As mulheres ganharam espaço no mercado de trabalho e em alguns lugares são a maioria entre os funcionários. Em geral, elas têm mais tempo de estudos do que os homens, mas, mesmo assim, muitas são ainda discriminadas no ambiente corporativo com salários menores e menos oportunidades de crescimento. E a pandemia do novo coronavírus pode aumentar mais essas desigualdades, principalmente para aquelas que são mães.
Por ter filhos pequenos, elas podem ter que deixar de trabalhar, serem demitidas ou terem contrato parcial. Ao disputar uma oportunidade no mercado, podem até ficar de fora da seleção, ou serem contratadas com salários e jornadas de trabalho menores pelo simples fato de terem crianças em casa.
E, se já havia um tratamento desigual em relação às profissionais no mercado de trabalho, a pandemia da Covid-19 deve evidenciar mais essa disparidade, que estava sendo combatida e vinha reduzindo antes da chegada da doença.
Algumas empresas estão entendendo que, neste momento de pandemia, as mulheres podem gerar menos produtividade do que os homens. Esse é o pensamento em algumas corporações, embora possa não representar a realidade. Empresas que continuaram suas atividades, segundo especialistas, conseguiram perceber que a maioria dos funcionários teve a preocupação de cumprir com suas tarefas e, inclusive, de ir além das demandas.
"A discriminação no mercado de trabalho é velada, ninguém assume. Em um processo seletivo perguntam se elas têm filhos, quem costuma buscar na escola, quem leva ao médico e com quem pode deixar no caso de a criança ficar doente, coisas estas que não questionam aos homens. Às vezes, deixam de contratá-las quando são casadas e ainda querem ter filhos. Inacreditável, mas acontece. E, durante a pandemia, presenciei várias vezes esta situação, mesmo quando a candidata era muito melhor. Durante a quarentena, vi muito isso acontecer, mesmo as candidatas sendo muito melhores do que os concorrentes. A pandemia aumentou essa desigualdade, principalmente em cargos de liderança”, constata a especialista em carreira, Gisélia Freitas.
Segundo ela, a remuneração costuma ser, em média, 30% menor do que a dos homens, apesar de elas estudarem 2,7 anos a mais do que eles. A especialista aponta que a situação acontece mesmo que as mulheres apresentem, como característica, um melhor relacionamento interpessoal e maior flexibilidade do que os homens.
“Geralmente, as empresas gostam de ter mulheres em suas equipes por elas terem essas características. Entretanto, na hora que elas dizem que têm filhos, ou são recém-casadas e na idade de engravidar, as portas se fecham", afirma.
"Não fazia parte da cultura do brasileiro trabalhar em home office, e isso ficou muito claro neste momento. Alguns filhos não se adaptaram a essa rotina, não entenderam que os pais estão em casa trabalhando e requisitam a mãe o tempo todo, mesmo o pai estando em casa”, acrescenta.
Gisélia comenta que 80% das empresas podem deixar de contratar mulheres ou dar menos oportunidades a elas por conta do excesso de tarefas que elas acumulam no dia a dia. Essa situação, afirma, era observada mesmo antes da pandemia e deve permanecer por algum tempo.
De acordo com Gisélia, o retorno às atividades presenciais também vai ser mais prejudicial para as mulheres. “A situação ficará mais complicada porque elas não terão com quem deixar as crianças, o que será um grande problema. Os homens não costumam abrir mão de suas atividades. Para isso, as empresas terão que ter muito jogo de cintura. Apesar de todos os problemas, acredito que, quando acabar a pandemia, elas voltarão para as organizações muito mais maduras em relação ao seu papel”, finaliza.
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