Um fungo que excreta uma enzima e que, por sua vez, come os poluentes presentes no esgoto. O método de tratamento totalmente biológico e sem uso de produtos químicos foi criado pelo empresário Antônio Luiz Matos Médice, 60 anos. Ele hoje vende a solução para grandes empresas como Vale e Cesan. A patente está avaliada em mais de R$ 10 milhões.
A 2M Soluções Ambientais, empresa de Antônio, é uma das que compõem o mercado da economia verde no Espírito Santo. O setor cresce na onda da sustentabilidade, tema em discussão em fóruns climáticos internacionais e rótulo hoje buscado por muitas empresas grandes e pequenas. Mas a proposta desse mercado é ir além de promover ações ambientais. A ideia é produzir sem provocar dano ao planeta.
Absolutamente nenhum dos processos gera poluição e é uma solução economicamente muito viável, se orgulha o empresário. Ele acredita que as exigências cada vez mais rígidas dos órgãos públicos de controle e fiscalização do meio ambiente, somadas à necessidade crescente das empresas demonstrarem responsabilidade ambiental, vão impulsionar esse mercado no futuro.
O termo economia verde é definido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma ou UNEP, em inglês) como uma economia que resulta em melhoria do bem-estar da humanidade e igualdade social, ao mesmo tempo em que reduz os riscos ambientais e a escassez ecológica.
Na prática, ela engloba uma diversidade de empreendimentos e serviços, como geração de energia renovável (fotovoltaica e hidrelétrica), veículos elétricos, tratamento de efluentes (lixo e esgoto), reutilização de bens, entre outros.
Muitas vezes descrita como o mercado do futuro, a economia verde tem encontrado dificuldades para decolar no Brasil. Segundo levantamento feito pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) publicado em agosto deste ano, as carteiras de crédito dos bancos (financiamentos e empréstimos) para os setores da economia verde em 2018 registraram saldo de R$ 314 bilhões, o que representa 20,8% do total da carteira de pessoa jurídica das instituições. No ano anterior, essa parcela era de 28%.
Ao mesmo tempo, o estudo mostra que cresceu a carteira de crédito para setores com potencial para causar danos ambientais.
No início do mês, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou, na abertura da Conferência Climática da ONU (COP25), que a economia verde não deve ser temida, mas (encarada como) uma oportunidade a ser aproveitada. Segundo ele, os governos estão atrasados: a regulamentação é inadequada, os sistemas fiscais não são favoráveis, os subsídios ainda estão sendo usados ??para combustíveis fósseis e as empresas enfrentam obstáculos para ação climática.
No Espírito Santo não é tão diferente. Por aqui, os setores fundados na sustentabilidade estão tendo dificuldades de avançar como gostariam. O mercado de geração de energia fotovoltaica no Estado está muito atrás em relação ao restante do país. As condições não são ideais. Apesar de o Estado ter aderido recentemente à isenção do ICMS na compensação de energia, a forma como essa adesão foi feita não assegura isenção real, apenas de 50%, diz Carlos Sena, membro do Conselho de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado (Findes).
Carlos também é diretor da ES Solar, empresa que fornece soluções em energias renováveis e que desenvolve atualmente um projeto para ampliação de uma usina solar compartilhada em Linhares, no Norte do Estado. O negócio funciona como cotas de um clube: quem compra as cotas, recebe uma parte da energia produzida na usina sob forma de crédito na conta que a concessionária emite a essa pessoa ou empresa.
Ele avalia que, com crises hídricas cada vez mais severas, a conta de luz dos cidadãos tende a continuar aumentando, o que deve levar muitos deles a buscarem por alternativas. Quanto maior esse aumento (na conta de luz), maior será o incentivo para que o consumidor se vire para a energia fotovoltaica e se desconecte da rede da distribuidora, afirma.
Esse futuro, no entanto, ainda vai depender do barateamento dos equipamentos e dos custos de instalação, além da vontade política. Andamos muito tímidos em várias iniciativas que poderiam ser desenvolvidas. As empresas também precisam se adequar, mas é complicado porque muitas vezes é preciso mexer no status quo, sair do mercado, ou desenvolver novas tecnologias para permanecer, avalia.
Ele atenta também para a importância das linhas de crédito que permitam que empresários invistam nesse tipo de empreendimento.
O gerente comercial do Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo, Miguel Arreguy, aponta uma luz no fim do túnel. Ele afirma que o Estado tem aderido a legislações que apontam para mudanças na matriz energética e dá o exemplo: uma normativa de outubro deste ano obriga que os novos prédios construídos pela administração estadual tenham a estrutura necessária para a instalação de placas solares para a geração de energia.
O decreto não obriga, por sua vez, a instalação das placas, nem a adequação dos prédios que já foram construídos.
Arreguy afirma que o banco financia com taxas mais vantajosas tanto o setor privado quanto os municípios que queiram investir em reciclagem, reuso de água, resíduos, recicláveis e geração de energia limpa. Os empréstimos têm tempo de carência e amortização maiores e taxas a partir de 0,4% ao mês.
Esse tipo de operação de crédito representou em 2019 um sexto da carteira do banco de desenvolvimento. Segundo o gerente comercial, foram R$ 5 milhões em empréstimos este ano.
O banco, no entanto, projeta um aumento expressivo para 2020. Se formos falar em carteira de negócios sendo captados há mais de R$ 100 milhões em demandas sendo analisadas e que podem, potencialmente, ser concretizadas em 2020. É uma demanda que tende a aumentar poque está na ordem do dia. Os projetos têm apelo ambiental, social e econômico, avalia.
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