Ataíde Moreira Otoni, de 63 anos, cozinhava feijão quando o fogão improvisado que ele usava explodiu, em abril deste ano, em Jaguaré, Norte do Espírito Santo. O homem teve 99% do corpo queimado e não resistiu aos ferimentos. Segundo a família, Ataíde usou a estrutura de uma geladeira estragada e construiu um fogão a lenha em um cômodo fora da casa, mas ele não retirou os materiais inflamáveis que faziam parte do congelador do eletrodoméstico, o que causou a explosão.
Casos como esse têm sido cada vez mais comuns. Devido ao aumento do preço, o gás de cozinha se tornou inacessível para muitas famílias brasileiras. Com isso, elas se veem obrigadas a usar fogões improvisados para cozinhar, aumentando o risco de acidentes com queimaduras.
O preço médio do botijão no país, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, é encontrado a uma média de R$ 109,85, quase 9% do salário mínimo (R$ 1.302).
No entanto, cerca de 62,5 milhões de brasileiros — 29,4% da população do país —, que se encontram na linha da pobreza, sobrevivem com menos de um salário mínimo, com uma renda de até R$ 486 mensais. Entre essa parcela, 17,9 milhões de pessoas vivem com uma renda ainda menor. Esse grupo, que se encontra na extrema pobreza, tem um rendimento médio mensal de até R$ 168.
Os dados são referentes ao ano de 2021 e foram divulgados no início de dezembro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo a pesquisa, foram os maiores números e os maiores percentuais desde o início da série, em 2012.
Além disso, o levantamento também aponta que, entre 2020 e 2021, houve aumento recorde nesses dois grupos. A parcela da população que vive abaixo da linha de pobreza cresceu 22,7%, e a das pessoas na extrema pobreza aumentou para 48,2%.
Vivendo com pouco, essas pessoas precisam conviver com a insegurança alimentar. Segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19 no Brasil deste ano, 33,1 milhões de pessoas não têm garantido o que comer. E, tendo que escolher entre comprar um alimento ou o gás de cozinha, optam pelo indispensável e se arriscam na hora de cozinhar.
No dia 30 de novembro, uma mulher de 25 anos estava em casa com os filhos gêmeos de um ano e preparava comida em um fogão improvisado com a utilização de álcool, quando as chamas se alastraram. O fogo atingiu a mãe e as crianças, causando queimaduras graves. O acidente ocorreu em Boa Esperança, no Noroeste do Espírito Santo. A mulher teve 70% do corpo queimado e não resistiu aos ferimentos. Em relação ao estado de saúde das crianças, a menina teve 36% do corpo afetado, e o menino, 27%; os dois continuam internados, segundo o pai.
Entre janeiro e agosto deste ano, 284 pessoas foram internadas vítimas de queimaduras, segundo dados do Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) do Hospital Estadual Dr. Jayme Santos Neves, referência nesse tipo de atendimento. Assim como ocorreu com a mulher e os filhos, 60% dos casos de acidentes com queimaduras estão relacionados ao manuseio de álcool e fogo.
A tenente do Corpo de Bombeiros Andresa Silva afirma que a combinação traz sérios riscos para quem a utiliza, já que o líquido é extremamente inflamável e produz um vapor que pode causar explosões e provocar queimaduras graves ou até fatais.
“O álcool, o querosene, assim como outras substâncias inflamáveis não são recomendados de nenhuma maneira pelo Corpo de Bombeiros. O ideal é que esses produtos nem fiquem no ambiente da cozinha, para não causar acidentes”, afirma.
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