Depois de dois anos de pandemia e isolamento social, nunca se falou tanto de habilidades humanas que favorecem a nossa conexão com outras pessoas. E no mundo do trabalho não é diferente. Flexibilidade, comunicação, trabalho em equipe, gestão de conflitos, inteligência emocional e pensamento criativo são características comportamentais tidas como essenciais no ambiente corporativo.
Quando bem trabalhadas e incentivadas dentro das empresas, essas habilidades facilitam a convivência entre os colegas, sem contar que as pessoas se sentem aceitas, inclusas e escutadas. Para facilitar o entendimento, as soft skills são aquelas características que não são colocadas no currículo, ou seja, são percebidas pelos demais ao longo da convivência.
Essas competências foram listadas pelo Fórum Econômico Mundial, que apontou quais serão as habilidades mais demandadas até 2025, considerando a nova fase do mercado, no mundo pós-pandemia, e a consolidação da tecnologia no espaço profissional.
Janaina Gurgel
Consultora de imagem e comportamento
"Pensamento crítico, criatividade, gestão de pessoas, resolução de problemas complexos e inteligência emocional indicam a capacidade de julgamento, a tomada de decisão e orientação para servir"
Uma pesquisa realizada no Brasil pelo palestrante e escritor Andrea Iorio apontou que 93% das empresas participantes dão preferência para pessoas que apresentam soft skills, mesmo que elas tenham menos conhecimento técnico. Do total de organizações ouvidas, 75% declararam que, nos próximos dois anos, a prioridade é proporcionar treinamentos nesse segmento.
Para o profissional entender se tem uma dessas características, o essencial é ter autoconhecimento, conforme ressalta a vice-presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos, seccional Espírito Santo (ABRH-ES), Fabíola Costa.
Segundo ela, existem várias ferramentas que ajudam a identificar quais as habilidades fortes ou aquelas que ainda precisam ser desenvolvidas. A avaliação pode ser feita com ajuda de um profissional, com testes, entre outros.
“A ideia é traduzir isso para a vida real e aprimorar aquilo que sua avaliação identificou como falha. Se apareceu facilidade de consumir conteúdos de internet, assista aulas on-line. Já se você gosta de ler, compre livros. Esse direcionamento é muito importante até para entender qual a melhor forma de aprender. Se a pessoa não é tecnológica, por exemplo, não adianta comprar curso pela internet”, afirma.
Ela lembra que se o seu ponto forte for a comunicação, por exemplo, é importante identificar em quais momentos essa característica mais se traduz. Já no caso de resiliência baixa, em quais momentos ocorre com mais falha. Segundo a vice-presidente da ABRH-ES, isso vai ajudar o profissional a saber onde está e para onde ele deve caminhar.
Fabíola Costa
Vice-presidente da ABRH-ES
"De fato, essas habilidades são muito solicitadas pelas empresas. Até porque os colaboradores são contratados pelas técnicas e demitidos pelo comportamento. Antigamente, as hards skills se sustentavam, mas hoje as empresas prezam pela harmonia entre os conhecimentos técnicos e as habilidades"
A consultora de imagem e comportamento Janaina Gurgel complementa que um profissional pode desenvolver técnicas de meditação como forma de aprender, entender e controlar suas emoções. Ela também destaca a importância de aprender a gerenciar o tempo.
“Quando a gente aprende sobre gerir o tempo, nos tornamos mais produtivos, menos ansiosos e convivemos melhor com as pessoas. Outro ponto importante é desenvolver a cultura de feedback. Sempre é bom receber esse retorno de um mentor, um chefe, um colega, alguém que consiga de uma forma genuína e transparente nos dar esse direcionamento. É bom lembrar que feedback não é só crítica, trata-se de uma devolutiva de como anda o nosso comportamento ao nosso redor. Muitas vezes não percebemos como algumas atitudes estão afetando a relação com as pessoas, com o trabalho e com a nossa convivência pessoal”, avalia.
Janaina salienta ainda que um outro ponto fundamental é trabalhar a autoestima. Segundo ela, uma pessoa com a autoestima elevada consegue lidar melhor com o próximo.
“É nesse ponto que entra a consultoria de imagem. Quando você se sente bem, você se vê bem; quando você se vê bem, você se sente bem e isso aumenta o seu potencial de se relacionar com as outras pessoas”, pontua.
A vice-presidente da ABRH-ES, Fabíola Costa, destaca que há pesquisas que apontam que, há alguns anos, os profissionais de RH olhavam apenas o currículo na hora de contratar e que, de uns anos para cá, as entrevistas e testes psicológicos passaram a ter relevâncias tão essenciais quanto as listadas no documento enviado pelo candidato.
