O caminho para quebrar o ciclo da pobreza passa pelo ensino e qualificação profissional. Começar a investir desde na educação básica até o ensino superior é fundamental para conseguir fazer com que as gerações tenham melhores condições de emprego e renda.
Mais de 280 mil famílias no Espírito Santo vivem com menos de meio salário mínimo por mês. Dados da Pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV Social), de agosto deste ano, ainda mostram que o número equivale a pelo menos uma em cada cinco famílias do Estado.
De modo geral, esses lares são formados por pais que têm baixa escolaridade e a fonte de renda vem de empregos precários, sendo mal remunerados, ou estão desempregados. Muitas vezes, eles ainda enfrentam dificuldades para manter as crianças na escola ou os mandam estudar para que tenham a merenda escolar como fonte de alimentação - chegando, em alguns casos, a ser a principal ou única refeição delas no dia.
A miséria em que essas pessoas vivem influencia diretamente na educação. Alimentar-se precariamente, a falta de material de ensino e a ausência de assistência por parte dos pais levam à falta de concentração na escola, o que acarreta no déficit de aprendizagem.
Além disso, a falta de incentivo ao estudo unida à necessidade de trabalhar desde cedo faz com que alguns abandonem os estudos. Esse é o caso de milhares de estudantes que estão terminando o fundamental ou cursando o ensino médio e trabalham para complementar a renda e ajudar nas despesas de casa.
O professor do Departamento de Economia da Ufes e doutor em Desenvolvimento Econômico, Rafael Moraes, lembra que o estudante que concilia estudo e trabalho chega na escola cansado, com sono.
Com baixa formação escolar, essas pessoas que deixaram a escola acabam encontrando mais dificuldade para conseguir um emprego de qualidade, o que gera ainda mais pobreza. Todo esse ciclo vai se perpetuando de geração em geração e, dificilmente, consegue ser quebrado sem ajuda externa.
Em situação de miséria e sem fonte de renda, essas famílias dependem principalmente da assistência governamental e de entidades filantrópicas para não passarem fome. O auxílio emergencial tirou muitas delas da zona da pobreza. No entanto, com o fim desse benefício, essas pessoas que estão desempregadas devem voltar para uma condição difícil.
Esse é o caso de uma dona de casa de 39 anos moradora do Forte São João, em Vitória, que, por vergonha, preferiu não ser identificada. Ela conta que, atualmente, junto com as duas filhas (uma de 16 anos e outra de 9 anos), vive com o dinheiro da bolsa de menor aprendiz que a mais velha recebe e da pensão que o pai paga à mais nova.
Antes, eu estava sem carteira assinada, mas ganhava um dinheirinho levando e buscando crianças no colégio, e tinha o Bolsa Família de R$ 82. Com a pandemia, já não tinha mais trabalho e o Bolsa Família migrou para o auxílio emergencial, diz.
Com os R$ 1.200 do auxílio emergencial, que recebeu durante cinco meses, ela conseguia pagar as despesas e comprar o que faltava às filhas.
Com as filhas em casa, a despesa com alimentação também aumentou nos últimos meses. Ela explica que quando tinham aula presencial, as crianças já chegavam em casa alimentadas, o que precisava era dar um lanchinho para elas. Agora, fazem todas as refeições em casa. Para muitas crianças que conhecemos aqui no bairro a realidade é que iam para a escola pensando na merenda, que era a única alimentação do dia, relata.
Para o secretário de Estado da Educação, Vitor de Ângelo, a educação não cumpre apenas o papel de qualificar, mas também ensina cidadania, desde a infância. De acordo com ele, hoje, no país, a cada dez pessoas, três não concluem seus estudos, e das outras sete, nem todas absorvem os conhecimentos como deveriam.
O secretário ainda explica que o governo do Estado tem investido mais em ensino integral para que o aluno fique mais tempo na escola e, com isso, tenha mais tempo para aprendizagem desses assuntos necessários. Essa carga horária estendida ainda possibilita que o estudante absorva conhecimentos técnicos profissionalizantes, que vão ser um diferencial importante no futuro.
O secretário da Sedu destaca ainda a ampliação de vagas para a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Além disso, assim como o ensino médio integral, a EJA também está sendo integrada à qualificação técnica profissional.
Nesses três casos (EJA, escola em tempo integral e técnicos profissionalizantes), temos levado as vagas prioritariamente para as áreas atendidas pelo Estado Presente, em que combate não apenas a violência em si, mas desenvolve ações para combater a pobreza, a desigualdade, a vulnerabilidade. Assim, as ações vão progredindo a fim de tentar evitar esse cenário (de manutenção da pobreza), aponta.
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