Uma commodity apontada como o combustível do futuro. Assim pode ser classificado o hidrogênio verde, um tipo de energia limpa produzido com a reforma do etanol, gás de biomassa ou pela eletrólise da água, usando energia renovável (eólica ou solar).
O hidrogênio pode ser usado na indústria, no abastecimento de carros, caminhões, navios e aeronaves ou para outras aplicações. No setor do agronegócio, é projetado como fonte de matéria-prima para a produção de fertilizantes.
Neste cenário, o Espírito Santo desponta como um economia potente para receber esse tipo de infraestrutura. O professor Josimar Ribeiro trabalha no Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento em Eletroquímica da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
O professor explica que o hidrogênio é obtido a partir da eletrólise, processo eletroquímico que resulta na quebra da molécula da água. Ele lembra, no entanto, que a execução desse sistema gera um consumo elevado de energia. Quando a fonte da energia usada para quebrar as moléculas é renovável, como a energia eólica ou solar, o meio ambiente não sofre nenhum impacto negativo.
Josimar Ribeiro
Professor da Ufes
"A molécula de água é formada por dois átomos de hidrogênio e um átomo de oxigênio. Para ter o hidrogênio, você faz um processo de quebra dessas ligações, formando moléculas de hidrogênio e molécula de oxigênio"
COMO O HIDROGÊNIO VERDE É OBTIDO
A extração do hidrogênio verde por eletrólise a partir de fontes renováveis acontece pela separação das moléculas de água.
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01
ELETRÓLISE
A água usada para a eletrólise deve conter sais e minerais para conduzir a eletricidade.
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CORRENTE CONTÍNUA
Dois eletrodos são submersos na água e conectados a uma fonte de energia . Depois de instalados, é aplicada uma corrente contínua.
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SEPARAÇÃO DE MOLÉCULAS
A separação do hidrogênio e do oxigênio acontece quando os eletrodos atraem para si os íons de carga oposta.
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REAÇÃO DE OXIDAÇÃO
Durante a eletrólise, ocorre uma reação oxidação-redução pelo efeito da eletricidade.
ESPÍRITO SANTO É UMA DAS POTÊNCIAS DO BRASIL
Especialistas no tema destacam que a geração de energia renovável é uma das potencialidades do Brasil. Neste cenário, o Espírito Santo também desponta pela possibilidade de abrigar parques eólicos no litoral Sul do Estado ou receber investimentos ligados à construção de sistemas de produção de energia solar.
Como informou o colunista de A Gazeta Abdo Filho, até o final de agosto será divulgado o Atlas Eólico do Espírito Santo. O documento vai esmiuçar o potencial de geração de energia a partir do vento offshore (no mar) e onshore (em terra).
Tendo ciência de que o potencial é promissor, o documento foi financiado pelo governo da Alemanha e pela União Europeia. A energia gerada a partir do sol e do vento é a chave para a obtenção do hidrogênio verde, aposta para redução de gases tóxicos.
O presidente da EnP Energy, Márcio Félix, já foi secretário de Desenvolvimento do Espírito Santo. Na avaliação dele, a discussão sobre transição energética no mundo aumentou durante a pandemia da covid-19, principalmente em função da crise que a Europa enfrenta no setor. Segundo ele, o Brasil é um dos alvos dessa tecnologia.
“O Espírito Santo entra como um dos locais com propensão para ter projetos de hidrogênio verde associados aos parques eólicos no litoral. Tem várias empresas grandes e pequenas interessadas na nossa disponibilidade de energia limpa. Possivelmente, uma das aplicações vai ser desenvolver projetos de hidrogênio verde", analisa.
Márcio observa que o benefício dessa implementação é a corrida do mundo para ter economia de baixo carbono ou neutra em carbono. "Os custos ao longo do tempo tendem a diminuir quando ganhar mais escala. Vai haver uma adaptação da indústria, do setor automobilístico e da navegação para usar hidrogênio verde como fonte limpa”, aposta.
Sobre prazos de produção para uso interno e exportação, Márcio acredita que os parques eólicos devem iniciar a operação entre 8 a 10 anos. A partir disso, passarão a implementar o sistema para obtenção do hidrogênio verde.
Na opinião do consultor de Infraestrutura e Energia da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Luís Cláudio Montenegro, o gás natural disponível no Estado é o primeiro passo para transição energética. Segundo ele, a Findes tem duas frentes que trabalham o tema, sendo uma delas o Fórum Capixaba de Petróleo e Gás e a outra um conselho que trata de logística e energia.
"Essas duas frentes têm discutido muito. Além disso, a federação tem apoiado o governo do Estado na construção de um plano de descarbonização, um plano de redução de emissões dos gases. Nessas frentes todas, há um trabalho intenso da Findes", afirma.
Luís Cláudio informa que a Findes trabalha também no mapeamento dessa oferta de gás e energias renováveis com projetos de consumo, termelétricas, produção de hidrogênio, exploração de sal-gema e outras infraestruturas disponíveis para o setor.
"A produção de hidrogênio precisa de energia. Você pode usar energias renováveis para isso, porque esse hidrogênio vai ser utilizado como fonte de energia em locais que vão fazer seu uso. É assim: usa energia para produzir o hidrogênio e, depois, usa o hidrogênio como fonte de energia", explica.
ESTADO COMO CELEIRO DE PRODUÇÃO E DISTRIBUIÇÃO
Um celeiro de produção e distribuição de hidrogênio verde para abastecer o mercado interno e o mercado mundial, tendo o mercado europeu como o foco inicial. Essa é a proposta do governo do Estado, conforme avalia a Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação, Educação Profissional e Desenvolvimento Econômico (Sectides).
"Para isso, diversas políticas públicas foram implementadas de modo a atrair potenciais investidores nesse movimento transversal que envolve diversos setores da economia como, por exemplo, toda cadeia da indústria, do comércio exterior, de logística e de transporte", explicou a Sectides, por meio de nota.
O governo garante que adotou políticas públicas que caminham ao encontro de uma transição e diversificação de matriz energética de forma justa, equitativa e responsável. Neste contexto, a Sectides citou como exemplo o Programa de Geração de Energias Renováveis (Gerar) e do Programa de Incentivo ao Investimento no Estado do Espírito Santo (Invest-ES).
A secretaria informou também que promove estímulos à Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), tributários, estudos técnicos e articulações políticas e acompanha projetos de lei federal que visam a regular o setor.
O governo do Estado ressaltou que está estruturando o edital de formação e capacitação tecnológica no segmento de energias renováveis, além de atuar na construção do Atlas Eólico onshore e offshore digital, que vai auxiliar na prospecção de fontes de energias renováveis, inclusive para a produção do hidrogênio verde.
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