O número de empresas comandadas por mulheres cresce em todo o Brasil e no Espírito Santo não é diferente. Até junho de 2022, eram mais de 206 mil empreendedoras, representando 33,5% do empresariado capixaba. Somente a título de comparação, de janeiro a março, elas estavam responsáveis por 198.144 negócios. Isso quer dizer que, de um trimestre para outro, a quantidade de empreendedoras saltou em 8 mil.
Em todo o Brasil, 7 milhões de empresas têm mulheres como donas. O levantamento é do Sebrae, a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD-C), do Instituto Estadual de Geografia e Estática (IBGE).
No Estado capixaba, elas se destacam no comércio. Representam 26% dos negócios desse setor, ou seja, são a cabeça de 53.604 estabelecimentos comerciais. Na agropecuária, elas são donas de 30.807 empresas, participação de 15% nesse ramo. No setor de serviços, elas conduzem 28.643 CNPJs, 46% do segmento.
Segundo informações da pesquisa, a maioria das empreendedoras capixabas é negra (56,7%). Outro ponto que chama a atenção na amostra é que mais de 93 mil empreendedoras (45% delas) são chefes família, ou seja, são responsáveis por manterem o sustento da casa.
O Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino, comemorado em 19 de novembro, chama a atenção para a importância de se reduzir a desigualdade de gênero no mercado de trabalho, estimulando a participação feminina na condução dos próprios negócios. A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU).
As irmãs, empresárias e designers Lívia e Renata Nogueira fazem parte do grupo de mulheres que decidiram apostar no sonho de trabalhar por conta própria. Há 10 anos, elas criaram a marca de acessórios femininos Lebana. Seus produtos são comercializados em três lojas físicas (em Vitória e Vila Velha) e vendas também pela internet.
Renata Nogueira
Empresária
"Um dos maiores desafios é como conciliar a tarefa de empreender e de cuidar da casa e da família. Depois que nos tornamos mães, precisamos nos organizar muito para conseguir dar conta. A gente se apoia uma na outra, temos ajuda da família e babá. Mas fico imaginando quem não tem nada disso e precisa empreender. Eu mesma gostaria de trabalhar mais. Amo o que eu faço, mas hoje tenho menos tempo e isso impacta no negócio, sem dúvida. A gente se desdobra"
Para Lívia, o trabalho em família facilita a rotina. “Ouço muito que é difícil trabalhar em família, mas para nós é diferente. É quando estamos juntas que a gente se fortalece! Foi assim no começo, quando só tínhamos uma a outra, e é assim até hoje, com a formação de nossas famílias e o avanço da empresa.”
A história da marca começou com uma pequena flor, criada a partir de restos de couro para um trabalho de faculdade. A venda dos acessórios criados por elas era feita em lojas, feiras e também onde estudavam.
“A flor de couro está até hoje presente nas coleções de nossa marca. Apesar de termos diversificados os produtos, agora trabalhamos também com prata, pedras brasileiras, miçangas, entre outros materiais. Mas o couro tem sempre seu espaço e é forte em muitos produtos da marca”, explica Lívia.
Já a diretora-executiva das Óticas Paris, Ana Luiza Azevedo, ocupa um lugar de destaque na empresa do pai Getúlio. Em 2020, foi ela que começou a implementar o e-commerce que agora está em pleno funcionamento. E, apesar de não ter criado a marca, ela assume o desafio de que em breve vai estar à frente dos negócios. Para ela, o comércio digital é muito diferente do varejo físico. O desafio para ela, é entregar a mesma experiência de compra para clientes do Brasil.
Ana Luiza Azevedo
Empresária
"O principal desafio, que é o que mais nos motiva também, é acompanhar todas as inovações e mudanças do mercado. O mundo digital não é mais o futuro e sim o presente, e temos que estar presentes nesse universo também para sair na frente. Sempre buscamos nos superar. Olhar para dentro e ver como podemos ser melhores para o nosso cliente nos nossos processos, nos produtos que oferecemos e nos diferenciais que vão agregar valor à experiência"
Ana Luíza afirma que sempre foi fascinada pelo comércio e por pessoas. Quando fez 8 anos, ela ia aos sábados para o escritório e para as lojas para trabalhar com o pai e sempre teve um exemplo muito claro de como o trabalho é importante. A diretora fez faculdade de Direito e acredita que o curso abriu muitas portas e ampliou a visão de mundo.
