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Fim do auxílio emergencial deixa quase 10 mil pessoas sem assistência no ES

Fim do auxílio emergencial deixa quase 10 mil pessoas sem assistência no ES

Fim do benefício em 31 de outubro deixou pessoas desamparadas. Já o pagamento do Auxílio Brasil, sucessor do Bolsa Família, começa nesta quarta (17), mas o benefício tem alcance limitado

Publicado em 16 de novembro de 2021 às 16:57

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Bolsa família
Desempregada e mãe de três filhos, Viviane Cabral Barcelar, 36 anos, deixará de receber o auxílio emergencial. (Carlos Alberto Silva)

Os pagamentos do Auxílio Brasil começam nesta quarta-feira (17) após uma longa negociação no Congresso. Enquanto isso, o governo federal encerrou, no dia 31 de outubro, os depósitos da sétima e última parcela do auxílio emergencial, criado no início da pandemia para auxiliar famílias em situação de vulnerabilidade. No auge da crise, o programa social chegou a beneficiar 1 milhão de pessoas no Espírito Santo.

calendário de saques e transferências ainda está em andamento e segue até o dia 19 de novembro, mas, até então, não haverá novos depósitos em conta. Trata-se, portanto, do fim da ajuda, ao passo que o novo Bolsa Família terá alcance bem menor de público, deixando milhões de pessoas desassistidas pelo país que ainda vive crise econômica.

Desempregada e mãe de três filhos, Viviane Cabral Barcelar, 36 anos, moradora de Jabaeté, em Vila Velha, preocupa-se com o futuro da família. Ela conta que faz bicos ocasionais, mas com a alta generalizada de preços, fechar as contas nem sempre é uma tarefa fácil.  O auxílio, que recebia desde o início do ano passado, era um incremento na renda, que agora deixa de existir.

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Tudo encareceu: comida, energia, água, o gás. O gás mesmo é algo que precisamos direto, e olha só como o preço está. Eu tenho três crianças. Não sei mesmo como vai ficar agora

Viviane Cabral Barcelar
Desempregada
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"Não era muito (o auxílio), mas estava ajudando a comprar o arroz e o feijão. Carne e essas coisas não temos mais como colocar na mesa. Não sei como vai ficar agora", diz Viviane.

Os pagamentos começaram a ser realizados em abril de 2020, com valor-base de R$ 600. Mães que eram chefes de família tinham direito a uma cota dupla do benefício, que foi destinado a trabalhadores informais e de baixa renda, desempregados, microempreendedores individuais e também contribuintes individuais do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Inicialmente, seriam pagas somente três parcelas, mas o benefício foi prorrogado, com redução das cifras. Em 2021, por exemplo, o valor do auxílio passou a ser de R$ 150 para beneficiários solteiros, R$ 250 para famílias e R$ 375 para mães solteiras.

R$ 600
era o valor inicial do auxílio emergencial

O benefício jogou luz sobre muitos trabalhadores considerados até então “invisíveis”, não contemplados por nenhum programa social, e que não estavam cadastrados nos bancos de dados nem do Ministério do Trabalho nem da Previdência Social. São pessoas que, muitas vezes, atuavam na informalidade e tiveram a renda prejudicada por conta da crise sanitária e econômica.

QUASE 10 MIL PESSOAS DESAMPARADAS

Ao passo que a crise persiste, com elevados índices de desemprego e alta generalizada de preços, o fim do auxílio emergencial deve deixar 9.818 pessoas desamparadas no Espírito Santo, segundo dados do Portal da Transparência do governo federal.

A previsão inicial era de que o benefício fosse encerrado para abrir espaço para o Auxílio Brasil, cuja primeira parcela, inicialmente, seria paga já em novembro. Diante disso, a União também pagou, na última sexta-feira (29), a última parcela do Bolsa Família, programa criado há 18 anos.

O novo programa social seria justamente o sucessor do Bolsa Família e, por isso, seriam beneficiadas as famílias já inseridas no cadastro, além de parte dos beneficiários do auxílio emergencial, que se encaixariam nos novos critérios.

O valor do Auxílio Brasil será fixado em R$ 400 pelo menos até o fim de 2022. Essa é uma bandeira do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que deve tentar a reeleição no próximo ano.

Como não haveria espaço para pagar este valor já no início, a previsão é de que haja um reajuste de 20% para os benefícios permanentes do programa social. Ou seja, quem recebia R$ 189, por exemplo, que era o atual valor médio Bolsa Família, passaria a receber pelo menos R$ 226,80 no Auxílio Brasil.

Além disso, seria criada uma parcela transitória, a ser paga até dezembro de 2022, para garantir que todos os beneficiários recebam no mínimo R$ 400 até o fim do ano que vem. Após o fim do benefício transitório, seria pago apenas o benefício permanente.

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Auxílio foi destinado, entre outros, ao pagamento de alimentos e contas básicas. (Pexels)

A fonte dos recursos, entretanto, ainda não é clara. O governo trabalha com o que seria “o plano A”, que é a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) dos precatórios, que abre espaço no Orçamento para pagar a parcela extra.

“Nós estamos trabalhando com o plano A, a aprovação da PEC dos Precatórios. Ela é importante e abre um espaço fiscal para o programa de assistência social. Nós acreditamos que o Congresso vai aprovar exatamente porque permite o financiamento dos programas sociais para o governo”, declarou o ministro da Economia, Paulo Guedes, no domingo (31).

PEC DOS PRECATÓRIOS

A PEC foi enviada ao Congresso no início de agosto, a fim de limitar o pagamento de dívidas judiciais e abrir espaço para o Auxílio Brasil. Entretanto, o texto foi modificado posteriormente para incluir a mudança na fórmula de cálculo do teto de gastos, a regra que limita o crescimento das despesas do governo.

A proposta, que foi aprovada na Câmara dos Deputados e agora aguarda aprovação da maioria dos senadores, tem causado estranhamento no mercado, e, nos últimos dias, provocou oscilações diversas na Bolsa de Valores, além de impulsionar a alta do dólar.

“Sempre que o Brasil seguir um caminho em que perde a credibilidade fiscal, o mercado vai pedir mais juros para emprestar dinheiro ao país, assim, ativos de risco vão sofrer as consequências”, observou o sócio-fundador da Pedra Azul Investimentos, Lélio Monteiro.

Ele reforça que a estratégia não funciona no longo prazo e que apenas incrementa a dívida pública que, no final, “quem paga é a população”.

Luis Stuhlberger, CEO da Verde Asset, criticou a forma de financiamento. Segundo o executivo, é preciso separar uma demanda social legítima de uma demanda eleitoreira. Ele considera que prorrogar o auxílio emergencial por mais um ano, por exemplo, seria muito menos danoso que dar continuidade ao malabarismo que o governo tenta fazer com as contas.

Ele pontua que o Bolsa Família, por exemplo, tem um custo aproximado de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, ao passo que seu substituto custará o dobro disso aos cofres públicos - e de forma permanente.

"Aumentamos em 0,5% do PIB as despesas adicionais em um momento difícil (das contas públicas) que estamos passando. Aumentar os gastos na perpetuidade e romper o teto dessa forma ficou uma coisa muito pior", disse, completando: "se fosse o mesmo valor apenas em aumento (temporário) de auxílio, o mercado não estaria no pânico que está", diz.

Conforme as projeções da equipe econômica, o assunto precisa ser liquidado no Congresso até a metade de novembro para viabilizar o pagamento dos benefícios. Diante das incertezas, o governo acena também com o que seria o “plano B”: uma nova medida Medida Provisória (MP) renovando o auxílio.

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