Mariana largou o Direito para investir no segmento de bem-estar. Bárbara apostou na moda afro para atender uma demanda dela mesma. Já Denize encontrou nos cosméticos naturais uma forma de empreender, enquanto Carolina desenha joias e tem pontos de vendas até no exterior. A trajetória dessas quatro mulheres se une à de milhares de outras que estão à frente de seus negócios, mostrando a força do empreendedorismo feminino.
Prova disso é que das mais de 676 mil empresas registradas hoje no Espírito Santo, 216.881 têm mulheres em seus quadros societários, conforme dados da Junta Comercial. Os números incluem todas as companhias cuja administração têm mulher à frente. Elas lideram em organizações dos seguintes portes: microempreendedores individuais (MEIs), 119.587; microempresa (64.844) e empresa de pequeno porte (9.651).
Segundo dados do órgão, essas empresárias apostam em maior número no comércio varejista de artigos do vestuário e acessórios, com 35.541 negócios. O segundo melhor investimento é no comércio de cosméticos, produtos de perfumaria e de higiene pessoal (20.297), enquanto que o terceiro é o de cabeleireiro, manicure e pedicure (16.406).
Um levantamento feito pelo Sebrae, baseado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), apontou que no terceiro trimestre de 2023, eram 190.157 mulheres (32,91%) empreendedoras no Espírito Santo, contra 387.567 (67,09%) homens. Esses números levaram em consideração os empreendedores de todos os portes, formalizados ou não.
Ainda de acordo com o dados da Pnad, o setor de serviços (56,58%) é mais procurado pelas mulheres que querem empreender, seguido pelos setores de Comércio (22,47%), Indústria (11,09%), Agropecuária (9,64%) e Construção (0,22%). Cerca de 90% dos empreendedores formalizados no Estado estão classificados nas categorias MEI (microempreendedor individual), ME (microempresa) e EPP (empresa de pequeno porte), segundo estimativa do DataSebrae com base em dados da Receita Federal.
Busca por realização profissional
A advogada Mariana Ferreira Pimentel sempre teve afinidade pela área de Humanas e acabou fazendo faculdade de Direito por influência do pai. Apesar de ter gostado do curso, quando começou a estagiar, percebeu que não era muito a carreira que queria seguir. Aos poucos, a jovem foi se frustrando, mas, mesmo assim, tirou o registro na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
“Conversei com meus pais de que precisava testar coisas novas, fiz cursos e trabalhei como social media. Depois de uma viagem, voltei cheia de incensos, cristais e essências e foi quando a minha mãe, Cristina Ataíde Ferreira, me sugeriu que era nessa linha de bem-estar que eu precisava investir. Voltei a fazer cursos e minha mãe se envolveu tanto que entrou como sócia na empresa”, recorda.
Em setembro de 2020, nasce a Mystica, época em que o mercado de velas aromáticas estava em alta no país. Mãe e filha faziam a produção na cozinha de casa e investiram forte em publicações nas redes sociais até conseguirem vender seus produtos para todos os Estados do país.
Mariana Ferreira Pimentel
Empresária
"Eu olho para minha caminhada e sinto que estou onde eu gostaria, me vejo realizada. Criamos a nossa identidade. Altos e baixos existem, mas estou feliz com o sucesso que estamos alcançando"
Autoestima e identidade da cabeça aos pés
Bárbara Leticia dos Santos Bastos Dalbem trabalhava em uma rede hoteleira e, depois do nascimento do filho, em 2014, deixou o emprego. Com a maternidade, também vieram a depressão pós-parto, a síndrome do pânico e o ganho de peso. A dificuldade de encontrar roupas adequadas para o seu estilo de corpo fez com que ela buscasse outras alternativas na moda, mas conseguia apenas opções que não tinham a ver com ela.
“A minha ideia era procurar peças mais estilosas, que carregassem a minha história. Comecei a viajar para o Rio de Janeiro para comprar e revender algumas marcas por aqui. Mesmo assim ainda não estava feliz e passei a estudar um pouco sobre corte para roupas plus size, cores e tecidos mais tropicais. E foi assim que, em 2018, surgiu a Barbarizy, para barbarizar a autoestima do movimento afro”, relembra.