“Quando me formei, com 22 anos, vi que de fato o que pulsava em mim era o desejo de trabalhar com a ótica. No dia seguinte da minha formatura, já estava trabalhando na empresa e comecei como todos: conhecendo os setores, realizando tarefas básicas (como operadora de caixa, até carregar mercadoria e fazer pagamentos no banco) e fui conquistando o meu espaço”, lembra.
A diretora da Associação Brasileira de Recursos Humanos Kamilla Matos lembra que o Brasil é a sétima nação com mais mulheres empreendedoras do mundo. Ela chama a atenção para os desafios que elas enfrentam.
Kamila Matos
Diretora da ABRH-ES
"Muitas vezes, o empreendedorismo feminino surge como a única alternativa para que mulheres sigam a sua trajetória no mercado de trabalho, tendo em vista aos inúmeros desafios e desigualdades; especialmente quando essas mulheres são mães!"
Kamila acredita que entre os principais desafios das mulheres empreendedoras estão conciliar os cuidados com o negócio com a rotina de cuidar da casa e da família, além do acesso ao crédito.
“Mulheres enfrentam maior dificuldade de acesso ao crédito e tendem a pagar juros maiores. Precisamos apoiar o empreendedorismo feminino porque essas mulheres são, muitas vezes, chefes de família, responsável pela principal renda da casa. Isso sem falar que, ao apoiar e estimular o empreendedorismo feminino, estamos contribuindo para a geração de emprego, renda e para o desenvolvimento econômico e social do país”, defende.
Para superar a insegurança e medo do fracasso, a consultora de imagem Janaína Gurgel orienta que as futuras empreendedoras devem se preparar para encarar os futuros negócios.
“Para suportar a dupla jornada de trabalho o ideal é aprender a fazer gestão de tempo, deixar as tarefas muito bem organizadas, dividindo os horários que serão para a vida doméstica e para o trabalho, contando com a participação do parceiro. Essas tarefas domésticas têm de ser compartilhadas. Se posicionar como empreendedora é também refletir sobre os preconceitos que existem. As pessoas acham que as características de empreender são exclusivas dos homens. Mas não são! A mulher, quando preparada para administrar e superar desafios, sabe fazer da mesma forma que os homens”, orienta.
A economista e líder regional da XP no ES Cecília Entringer Perini observa que para ter sucesso o ponto principal e inicial é ter um planejamento financeiro de quanto poderá ser investido no negócio.
“Avaliando esse planejamento, você precisa desenhar um fluxo de caixa provisionado, que é uma previsão de faturamento que você pretende atingir nos próximos meses. O ideal é ter pelo menos 12 meses de provisão. Existem algumas ferramentas financeiras que ajudam a fazer o cálculo de viabilização do negócio”, destaca.
Dicas para mulheres que querem empreender
- Identificar uma área de habilidade/interesse;
- Conhecer o perfil do cliente;
- Investir em capacitação;
- Divulgar o negócio;
- Estabelecer boas parcerias.
Principais características das lideranças femininas
- Empatia;
- Maior desenvoltura no relacionamento interpessoal;
- Tendência à cooperação;
- Clima Organizacional Leve.
Características de sucesso para uma mulher empreendedora
- Ter disciplina para executar seu plano;
- Ter um objetivo/ meta bem definido;
- Ter sabedoria para dizer não para tarefas/compromissos que te afastem do seu propósito;
- Ter uma estratégia bem definida para atingir esse objetivo;
- Contratar pessoas que tenham os mesmos objetivos que você;
- Ter excelente relacionamento com parceiros, clientes e fornecedores - encantar - fazer mais do que a maioria faz.
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