendas estão conseguindo sobreviver com a produção de máscaras reutilizáveis

Publicado em 5 de abril de 2020 às 10:52

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Maria das Graças Romeiro tem 65 anos e começou a produzir máscaras de pano. (Aline Juliana Romeiro)
Selo para campanha apoie o capixaba -  empreendedores

De um dia para os outros pedidos de fabricação de roupas para apresentações e festas deixaram de chegar. A máquina de costura ficou parada. Diante do avanço do coronavírus (Covid-19) e dos decretos estabelecendo o isolamento da população, a rotina de quem vivia dessa atividade teve que mudar.  Para enfrentar essa crise, foi preciso encarar o problema e perceber que uma saída possível seria a produção de máscaras de pano.

Em todo o país, a falta desses equipamentos de proteção no modelo descartável vem se agravando. Ao mesmo tempo, vem se abrindo uma janela para a produção dos itens de proteção após o Ministério da Saúde recomendar que todos, até os assintomáticos, passem a usar a peça no dia a dia.  E não falta criatividade na confecção. As peças, que geralmente são feitas em cores neutras, como branca, azul, cinza e preta, ganharam ar mais moderno. Estampas de bichinhos a vilões estão ganhando o rosto dos capixabas.

A costureira Vilma Santos Vancuylendurg, 70 anos, mora em Jardim Tropical na Serra. Ela tem uma banca de fantasias em Jardim Camburi, Vitória, e também realiza consertos. Devido à idade, ela está no grupo de risco e não sai de casa. Além disso, a venda das roupas que produz diminuiu drasticamente.

"Tem mais de 20 anos que costuro. Já trabalhei com outras coisas, mas sempre gostei de costura. A situação era que eu não poderia atender meus clientes e fazer fantasias. Então, há quase uma semana, resolvi fazer máscaras. Prezo muito que numa situação dessa tenhamos proteção e qualidade. Não foi apenas por dinheiro, mas ele também é importante para continuar me dando uma renda", conta.

Produzir máscaras de pano vira alternativa para sobreviver a crise
Produzir máscaras de pano vira alternativa para sobreviver a crise. (Vilma Santos Vancuylendurg)

As máscaras que ela fabrica são de tecido de algodão dupla face, forradas com TNT 40 por dentro e tem um porta-filtro, que possibilita a troca dele. Cada máscara é vendida a R$ 15 e o kit com 4 sai a R$ 50. Ela também outras versões para atender quem quer ainda mais proteção.

Já a família da professora Layza Faller Pimenta é proprietária do Ateliê Pimenta no Centro de Vila Velha. Lá são produzidos figurinos e roupas para apresentações de dança e de escolas. Ela conta que começaram a produzir máscaras para a própria família. "Temos uma idosa de 93 anos morando com a minha avó e para auxiliá-las precisávamos ter mais cuidado. Então as amigas da minha mãe também começaram a pedir", lembra.

Aspas de citação

Foi uma alternativa para manter o negócio viável e para ajudar a auxiliar as pessoas. Recebemos demanda até da Salvador, na Bahia. Eu, minha mãe e meu pai conseguimos produzir de 200 a 230 máscaras por dia, mas a demanda é ainda maior

Layza Faller Pimanta
professora
Aspas de citação

No começo, ela vendia cerca de 12 máscaras por dia, agora são quase 200 diariamente. Para produzir a máscara é usado tecido de algodão, tanto tricoline como malha, e duas camadas de TNT no forro. Além disso, é possível escolher se ela será com tecido estampado ou branca. Cada máscara de tecido é comercializada a R$ 5 reais e as de malha a R$ 4.

O NEGÓCIO É FAZER MÁSCARAS ESTAMPADAS 

Produzir máscaras de pano vira alternativa para sobreviver a crise
Produzir máscaras de pano virou alternativa para sobreviver a crise. (Personal Print/Divulgação)

Além das máscaras das cores tradicionais (banco, azul e verde) os empreendedores têm apostado em estampas para agradar ao público. Personagens de cartuns, bichinhos, monstros, super-heróis e emojis são apenas algumas das dezenas de opções disponíveis no mercado.

Em Cariacica, por exemplo, uma empresa da área de comunicação visual em tecido precisou arrumar um meio de manter a receita com as vendas despencando. "Minha filha teve uma ideia de fazer mascara e uma ex-funcionaria também falou com a gente. Então pensamos em fazer algo descontraído para que as pessoas saíssem na rua e levassem bom humor com elas", lembra Amélia Rosa da Silva Azevedo, direta da Personal Print.

Agora, segundo ela, são fabricadas duas linhas, uma de máscaras estampadas e outra mais comercial (branca) para as empresas. "Começamos para tentar cobrir os custos fixos da empresa, hoje já conseguimos isso. Tem empresas que estão comprando 1 mil ou 2 mil por vez. As vendas estão sendo boas, mas o problema maior é o material. Estamos com dificuldades de comprar, mas vamos ligando para um e para outro e acabamos conseguindo encontrar", explica.