“Há iniciativas em algumas organizações em que as soft skills têm mais importância que a formação, pois os processos estão cada vez mais automatizados por conta da tecnologia. Isso porque está mais fácil de absorver processos”, destaca.
A psicóloga e membro do Comitê de Conteúdo Qualificado de Carreira, RH, Governança, Riscos & Compliance do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef-ES), Gisélia Freitas, ressalta que, durante a pandemia, essas habilidades comportamentais se sobressaíram.
Gisélia Freitas
Especialista em carreira
"O mundo mudou, as pessoas mudaram e o mercado também mudou após a pandemia. Com o isolamento social, foram descobertas outras demandas e necessidades. Durante o isolamento, a gestão de conflitos, por exemplo, ficou ainda mais em destaque. A necessidade de estar à frente de tomar iniciativa e de saber negociar é uma característica muito importante"
Na avaliação da especialista, ter profissionais que conseguem equilibrar suas emoções, desenvolver bem sua inteligência emocional, ajuda muito o clima e o ambiente de trabalho.
Janaína Gurgel lembra que não adianta descrever as soft skills no currículo, elas precisam realmente ser reconhecidas na convivência, no comportamento diário diante das soluções de problemas e de conflitos.
Confira as soft skills
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01
Gestão de conflitos
Com a pandemia, essa habilidade de gerenciar conflitos ficou ainda mais em destaque. A necessidade de estar à frente de tomar iniciativa e de saber negociar é uma característica muito importante. Para desenvolver essa competência, é necessário ter proatividade e disposição para encarar novos desafios. Os profissionais podem procurar formações nas áreas de negociação e de comunicação, por exemplo.
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02
Inteligência emocional
Diante do isolamento social imposto pela pandemia e de tantos problemas relacionados à doença, que impactaram diretamente as empresas, ter profissionais que consigam equilibrar suas emoções e desenvolver bem sua inteligência emocional ajuda muito o clima e o ambiente de trabalho.
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03
Habilidades tecnológicas
Já eram muito exigidas antes da pandemia, apesar do grande déficit que existe no Brasil e que só aumentou. A Covid-19 foi disruptiva ao acelerar a digitalização entre pessoas e empresas. A necessidade hoje de pessoas tecnológicas cresceu muito. “Tem pessoas fazendo cursinhos de informática e a gente já está falando de metaverso. Precisa estar um passo à frente e se conectar com essas novas ferramentas tecnológicas relacionadas ao trabalho”, afirma Gisélia Freitas.
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04
Inovação
Hoje tudo tem que se transformar e inovar. O único diferencial competitivo que sobrou para as organizações é a inovação. E a inovação vem de pessoas, não de máquinas. Para desenvolver a característica inovadora, o ambiente de trabalho tem que proporcionar isso. A empresa tem que deixar um ambiente propício para novas ideias, para novos processos, para que o processo inovador possa acontecer também na organização e a pessoa não ter medo. Novas ideias sempre são bem-vindas. Olhar de uma forma diferente para as tarefas de rotina.
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05
Liderança
Desenvolver bons líderes hoje é o diferencial competitivo para as empresas. O desenvolvimento pode ser feito por cursos e por processo de autoavaliação, por exemplo. As empresas precisam investir nas suas lideranças para que elas consigam atingir uma alta performance, desenvolver equipes, ganhar mais alcance em metas, produtividade, entre outros pontos. A liderança é uma das competências mais demandadas no mercado atual.
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06
Comunicação
É a habilidade de dialogar com colegas de trabalho para evitar conflitos, resolver divergências e eliminar ruídos que prejudicam a realização de tarefas. Conseguir desenvolver argumentos de forma assertiva e didática no formato adequado, entendendo para quem se está falando.
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07
Flexibilidade e resiliência
São aquelas características relacionadas à capacidade de se adaptar e continuar produzindo diante de mudanças de cenários, mesmo após experiências difíceis e que trouxeram prejuízos, mas também lições.
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08
Trabalho em equipe
A habilidade de cooperar com os colegas em grupos compostos por pessoas diversas, dando a sua contribuição individual para interesse coletivo, é considerada essencial para muitos especialistas.
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09
Proatividade
É a capacidade de arregaçar as mangas, avaliar cenários e encontrar caminhos para resolver questões que impedem os resultados ou atrapalham a produtividade.
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10
Empatia
É a habilidade de se colocar no lugar do outro, de se conectar com pessoas de diferentes diversidades e entender a sua abordagem sobre diversos temas e modos de trabalho. Além disso, é preciso ter empatia para entender que as pessoas pensam diferente, têm histórias de vida e tomam decisões diferentes.
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