Com 78 municípios distribuídos em uma área de mais de 46 mil quilômetros, o Espírito Santo é um Estado de raízes diversas, que influenciam festas, arquitetura, e até a produção de alimentos. Desde a agricultura familiar até a agroindústria, cada região tem uma peculiaridade e tradição, muitas vezes inspiradas pelos antepassados.
A influência de origem europeia, mas também indígena e quilombola, torna a produção rica e dá destaque às cidades, que ficam conhecidas por certos alimentos. No entanto, novos produtos vêm ganhando notoriedade e têm conquistado mesmo a indicação geográfica, que é uma forma de atestar de onde, especificamente, vem aquele alimento ou bebida.
“Tudo varia de acordo com a região. No extremo Norte do Estado, em Pedro Canário e Pinheiros, por exemplo, vamos ter muita característica de produtos derivados da mandioca, o biju, porque tem influência indígena. Indo para a divisa com Minas Gerais, pegando a região de Montanha também, você vai ter a carne de sol, que é muito famosa, e inclusive estamos com um processo de indicação geográfica”, explicou o coordenador de agroindústria e empreendedorismo rural da Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (SEAG), Jackson Fernandes de Freitas.
Jackson Fernandes de Freitas
Coordenador de agroindústria e empreendedorismo rural da SEAG
"Produzimos muito, consumimos muito, mas ainda compramos muito mais de fora do que enviamos. Ainda recebemos muitos doces e muito mel, por exemplo, e nosso mercado ainda tem um espaço muito bom para crescer e agregar valor ao que é produzido localmente"
Seguindo por Colatina, João Neiva, até São Roque do Canaã, o destaque fica por conta das frutas e sucos, mas a produção de queijos também se sobressai e toma conta, também, de Aracruz.
“Acima do Rio Doce há uma quantidade bem significativa de mel, mas há uma diferenciação do mel produzido em outras áreas, por causa da florada, que é diferente. Também tem havido um investimento em produção de chocolate”, explicou Freitas.
Um dos municípios onde o doce produzido a partir do cacau tem ganhado fama é Santa Teresa. Lá, muitos dos alimentos são inspirados na culinária italiana. Não por acaso, a cidade conta com diversos estabelecimentos que produzem e comercializam desde massas caseiras a pães, vinhos e doces como a torta todesca. Mas outros produtos também têm ganhado notoriedade.
É o caso do fermentado de jabuticaba, uma bebida alcoólica semelhante ao vinho e que pode virar símbolo da identidade local, e dos chocolates artesanais.
A família Redighieri começou a plantar cacau em sua propriedade no ano de 2012, como forma de diversificar as culturas da terra, onde o carro-chefe é o café conilon. No ano passado, o fruto deu origem às primeiras barras de chocolate, que hoje são comercializadas em diversos locais do Estado.
As barras Capitão Redighieri, como são chamadas, podem ser degustadas na fábrica artesanal, localizada no sítio da família, mas também em lojas especializadas em doces, em municípios como Colatina, São Roque do Canaã, Santa Teresa e Vitória.
“Além disso, vendemos pela internet. Temos todos os registros e podemos vender para todo o país”, explicou Marcos Redighieri, um dos proprietários do negócio. “Quando começamos, nem imaginávamos que um dia fôssemos produzir chocolate. Mas queríamos iniciar um negócio e buscávamos algo que pudesse agregar valor ao que já tínhamos na propriedade. E a produção é toda familiar, desde o plantio à produção.”
Seguindo pela Região Serrana, passando por municípios como Marechal Floriano, Domingos Martins e Venda Nova do Imigrante, por exemplo, os produtos característicos incluem socol, queijos e cafés especiais. Ainda há uma forte tradição na produção de hortaliças e de frutas como é o caso do morango.
Conforme pontuou o coordenador de agroindústria e empreendedorismo rural da SEAG, há descendentes de tantos povos diferentes na região, como italianos, alemães, entre outros, que torna-se difícil elencar um que tenha maior destaque.
Josane de Souza Lima Bissoli, por exemplo, é produtora de cafés especiais na comunidade de Vila Pontões, em Afonso Cláudio, que faz divisa com municípios como Santa Maria e Domingos Martins. São versões mais finas da bebida, em comparação com o café utilizado no dia a dia pelas famílias, pensadas para serem apreciadas com calma.
Ela explica que a família do marido já produz café há várias décadas, assim como acontece com muitos outros agricultores da região. Mas, desde o final da década de 1990, começou a dar asas à ideia de investir em uma produção diferenciada, que foge à commodity comum.
No sítio, a produção predominante é do café arábica, nas variedades catuaí vermelho e amarelo. Outros tipos, como o arábica 785 e o tupi começaram a ser plantados recentemente.
“A produção começou em 1999 e logo em 2001 fomos premiados, ficamos entre os melhores cafés do Brasil e isso foi despertando nas pessoas a curiosidade de tomar o café especial. Passaram a vir à região para procurar esse café para tomar. Mas é uma produção que requer muito estudo e eu e outras mulheres acabamos nos unindo para buscar capacitação. Criamos até uma associação de mulheres produtoras na região.”
Josane de Souza Lima Bissoli
Produtora de cafés especiais
"A gente ouvia falar tanto sobre o café que ia para fora, que ia para as cafeterias, que ia para todo canto do país, mas não conhecíamos, então começamos a nos especializar. Queríamos agregar valor ao produto que já produzimos, pois é o café que gira a nossa economia aqui, é o nosso forte"
O Café da Josane, como é chamado, já é encontrado em diversos locais do país. Além disso, a família também produz o Café Bissoli, sendo o primeiro produzido a partir do grão cereja natural e o outro, a partir do cereja descascado.
A venda é feita pelo WhatsApp, entre uma conversa e outra, e o produto é enviado pelos Correios para quem quiser provar. Josane conta que, na pandemia, também inaugurou um pequeno café na comunidade, onde é possível provar e adquirir o café.
Seguindo por Castelo e Cachoeiro de Itapemirim, o destaque fica por conta da produção de queijos e outros derivados do leite. Não obstante, é onde estão localizadas algumas das grandes fábricas de laticínios do Estado.
Mas, a maior parte dos produtores atua em pequenos negócios, como é o caso da Queijaria Casagrande, tocada por Fabiano Casagrande e a família, em Forno Grande, Castelo. É uma pequena agroindústria artesanal, que, pelo menos desde 2002, comercializa seus produtos.
“Agora temos também o registro estadual. Fornecemos para os mercados de Castelo, Cachoeiro, Conceição do Castelo, Venda Nova, e por aí vai. Também temos demanda de outros municípios maiores, como Vitória, mas ainda estamos trabalhando nisso, porque é uma produção menor. Todo o leite utilizado é produzido diretamente na propriedade, e é uma produção que foi passando de geração para geração. Nossa família sempre trabalhou com isso. É algo muito forte na região”, relatou Fabiano.
Atualmente, o agronegócio absorve cerca de 33% da população economicamente ativa capixaba, é responsável por 30% do Produto Interno Bruto (PIB) estadual e é considerada a principal atividade econômica de 80% dos municípios.
A maior parte do que é produzido internamente fica no Estado, embora alimentos como o socol e os queijos, por exemplo, também estejam começando a tomar outras áreas do país. Em alguns casos, vão muito além.
“Assim como o café, o cacau também chega a ser exportado, até mesmo quando é fruto da agricultura familiar. Não é por serem grandes produtores, nesses casos, mas porquê já alcançaram um nível de excelência tão grande que conseguem exportar”, reforçou Jackson Fernandes de Freitas.
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