Enquanto os últimos dados Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados pelo Ministério da Economia na quinta-feira (26), apontam para a criação de 9.228 empregos formais no Estado em outubro, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad-C), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), demonstra que os dados do desemprego no Estado estão numa trajetória de alta.
No acumulado do ano, até setembro, a crise tirou o emprego de 124 mil trabalhadores, de acordo com os dados do IBGE, e, no terceiro trimestre, a taxa de desocupação chegou a 13,9%, alcançando o pior patamar deste o primeiro trimestre de 2017.
Os dados, entretanto, não são contraditórios, mas complementares. Isso porque, enquanto os dados do Caged são divulgados mensalmente, a Pnad tem divulgação trimestral, e, portanto, está com um mês de defasagem. A pesquisa mais recente, divulgada nesta sexta-feira (27), foi encerrada em setembro. Já os dados que refletem o aumento recente de contratações só deve se refletir na Pnad do quatro trimestre, divulgada no início de 2021, ou na próxima PNAD Covid, prevista para ser divulgada no próximo dia 1º.
Outro ponto a considerar é que, enquanto o Caged reflete somente a contratação ou demissão de profissionais com carteira assinada no setor privado, a Pnad abrange quantidades totais de profissionais formais, informais, trabalhadores do setor privado ou público, empregados domésticos e autônomos, e indica se estavam ou não em busca de recolocação no mercado. Desta forma, a melhora de um indicador não significa que não seja preciso olhar para o todo.
O número de pessoas desocupadas saltou de 238 mil no final de março para 286 mil até setembro. Isto é, houve um crescimento 48 mil no número de pessoas que buscaram emprego, mas não encontraram. Neste cenário, a taxa de desemprego saltou de 11,1% para 13,9%, alcançando o pior patamar desde o primeiro trimestre de 2017.
Outra diferença entre as pesquisas se refere a metodologia usada. O Caged se refere a saldo das movimentações de demissões e admissões feitas pelas empresas do mercado formalizado. As empresas mandam para o Ministério da Economia todo mês quais profissionais foram admitidos e quais foram desligados. Já a Pnad é uma pesquisa amostral e leva em consideração o que as pessoas respondem para os pesquisadores.
O economista e professor da Fucape, Felipe Storch Damasceno, observa que um dos fatores que contribuíram para esse salto é que, até então, menos pessoas estavam em busca de emprego.
Muitos não estavam buscando uma vaga por causa da pandemia, e outros por causa do auxílio emergencial, ou seguro-desemprego. Tinham uma certa segurança quanto a isso. Mas o vislumbre do fim do auxílio, e a percepção de que as empresas estão voltando a contratar, fez com que isso mudasse.
No setor privado, a quantidade de profissionais excetuando os trabalhadores domésticos ocupados baixou de 895 mil entre janeiro e março para 781 mil no terceiro trimestre, ou seja, 114 mil pessoas a menos no setor privado.
Deste grupo, o número que atuava com carteira assinada baixou de 660 mil para 608 mil, ou seja, 52 mil pessoas a menos no mercado formal. Já o número de trabalhadores da iniciativa privada sem carteira despendou de 237 mil para 173 mil, isto é, 64 mil informais ficaram sem emprego.
Já os domésticos passaram de 117 mil para 94 mil na comparação entre os dois períodos. O setor foi muito impactado pelas medidas de enfrentamento à pandemia do novo coronavírus. Devido ao confinamento necessário para evitar o avanço da doença, muitas famílias afastaram as domésticas ou demitiram e dispensaram os serviços prestados por diaristas.
O número de trabalhadores domésticos com carteira assinada caiu de 37 mil para 25 mil no período, enquanto o número de profissionais sem carteira passou de 83 mil a 69 mil.
No setor público, por outro lado, foram criadas 29 mil vagas, saindo de 217 mil trabalhadores até março, para 246 mil no trimestre encerrado em setembro. O número de servidores com carteira, excetuando os militares e estatutários, caiu de 20 mil para 19 mil. Contudo, o número de empregados públicos sem carteira passou de 65 mil a 80 mil, e o número de militares e estatutários avançou de 131 mil para 147 mil.
O número de empregadores apresentou retração, caindo de 88 mil para 84 mil entre o primeiro e o terceiro trimestre. Também houve queda no número de trabalhadores por conta própria, que recuou de 490 mil para 481 mil.
Em meio à crise, cresceu o número de trabalhadores familiares auxiliares, isto é, pessoas que trabalham de graça para parentes. Eles passaram de 68 mil para 88 mil.
O economista Marcelo Loyola Fraga observa que, até então, vivia-se a pior fase da pandemia, e isso se refletiu nos números. A partir de setembro, principalmente, a economia vem se fortalecendo, amparada pela redução de casos e óbitos provocados pelo novo coronavírus, e a consequente redução de restrições às atividades.
Em outubro, particularmente, a situação já era outra. As empresas voltaram a operar quase normalmente, e isso resultou em aumento de contratações. Acredito que isso deve se manter ainda em novembro e em dezembro, por exemplo. No fim do ano, diversos segmentos da economia são aquecidos, especialmente o comércio, e há um impacto positivo.
O economista Eduardo Araújo também considera que o momento é de retomada, e destaca que o setor formal, particularmente, apresenta um ritmo de recuperação em V, isto é, um avanço rápido após uma queda brusca.
O desafio, entretanto, é manter esse ritmo de criação de vagas. Parte desse impulso observado em outubro é resultado, ainda, da injeção de recursos públicos, por meio do auxílio emergencial, que retorna para o comércio por meio de consumo, liberação de crédito e do benefício de redução de jornada e salários.
Para o ano que vem, o cenário ainda é incerto. Não sabemos até onde essas políticas vão se estender, nem como será o cronograma de vacinação, então não há garantias, no momento, da continuidade da recuperação. Mas os números do Caged, particularmente, são muito positivos. Trazem uma certa esperança no fim de um ano difícil, e pode contribuir para aliviar um pouco os impactos de desigualdade social que a pandemia trouxe.
Araújo destaca ainda que as políticas anunciadas pelo governo do Estado inclusive um pacotão de mais de R$ 32 bilhões em investimentos, que pode criar 100 mil empregos , a fim de promover a recuperação economômica também devem ser consideradas.
Embora os dados do Caged tenham mostrado uma tendência de recuperação, e o da Pnad tenha refletido numa alta significativa do desemprego, os dois levantamentos, segundo especialistas não são ainda suficientes para trazer uma radiografia da crise do emprego, o que só será possível em 2021, após o fim do auxílio emergencial e com mais empresas enviando as informações trabalhistas.
Uma das questões é que para calcular o número de desempregados o IBGE leva em consideração aqueles que estão procurando trabalho na ocasião da entrevista. O auxílio tem ajudado a mascarar esse problema, já que muita gente deixou de buscar uma colocação por causa da pandemia e porque está assistido financeiramente.
Outro ponto de distorção pode ser o Caged. Como muitas empresas fecharam as portas e não voltaram, alguns dados podem ter sido sonegados pelas companhias ao Ministério da Economia. Se algumas pessoas foram demitidas, mas se esses desligamentos não foram comunicados ao governo não é possível calcular corretamente as vagas extintas nesta crise.
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