Não tem como escapar. Quem vai ao supermercado já notou o aumento expressivo no preço de alguns produtos, principalmente aqueles considerados a base da alimentação do brasileiro, como arroz, feijão, carne de boi e porco e óleo de soja. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que esses e outros alimentos registraram aumento de preço 7,5 vezes maior do que a inflação na Grande Vitória.
O arroz, um dos principais itens da cesta básica, ficou 21% mais caro de janeiro a agosto deste ano. Nas prateleiras dos supermercados capixabas, um pacote de 5 kg do produto já é vendido por mais de R$ 22. Contudo, em outros Estados, esse valor beira os R$ 30.
O óleo de soja e o leite longa vida subiram mais de 24%, assim como a farinha de trigo. Os laticínios também foram afetados e o preço do quilo de queijo minas custa já ultrapassou o do filé mignon em alguns supermercados.
Após pressão por parte da população, o presidente Jair Bolsonaro pediu lucro "próximo de zero" aos donos de supermercados. Além disso, nesta quarta-feira (9), a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), ligada ao Ministério da Justiça, notificou empresas e associações cooperativas ligadas à produção, distribuição e venda de alimentos da cesta básica para questionar a alta nos preços dos produtos.
Outra medida tomada nesta quarta foi o corte no imposto de importação sobre o arroz. O objetivo é baratear o produto que vem do exterior e ampliar a oferta no Brasil, para controlar os preços.
Especialistas afirmam que uma conjunção de fatores provocou a elevação no preço dos alimentos. O principal deles é a alta do dólar que, além de encarecer os insumos industriais e agrícolas, torna o mercado externo mais atrativo. Soma-se a esse fator uma redução da disponibilidade de alguns produtos, seja por redução na produção esperada, seja por conta da entressafra.
A Gazeta conversou com economistas e especialistas do setor atacadista para detalhar os motivos que levaram ao aumento dos preços nas gôndolas dos supermercados.
O preço da moeda americana em relação ao real subiu bastante desde o início da pandemia, passando dos R$ 5 já em março. O primeiro impacto dessa alta é o aumento nos custos de produção, já que boa parte dos insumos industriais e agrícolas são cotados em dólar. É preciso considerar ainda que o transporte dos alimentos é feito principalmente por via rodoviária, o que demanda derivados do petróleo (diesel e gasolina) também cotados em dólar. O aumento nesse custo é repassado por toda a cadeia até chegar a nós, consumidores finais.
O segundo impacto da valorização da moeda americana é a competição com o mercado externo: para os produtores, vender para outros países, principalmente a China, se torna mais vantajoso. Isso significa que é preciso que empresas brasileiras paguem mais para que o produto fique no país. Esse custo também chega aos consumidores. Foi o que aconteceu com o óleo de soja. Neste ano, o Brasil já exportou mais soja do que em todo o ano passado e compradores estrangeiros já começaram a adquirir a produção de 2022. Com tanta disputa pelo produto, há o aumento no preço.
Alguns dos alimentos que tiveram alta nos preços estão em entressafra, ou seja, em um período em que é esperada uma produção menor e, consequentemente, um preço mais alto. É o caso das carnes de boi e de porco. Já no caso do leite, houve uma queda na produção de 50% por conta de fatores climáticos. Com menos leite, os laticínios também subiram de preço. O caso do arroz é mais complexo. Houve redução da produção provocada pelo encolhimento da área plantada. Ou seja, produtores rurais optaram por plantar insumos com maior rentabilidade, como a soja, deixando pouco espaço para o arroz. A redução na produção foi de 30% desde 2012. Paralelamente, houve uma grande demanda mundial pelo produto no início da pandemia (no período em que muitas pessoas estocaram alimentos, lembra?). Com isso, as exportações cresceram 98% em relação ao mesmo período do ano passado. Com produção menor e disputa internacional, o preço, é claro, sobe.
O consumo das famílias também influenciou na alta dos preços, embora especialistas salientem que esse não é um dos fatores principais. No início da pandemia, esse aumento foi provocado pela corrida aos supermercados em busca de alimentos para estoque. Segundo pesquisa da Confederação Nacional do Comércio (CNC), enquanto os demais lojistas amargavam perdas expressivas com os decretos de fechamento e outras medidas de controle do coronavírus, os supermercados tiveram crescimento de 14,6% entre fevereiro e maio. Com restaurantes fechados, esse consumo se manteve elevado, já que as pessoas passaram a cozinhar em casa. O setor registrou ainda um aumento na venda de cestas básicas, não por causa das pessoas de baixa renda, mas por empresas e pessoas com maior poder aquisitivo que contavam em fazer doações.
Desde abril, o auxílio emergencial já foi pago a mais de um terço dos brasileiros e injetou quase R$ 80 bilhões na economia do país. Segundo dados da FGV, por causa do auxílio, a renda média de um trabalhador sem escolaridade cresceu 156%. Se considerados todos os trabalhadores, o incremento foi de 24%. Com mais dinheiro nas mãos, é natural que as pessoas comprem mais comida, o que elevou a procura, principalmente pelos itens da cesta básica, contribuindo com o aumento dos preços. Também foi liberado durante a pandemia o saque emergencial do Fundo de garantia por Tempo de Serviço (FGTS), no valor de até R$ 1045.
Foram consultados para essa matéria a economista do Dieese, Sandra Bortolon; a economista e professora da Fucape, Arilda Teixeira; o presidente da Associação Capixaba de Supermercados (Acaps), Hélio Schneider; e o empresário do setor supermercadista William Carone.
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