Ritual comum no fim do ano, muitas pessoas prepararam uma lista de desejos para realizar nos 365 dias seguintes. Alguns mais simples, outros que exigem um mínimo de organização, como o casamento, a aquisição de um carro ou uma viagem internacional. E, para quem não quer que seus projetos fracassem em 2023, é preciso se planejar.
A pergunta é: ainda dá para se organizar? Na avaliação do economista Eduardo Araújo, este é o momento ideal para fazer um balanço do período que se encerra, comparar ganhos e despesas, analisar o que deu certo e o que deu errado e, com esse conhecimento, ter um ponto de partida e se preparar para o novo ciclo.
"Orçamento familiar só faz sentido se a gente usar as informações para mudar hábitos e rever comportamentos. Vejo muitas pessoas que gastam um tempo enorme anotando despesas diárias em planilhas. O problema é que se preocupam apenas com os registros, mas sem nenhum tipo de uso prático das informações. Na verdade, o que importa é usar esses dados para descobrir o que está acima do controle e refletir sobre como mudar atitudes para que o orçamento fique condizente com a realidade", orienta Araújo, também consultor do Tesouro Estadual do Espírito Santo.
Mas, antes de pensar em gastar, é preciso colocar na ponta do lápis eventuais dívidas para voltar a "ficar no azul" em 2023. O ponto de partida, ensina Araújo, é reunir as contas atrasadas para avaliar o tamanho do problema, juros que são pagos por cada despesa e definir qual é a prioridade para a regularização. O economista observa que contas de energia e de água são essenciais e, em geral, as pessoas tentam deixá-las em dia, mas é preciso atenção às faturas de cartão de crédito e com financeiras que têm juros excessivos.
"Buscar uma renegociação é uma alternativa, mas antes disso o consumidor precisa saber se possui espaço no orçamento para assumir reparcelamento. Vejo muitas pessoas que renegociam dívidas, mas sem ter capacidade para honrar esses compromissos futuros. Então, o recomendado é fazer uma avaliação de quanto será possível economizar nos próximos meses antes de apresentar uma proposta de parcelamento."
Ele cita como exemplo uma pessoa com uma dívida de R$ 12 mil, que se propõe a parcelar o débito em 12 vezes. Seria necessário economizar R$ 1 mil por mês. É importante se questionar se vai conseguir fazer essa economia, quanto e de onde terá que fazer cortes de gastos para alcançar o objetivo ou se poderia se desfazer de algum bem para quitar a dívida. Essas questões devem ser respondidas, segundo Araújo, antes de propor uma renegociação.
Agora, independentemente do projeto, é fundamental se programar e tentar fazer economias mensais para realizá-lo.
A fisioterapeuta Lorena Rabelo Feriane "virou a chave" do planejamento há sete anos. Até então, ela não percebia que precisava ter método para alcançar o que desejava em sua vida, tanto na área pessoal quanto profissional.
"Hoje, eu faço planejamento para tudo. Traço as metas que quero no ano e como vou chegar nelas. Porque também não adianta planejar e não saber como alcançar esses objetivos", observa.
No final de 2021, por exemplo, Lorena decidiu que abriria a própria clínica de fisioterapia em 2022. E conseguiu. Para o próximo ano, entre as metas está aumentar a clientela. Como vai fazer para conseguir, é o que está planejando e vai colocar no papel.
A propósito, Lorena ressalta que é importante anotar as metas. "Elas devem ser escritas, visualizadas e entendidas. As estratégias para alcançá-las vão ser desenvolvidas ao longo do ano", conta a fisioterapeuta, que se tornou uma estudiosa do assunto ao perceber mudanças na própria vida a partir do planejamento.
Para Lorena, é fundamental selecionar todas as metas — não há limite; a quantidade vai ser definida pelos desejos de cada um — não só para o ano que está por começar, mas também objetivos de mais longo prazo. O que funciona para a fisioterapeuta é traçar e enumerar as metas, em uma ordem cronológica que quer alcançar. É claro que, eventualmente, pode-se chegar à terceira meta antes da primeira, porém a ordenação é necessária para direcionar os esforços e de que maneira vai se chegar até lá.
A fisioterapeuta, que se tornou praticamente uma especialista no assunto, dá mais uma dica que considera essencial: embora o planejamento tenha que prever como chegar a determinados objetivos, a pessoa não deve se prender demais nesse ponto para que, em vez de caminho, o "como" não se torne um problema.
COMO SE PLANEJAR
Para quem quer adquirir um bem, como um carro, há sempre uma dúvida se vale a pena entrar em um financiamento, por exemplo, e em que condições. Na avaliação do economista Eduardo Araújo, empréstimos e financiamentos levam ao empobrecimento no Brasil e devem ser evitados. Consórcios são uma opção com custo menor, mas dependem de sorteio e têm despesas administrativas. "Melhor alternativa é sempre economizar para adquirir o bem à vista. A taxa de juros do financiamento de carros varia entre 27% até 40% ao ano, dependendo do banco. Temos as taxas de juros mais elevadas no mundo. Quem financia um carro hoje, vai pagar praticamente dois ao final de um financiamento de três anos. Evitar esse tipo de armadilha pode envolver a decisão de comprar um carro seminovo e, principalmente, consciência de só concretizar compra quando tiver disponibilidade para compra à vista."
Já encontrou a parceria ou o parceiro para a vida e agora quer se casar? Pois saiba que dá para fazer planejamento a curto prazo, mesmo se não tiver dinheiro para aquele festão. Nesse quesito, o fundamental é celebrar dentro da sua realidade. "Não é uma boa ideia começar uma relação conjugal com dívidas. Há muitas estatísticas que indicam o desequilíbrio financeiro como um dos principais fatores que levam ao divórcio", aponta Eduardo Araújo. Por outro lado, ele observa que o casamento pode ser uma forma de economia e de enriquecimento, se pensar que duas pessoas solteiras, às vezes morando em casas separadas, quando se unem passam a ter uma economia. Dividir as despesas e compartilhar os ganhos, então, pode ser algo bom. "Mas o casal precisa ter a consciência de que não há nada de errado em falar sobre finanças numa relação. Na verdade, é um exercício muito saudável e que pode ser exercido durante o namoro e, principalmente, nesse processo de planejamento para casamento."
Para fazer uma viagem, sobretudo para fora do país, é preciso se organizar com um pouco de antecedência. O tamanho da despesa vai depender muito do nível de conforto e da quantidade de integrantes da família. Usar uma agência de viagem garante praticidade, mas também implica em custo mais alto do serviço, ensina Eduardo Araújo. "A opção mais vantajosa é comprar tudo de forma independente. O ideal é começar sempre pelo transporte. Por exemplo, entrar no site da companhia com seis meses de antecedência para pesquisar preços, comparar épocas do ano de baixa temporada e levar em conta também melhores dias da semana para comprar as passagens — fins de semana costumam oferecer preços melhores." Outro aspecto fundamental se a viagem for mesmo internacional é atenção à cotação da moeda brasileira. Em novembro, o real se desvalorizou 10% em relação à libra, euro e dólar. Isso significa que o custo de passagens, hospedagem e atrativos no exterior também ficou mais caro para brasileiros. "Há muitos sites e blogs na internet com dicas incríveis para quem deseja viajar com economia. Vale a pena pesquisar também. Para quem deseja realizar a viagem dos sonhos, o importante é saber com precisão os custos do passeio."
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