As máscaras são feiras de tecido e TNT.  O quite com cinco unidades decoradas é comercializado a R$ 75. Já as máscaras brancas saem a R$ 6,90 cada. Amélia lembra ainda que existe a opção da empresa colocar a sua marca na máscara.

Produzir máscaras de pano vira alternativa para sobreviver a crise. (Aline Juliana Romeiro)

COMPRE UMA, LEVE DUAS E AJUDE O OUTRO

Em Jardim Camburi, Vitória, a mãe da administradora Aline Juliana Romeiro, Maria das Graças Romeiro, é costureira e como tem 65 anos está no grupo de risco do coronavírus. Com o avanço da epidemia no Espírito Santo ela passou a ficar sempre em casa como medida de proteção. Ela e a mãe decidiram fazer máscaras para comercializar e também para doar. 

Cada máscara produzida é vendida a R$ 7, sendo que a pessoa ainda leva outra para casa junto com as orientações de uso. Com o dinheiro, elas compram material para produzir mais máscaras que serão doadas para profissionais da saúde e também para profissionais que não podem fazer home office, como caixas de supermercados e lanchonetes.  

"Começamos a produzir na última quinta-feira (02). Eu corto o pano à noite e minha mãe costura durante o dia. Quem pode paga e, quem não, a gente dá. A ideia principal é ajudar da forma que podemos", conta.

DE LAÇOS ÀS MÁSCARAS

Em Vila Velha, a administradora Danielle Lameri Cuz Silva e a família tem uma loja on-line de laços e acessórios. Ela conta que quando começaram as primeiras informações sobre a pandemia do coronavírus as vendas começaram a cair. Diante desse cenário, interromperam a produção e começaram a pensar em como manter a renda.

"Começamos a fazer máscaras reutilizáveis com o tecido que tínhamos. Agora recebemos doações de tecidos para confeccionar elas e as doarmos. Como administramos bem nossas despesas conseguimos ter uma reserva de emergência e assim ajudar quem precisa", conta.

CUIDADOS AO USAR AS MÁSCARAS

É importante lembrar que a máscara é apenas um elemento adicional a todas as recomendações de distanciamento social e higienização indicadas pelas autoridades sanitárias. Segundo a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), é recomendado o uso das máscaras nas seguintes condições e com os seguintes propósitos:   

  1. Para um uso curto, idealmente inferior a duas horas e especialmente para sair de casa, como idas ao supermercado ou à farmácia. Desaconselha-se seu uso por mais de duas horas, porque existem evidências de que a umidade gerada pela respiração através da máscara pode ajudar na contaminação do usuário;
  2. Sempre para uso pessoal, não podendo compartilhar com ninguém;
  3. A máscara deve cobrir o tempo todo o nariz e a boca;
  4. Evite tocar na máscara durante seu uso. Se precisar ajustar faça-o somente pelas laterais e com as mãos lavadas;
  5. Caso sua rotina exija de você estar fora de casa por mais de duas horas, confeccione mais de uma máscara para uso pessoal e troque, com as precauções explicadas abaixo:
  6. As máscaras não devem ser retiradas de qualquer jeito. Quando forem retiradas, é preciso lavar as mãos, e usar somente os elásticos para puxá-las, com o corpo inclinado para frente a fim de minimizar qualquer possibilidade de contato da parte externa contaminada com o rosto. Coloque na solução de desinfecção de forma imediata, ou se estiver fora de casa, numa sacola plástica que precisa ser bem fechada e sempre manuseada com muito cuidado. Lave as suas mãos novamente após este procedimento;
  7. Além disso, as máscaras reutilizáveis devem ser desinfetadas depois de cada uso. Caso não consiga desinfetar no momento em que a retirar, guarde-a em uma sacola bem fechada e não mexa até poder desinfetar;
  8. Para desinfetar a máscara: mergulhe a máscara durante 15 minutos numa solução de água sanitária, enxaguando-a depois em água limpa (quatro a seis vezes o mesmo volume) durante dois minutos a cada vez. A solução de água sanitária precisa atingir uma concentração entre 0,25 e 0,5% de cloro livre (escolha uma água sanitária e procure no rótulo que tenha no mínimo 2% a 2,5% de cloro livre e faça a diluição conforme o cálculo adequado, entre quatro e 10 vezes dependendo da concentração). A solução pronta pode ser guardada para reutilização em embalagem opaca ou na escuridão por até 48 horas;
  9. Não é preciso retirar a folha de polipropileno+celulose a cada desinfecção, somente após a quarta vez que se repita o processo, e deve-se deixar secar a máscara por completo cada vez, antes do próximo uso.

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