As vendas das peças são feitas pelas redes sociais e nas feiras que Bárbara é convidada para participar, como o evento Wakanda, em Madureira, no Rio de Janeiro. Para ela, a conexão com as pessoas vale muito.
“No evento carioca, me sinto em casa, pois é uma feira preta, que faz muitas coisas voltadas para o evento black money. Amo participar de feiras, porque as pessoas ficam mais livres para conhecer as roupas e acessórios."
Bárbara Leticia dos Santos Bastos Dalbem
Empresária
"Tento organizar a minha logística para atender todas as áreas da minha vida. Há dias em que preciso dar prioridade a outras coisas e há outros em que o foco é a empresa. Entretanto, tudo vale a pena quando vejo os resultados que colho"
Sororidade e sustentabilidade que transforma vidas
A empresária Denize Nascimento encontrou no empreendedorismo uma forma de realizar seu sonhos e, ainda, ajudar o meio ambiente e outras mulheres. A bióloga de formação possui, há 7 anos, uma empresa de cosméticos naturais, que começou como um negócio on-line e, hoje, já possui uma loja física, que conta com três ambientes para venda de produtos, consultorias e atendimentos.
Denize já trabalhou em um laboratório, mas a decisão de empreender veio dos estudos e de perceber a necessidade de um mercado de produtos de qualidade e sustentáveis.
"Eu fui estudar, pesquisar sobre isso. E comecei fazendo em casa mesmo, na panelinha, testando em mim e nas amigas também. Eu faço questão de ter parcerias com cooperativas que fazem parte do extrativismo ambiental. Analiso como é essa relação do produtor com a terra. Se é uma embalagem sustentável, biodegradável, se ela não vai ter um impacto negativo para o meio ambiente também", ressalta.
Denize conta que abrir a empresa permitiu que ela pudesse se dedicar ainda mais a outros projetos e sonhos, que, devido ao trabalho, antes ficavam em segundo plano.
“Passei a ter mais tempo para me dedicar às coisas que eu gosto, me dedicar a minha família, a ser mãe também, que era um sonho”, afirma.
A empresária também prioriza a sororidade feminina, contratando apenas mulheres. E prefere comprar matéria-prima de cooperativas e de projetos liderados por elas.
Denize Nascimento
Empresária
"A mulher é mais da metade da população. Então, quando você empreende, você leva com você outras mulheres. Você está diluindo esse capital, fortalecendo e dando autonomia para elas. Existem várias mulheres hoje que são chefes de família, então, quando você faz isso, fortalece toda uma cadeia familiar e isso é muito importante"
Sucesso no ES e lá fora
A designer de joias capixaba Carolina Neves tem uma história de amor antiga com o universo das joias que começa na infância, influenciada pelo seu pai, que sempre foi encantado por pedras preciosas. A paixão cresceu durante a faculdade de Administração, onde começou a vender peças em prata, dando os primeiros passos em direção ao seu sonho empreendedor.
Aos poucos, Carolina mergulhava no universo da joalheria por meio de estudos e viagens, até sentir a necessidade de imprimir sua própria essência e identidade nas criações. A marca foi estabelecida em 2013, quando a designer abriu o próprio atelier e fez a migração da prata para o ouro. Sozinha, ela era responsável por tudo, desde a administração até a produção.
Hoje, a grife está presente em dois pontos de venda em Vitória e dois em São Paulo e conta ainda com quatro pontos de venda nos Estados Unidos. Além disso, a marca participa de um projeto exclusivo, expondo uma coleção de joias em lojas de luxo.
Carolina Neves
Designer de joias
"Sempre foi um sonho ter esse reconhecimento internacional, e nós conseguimos abrir o caminho há 7 anos. Nosso objetivo é vestir e empoderar cada vez mais mulheres por meio de nossas criações, alcançar novos lugares e espalhar essa energia única que nossa marca carrega"
Para outras mulheres que desejam empreender, Carolina aconselha que tudo seja feito com amor, verdade e autenticidade, atribuindo propósito e significado em tudo. "Em cada uma das joias que crio há uma história por trás, e acredito que esse diferencial faz toda a diferença", destaca.
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