De um dia para os outros pedidos de fabricação de roupas para apresentações e festas deixaram de chegar. A máquina de costura ficou parada. Diante do avanço do coronavírus (Covid-19) e dos decretos estabelecendo o isolamento da população, a rotina de quem vivia dessa atividade teve que mudar. Para enfrentar essa crise, foi preciso encarar o problema e perceber que uma saída possível seria a produção de máscaras de pano.
Em todo o país, a falta desses equipamentos de proteção no modelo descartável vem se agravando. Ao mesmo tempo, vem se abrindo uma janela para a produção dos itens de proteção após o Ministério da Saúde recomendar que todos, até os assintomáticos, passem a usar a peça no dia a dia. E não falta criatividade na confecção. As peças, que geralmente são feitas em cores neutras, como branca, azul, cinza e preta, ganharam ar mais moderno. Estampas de bichinhos a vilões estão ganhando o rosto dos capixabas.
A costureira Vilma Santos Vancuylendurg, 70 anos, mora em Jardim Tropical na Serra. Ela tem uma banca de fantasias em Jardim Camburi, Vitória, e também realiza consertos. Devido à idade, ela está no grupo de risco e não sai de casa. Além disso, a venda das roupas que produz diminuiu drasticamente.
"Tem mais de 20 anos que costuro. Já trabalhei com outras coisas, mas sempre gostei de costura. A situação era que eu não poderia atender meus clientes e fazer fantasias. Então, há quase uma semana, resolvi fazer máscaras. Prezo muito que numa situação dessa tenhamos proteção e qualidade. Não foi apenas por dinheiro, mas ele também é importante para continuar me dando uma renda", conta.
As máscaras que ela fabrica são de tecido de algodão dupla face, forradas com TNT 40 por dentro e tem um porta-filtro, que possibilita a troca dele. Cada máscara é vendida a R$ 15 e o kit com 4 sai a R$ 50. Ela também outras versões para atender quem quer ainda mais proteção.
Já a família da professora Layza Faller Pimenta é proprietária do Ateliê Pimenta no Centro de Vila Velha. Lá são produzidos figurinos e roupas para apresentações de dança e de escolas. Ela conta que começaram a produzir máscaras para a própria família. "Temos uma idosa de 93 anos morando com a minha avó e para auxiliá-las precisávamos ter mais cuidado. Então as amigas da minha mãe também começaram a pedir", lembra.
No começo, ela vendia cerca de 12 máscaras por dia, agora são quase 200 diariamente. Para produzir a máscara é usado tecido de algodão, tanto tricoline como malha, e duas camadas de TNT no forro. Além disso, é possível escolher se ela será com tecido estampado ou branca. Cada máscara de tecido é comercializada a R$ 5 reais e as de malha a R$ 4.
Além das máscaras das cores tradicionais (banco, azul e verde) os empreendedores têm apostado em estampas para agradar ao público. Personagens de cartuns, bichinhos, monstros, super-heróis e emojis são apenas algumas das dezenas de opções disponíveis no mercado.
Em Cariacica, por exemplo, uma empresa da área de comunicação visual em tecido precisou arrumar um meio de manter a receita com as vendas despencando. "Minha filha teve uma ideia de fazer mascara e uma ex-funcionaria também falou com a gente. Então pensamos em fazer algo descontraído para que as pessoas saíssem na rua e levassem bom humor com elas", lembra Amélia Rosa da Silva Azevedo, direta da Personal Print.
Agora, segundo ela, são fabricadas duas linhas, uma de máscaras estampadas e outra mais comercial (branca) para as empresas. "Começamos para tentar cobrir os custos fixos da empresa, hoje já conseguimos isso. Tem empresas que estão comprando 1 mil ou 2 mil por vez. As vendas estão sendo boas, mas o problema maior é o material. Estamos com dificuldades de comprar, mas vamos ligando para um e para outro e acabamos conseguindo encontrar", explica.
As máscaras são feiras de tecido e TNT. O quite com cinco unidades decoradas é comercializado a R$ 75. Já as máscaras brancas saem a R$ 6,90 cada. Amélia lembra ainda que existe a opção da empresa colocar a sua marca na máscara.
Em Jardim Camburi, Vitória, a mãe da administradora Aline Juliana Romeiro, Maria das Graças Romeiro, é costureira e como tem 65 anos está no grupo de risco do coronavírus. Com o avanço da epidemia no Espírito Santo ela passou a ficar sempre em casa como medida de proteção. Ela e a mãe decidiram fazer máscaras para comercializar e também para doar.
Cada máscara produzida é vendida a R$ 7, sendo que a pessoa ainda leva outra para casa junto com as orientações de uso. Com o dinheiro, elas compram material para produzir mais máscaras que serão doadas para profissionais da saúde e também para profissionais que não podem fazer home office, como caixas de supermercados e lanchonetes.
"Começamos a produzir na última quinta-feira (02). Eu corto o pano à noite e minha mãe costura durante o dia. Quem pode paga e, quem não, a gente dá. A ideia principal é ajudar da forma que podemos", conta.
Em Vila Velha, a administradora Danielle Lameri Cuz Silva e a família tem uma loja on-line de laços e acessórios. Ela conta que quando começaram as primeiras informações sobre a pandemia do coronavírus as vendas começaram a cair. Diante desse cenário, interromperam a produção e começaram a pensar em como manter a renda.
"Começamos a fazer máscaras reutilizáveis com o tecido que tínhamos. Agora recebemos doações de tecidos para confeccionar elas e as doarmos. Como administramos bem nossas despesas conseguimos ter uma reserva de emergência e assim ajudar quem precisa", conta.
É importante lembrar que a máscara é apenas um elemento adicional a todas as recomendações de distanciamento social e higienização indicadas pelas autoridades sanitárias. Segundo a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), é recomendado o uso das máscaras nas seguintes condições e com os seguintes propósitos:
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