> >
Economia verde ganha espaço e começa a decolar no Espírito Santo

Economia verde ganha espaço e começa a decolar no Espírito Santo

Empresários preveem futuro promissor para os empreendimentos e serviços sem impacto ambiental, mas esbarram em falta de vontade política e financiamento

Publicado em 5 de janeiro de 2020 às 08:26

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
O empresário da 2M Soluções, Antônio Luiz Matos Médice, criou e patenteou uma solução que trata água de esgoto através de uma enzima. (Carlos Alberto Silva)

Um fungo que excreta uma enzima e que, por sua vez, “come” os poluentes presentes no esgoto. O método de tratamento totalmente biológico e sem uso de produtos químicos foi criado pelo empresário Antônio Luiz Matos Médice, 60 anos. Ele hoje vende a solução para grandes empresas como Vale e Cesan. A patente está avaliada em mais de R$ 10 milhões.

A 2M Soluções Ambientais, empresa de Antônio, é uma das que compõem o mercado da economia verde no Espírito Santo. O setor cresce na onda da sustentabilidade, tema em discussão em fóruns climáticos internacionais e rótulo hoje buscado por muitas empresas grandes e pequenas. Mas a proposta desse mercado é ir além de promover ações ambientais. A ideia é produzir sem provocar dano ao planeta.

“Absolutamente nenhum dos processos gera poluição e é uma solução economicamente muito viável”, se orgulha o empresário. Ele acredita que as exigências cada vez mais rígidas dos órgãos públicos de controle e fiscalização do meio ambiente, somadas à necessidade crescente das empresas demonstrarem responsabilidade ambiental, vão impulsionar esse mercado no futuro.

RESPONSABILIDADE AMBIENTAL É O LEMA

O termo “economia verde” é definido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma ou UNEP, em inglês) como “uma economia que resulta em melhoria do bem-estar da humanidade e igualdade social, ao mesmo tempo em que reduz os riscos ambientais e a escassez ecológica”.

Na prática, ela engloba uma diversidade de empreendimentos e serviços, como geração de energia renovável (fotovoltaica e hidrelétrica), veículos elétricos, tratamento de efluentes (lixo e esgoto), reutilização de bens, entre outros.

Muitas vezes descrita como o mercado do futuro, a economia verde tem encontrado dificuldades para decolar no Brasil. Segundo levantamento feito pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) publicado em agosto deste ano, as carteiras de crédito dos bancos (financiamentos e empréstimos) para os setores da economia verde em 2018 registraram saldo de R$ 314 bilhões, o que representa 20,8% do total da carteira de pessoa jurídica das instituições. No ano anterior, essa parcela era de 28%.

Ao mesmo tempo, o estudo mostra que cresceu a carteira de crédito para setores com potencial para causar danos ambientais.

No início do mês, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou, na abertura da Conferência Climática da ONU (COP25), que a economia verde “não deve ser temida, mas (encarada como) uma oportunidade a ser aproveitada”. Segundo ele, os governos estão atrasados: a regulamentação é inadequada, os sistemas fiscais não são favoráveis, os subsídios ainda estão sendo usados ??para combustíveis fósseis e as empresas enfrentam obstáculos para ação climática.

Energia solar compartilhada é aposta em Linhares, no Norte do Estado. (Pixabay)

DIFICULDADES EM AVANÇAR NO MERCADO

No Espírito Santo não é tão diferente. Por aqui, os setores fundados na sustentabilidade estão tendo dificuldades de avançar como gostariam. “O mercado de geração de energia fotovoltaica no Estado está muito atrás em relação ao restante do país. As condições não são ideais. Apesar de o Estado ter aderido recentemente à isenção do ICMS na compensação de energia, a forma como essa adesão foi feita não assegura isenção real, apenas de 50%”, diz Carlos Sena, membro do Conselho de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado (Findes).

Carlos também é diretor da ES Solar, empresa que fornece soluções em energias renováveis e que desenvolve atualmente um projeto para ampliação de uma usina solar compartilhada em Linhares, no Norte do Estado. O negócio funciona como cotas de um clube: quem compra as cotas, recebe uma parte da energia produzida na usina sob forma de crédito na conta que a concessionária emite a essa pessoa ou empresa.

Ele avalia que, com crises hídricas cada vez mais severas, a conta de luz dos cidadãos tende a continuar aumentando, o que deve levar muitos deles a buscarem por alternativas. “Quanto maior esse aumento (na conta de luz), maior será o incentivo para que o consumidor se vire para a energia fotovoltaica e se desconecte da rede da distribuidora”, afirma.

É PRECISO VONTADE POLÍTICA 

Esse futuro, no entanto, ainda vai depender do barateamento dos equipamentos e dos custos de instalação, além da vontade política. “Andamos muito tímidos em várias iniciativas que poderiam ser desenvolvidas. As empresas também precisam se adequar, mas é complicado porque muitas vezes é preciso mexer no status quo, sair do mercado, ou desenvolver novas tecnologias para permanecer”, avalia.

Ele atenta também para a importância das linhas de crédito que permitam que empresários invistam nesse tipo de empreendimento.

O gerente comercial do Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo, Miguel Arreguy, aponta uma luz no fim do túnel. Ele afirma que o Estado tem aderido a legislações que apontam para mudanças na matriz energética e dá o exemplo: uma normativa de outubro deste ano obriga que os novos prédios construídos pela administração estadual tenham a estrutura necessária para a instalação de placas solares para a geração de energia.

O decreto não obriga, por sua vez, a instalação das placas, nem a adequação dos prédios que já foram construídos.

TAXAS MAIS VANTAJOSAS NOS BANCOS

Arreguy afirma que o banco financia com taxas mais vantajosas tanto o setor privado quanto os municípios que queiram investir em reciclagem, reuso de água, resíduos, recicláveis e geração de energia limpa. Os empréstimos têm tempo de carência e amortização maiores e taxas a partir de 0,4% ao mês. 

Esse tipo de operação de crédito representou em 2019 um sexto da carteira do banco de desenvolvimento. Segundo o gerente comercial, foram R$ 5 milhões em empréstimos este ano.

Este vídeo pode te interessar

O banco, no entanto, projeta um aumento expressivo para 2020. “Se formos falar em carteira de negócios sendo captados há mais de R$ 100 milhões em demandas sendo analisadas e que podem, potencialmente, ser concretizadas em 2020. É uma demanda que tende a aumentar poque está na ordem do dia. Os projetos têm apelo ambiental, social e econômico”, avalia.

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais