Jovens querem aliar qualidade de vida e trabalho
Jovens querem aliar qualidade de vida e trabalho. Crédito: Freepik

Entenda como a Geração Z vira desafio para o mercado de trabalho

Profissionais que nasceram entre os anos de 1995 e 2010 querem aliar qualidade de vida com o trabalho. têm mais consciência social e ambiental e sede por mudanças, exigindo adaptações na gestão das organizações

Tempo de leitura: 5min
Vitória
Publicado em 09/11/2024 às 18h17

Eles já nasceram conectados com o mundo digital e chegam ao mercado de trabalho com uma série de características e expectativas que estão impactando os ambientes corporativos de formas significativas. Isso porque os profissionais da geração Z, pessoas nascidas entre os anos de 1995 e 2010, querem aliar qualidade de vida com o trabalho e não acreditam tanto no antigo modelo de que, para ter sucesso, é preciso abrir mão de tudo.

De acordo com o relatório de Tendência de Gestão de Pessoas, desenvolvido pela Great Place to Work (responsável pela pesquisa As Melhores Empresas para Trabalhar), os jovens são apontados como o maior desafio para gestão de pessoas. O resultado representa 68% dos que responderam o levantamento.

Recentemente, a atriz e diretora Jodie Foster fez duras críticas ao comportamento e à falta de compromisso da geração Z no trabalho, dizendo que trabalhar com jovens pode ser “muito irritante”. Em entrevista ao jornal britânico, a vencedora de dois Oscars disse que, às vezes, tem dificuldade de entender as atitudes dos mais jovens em relação ao trabalho.

Por conta desse enfrentamento entre as gerações, muitas organizações estão revendo suas práticas de gestão, adotando estruturas mais horizontais e promovendo uma cultura de feedback contínuo, além de um modelo corportivo mais flexível para conseguir contemplar trabalho e vida pessoal, conforme observa a psicóloga e diretora de Liderança, Cultura e Diversidade do Ibef-ES, Gisélia Freitas.

Ela analisa ainda que os jovens valorizam a qualidade de vida e buscam trabalhar em empresas alinhadas com seus propósitos. Além disso, a demanda por ambientes de trabalho mais dinâmicos e inclusivos tem levado as organizações a repensar suas estratégias de recrutamento e retenção de talentos.

Gisélia Freitas

Psicóloga

"A geração Z está transformando o mercado de trabalho de maneira profunda e irreversível. As empresas que souberem entender e aproveitar o potencial dessa geração terão uma vantagem competitiva significativa no cenário atual e futuro dos negócios"

Aos 21 anos, a assistente de recursos humanos da Efetive Consultoria, Joice Reis, é um retrato desse perfil. Ela trabalha de forma híbrida, dividindo as atividades entre um atacado e o escritório da consultoria, além de ter horários mais flexíveis. Ela começou como estagiária de psicologia há um ano e já foi efetivada no cargo.

Joice Reis, de 21 anos, pertence a Geração Z
Joice Reis, de 21 anos, pertence a Geração Z. Crédito: Acervo pessoal

“Meu foco é sempre manter o equilíbrio e não tenho essa visão de que, para ter sucesso e dinheiro, é preciso abrir mão de tudo. É claro que eu quero construir uma carreira, crescer profissionalmente, mas buscando qualidade de vida. Sou apaixonada pelo que faço e não quero ter que abrir mão da minha família para ser reconhecida”, comenta.

A jovem declara que também é importante entender o papel de cada um na sociedade, atrelado aos valores.

Joice Reis

Assistente de RH

"A ideia é sempre dar o meu melhor no meu trabalho, mas sem deixar de dar o melhor também para minha família, para meus amigos, minha religião, entre outros pontos que são importantes para esse equilíbrio. Trabalhar em casa duas vezes por semana colabora para isso"

Para a especialista em RH Luciana Lessa, é preciso desmistificar que determinada geração está dando trabalho às corporações, pois cada uma delas têm suas características e geram impactos nos ambientes que estão inseridas.

Ela cita como exemplo as gerações baby boomer (nascidos entre 1945 a 1964) e X (1965 a 1981). Ambas visavam a estabilidade, ou seja, eram fiéis àquelas organizações e permaneciam a vida toda trabalhando no mesmo local até se aposentar. Segundo Luciana, as pessoas de gerações anteriores viviam ambientes mais controlados, o que não é mais a realidade de hoje.

“Vivemos em um mundo com constantes mudanças e, toda vez que uma geração chega, ela impacta a anterior. Os jovens querem fazer coisas que tenham significado para eles. Por isso, é cada vez mais necessário que os líderes possam identificar quais os propósitos de cada geração e se adaptar a eles. Essas dinâmicas das relações são, muitas vezes, desafiadoras, considerando as expectativas de cada lado dessa moeda”, comenta Luciana.

Os chefes devem lembrar que é necessário desenvolver a maturidade dos times como um todo, conforme lembra Luciana. Segundo ela, a geração Z tem sede por mudanças, e os líderes precisam buscar um equilíbrio para adaptação de todos.

Outra tendência muito forte entre os jovens é desenvolver uma carreira flexível ou multi-carreira. Luciana cita ela mesma como exemplo, que apesar de pertencer a geração Y, atua na área acadêmica, faz mentoria e trabalha em uma empresa no setor de RH.

“Eu, por exemplo, tenho três trabalhos diferentes que me geram desafios diversos e me desenvolvem constantemente. Essa é uma tendência cada vez maior, pessoas com atividades paralelas. Se eu tenho um profissional com esse perfil, é preciso criar um ambiente que consiga desenvolver desafios diferentes do original", destaca.

Luciana Lessa

Especialista em RH

"O trabalho voluntário se enquadra nesse contexto. Outro ponto de observação é que esses jovens estão deixando o tradicional emprego com carteira assinada para apostar no empreendedorismo"

A diretora da Associação Brasileira de Recursos Humanos, seccional Espírito Santo (ABRH-ES), Kamilla Matos, complementa essa geração tem uma consciência social e ambiental muito maior do que as anteriores, até pelo fato de terem nascido em uma época em que a informação está a um clique de distância.

Isso ocorre, segundo ela, porque os jovens estão testemunhando crises econômicas, desastres ambientais e pandemias, por exemplo. Até por conta disso, os jovens são mais questionadores sobre o sentido da vida, da carreira e do papel das organizações na sociedade.

Kamilla Matos

Diretora da ABRH-ES

"No ponto de vista deles, as empresas não devem ter apenas foco nos resultados e nos lucros e, sim na promoção de algum tipo de impacto social. Eles querem um trabalho que caiba na vida e não uma vida que caiba no trabalho. A nova geração vem com uma visão de sucesso muito mais integral, ou seja, a carreira é importante, mas a família e a saúde mental também são. Isso desafia as organizações a desenvolverem práticas que conversem com esses jovens"

Ela lembra que esta geração daqui a pouco vai ocupar posições de liderança e dará continuidade aos negócios. Por isso, as empresas precisam se adaptar po quanto antes. A diretora também aponta que as pessoas da geração Z estão pautadas na flexibilidade.

Kamilla Matos

Diretora da ABRH-ES

"Os jovens também questionam os modelos de hierarquia, cobram processos mais transparentes, buscam ambientes diversos, exigem que as organizações sejam coerentes com os valores que se manifestam e não querem ficar a vida toda no mesmo local. Eles acabam por provocar mudanças na dinâmica de trabalho e na construção das relações corporativas, porque estão em busca de um propósito"

Na avaliação da economista Cecília Perini, algumas características dessa geração são muito positivas para o mundo corporativo, em especial para o mercado financeiro, onde o perfil de quem atua na área é o de pessoas dinâmicas, empreendedoras e que buscam propósito no trabalho.

“Uma visão mais empreendedora, busca por autonomia, independência, criatividade, ser multitarefas são características positivas que, se bem utilizadas, podem acelerar a carreira, mas, mal utilizadas, podem deixar uma carreira mais lenta e mais difícil”, afirma.

Respeitar prazos, processos, hierarquia e conduzir situações difíceis com as pessoas são atividades que podem ser bem desafiadoras para essa geração, que é imediatista. Mas quem consegue ter inteligência emocional e tiver mente aberta para receber feedbacks se destaca no ambiente corporativo, conforme analisa Cecília.

“Para a liderança, o desafio enfrentado é desenvolver esse equilíbrio, administrando expectativas, realizando feedbacks estruturados e com propósito. Essa geração é muito mais prática e sua motivação vem de feedbacks construtivos com planos de desenvolvimentos individuais, nos quais consiga se projetar na posição que deseja. Feedbacks impositivos ou decisões sem um racional não ajudam no resultado e na produtividade dessa geração”, comenta.

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