Jornada de trabalho com quatro dias já é realidade em algumas empresas
Jornada de trabalho com quatro dias já é realidade em algumas empresas. Crédito: Freepik

Trabalhar 4 dias na semana: mais descanso ou sobrecarga de trabalho?

Valorização da saúde mental e o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal estão entre as razões para as empresas adotarem o modelo de jornada

Tempo de leitura: 3min
Vitória
Publicado em 29/01/2023 às 14h09

O mundo do trabalho passa por constantes transformações e, depois da pandemia, as mudanças ocorrem em uma velocidade ainda maior. Tudo isso para se adaptar à nova realidade dentro do ambiente corporativo, que é a valorização da saúde mental e o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.

Para atender a demanda após o período pandêmico, uma nova modalidade começa a ser adotada no Brasil, a exemplo do que ocorre no exterior: a semana de quatro dias de trabalho. Mas quais seriam as vantagens e desvantagens desse modelo?

A psicóloga e diretora da Psico Store, Martha Zouain, explica que todas essas mudanças têm como objetivo suprir necessidades tanto das organizações quanto dos profissionais, que, após tantas perdas próximas, começaram a ficar mais reflexivas sobre a qualidade de sua vida em todos os aspectos.

Martha Zouain

Psicóloga

"Os diferentes movimentos de mudança buscam encontrar alternativas para viabilizar produtividade de qualidade e felicidade das pessoas, já que,  comprovadamente, um depende do outro."

Entretanto, ela pondera que, como todo processo de mudança, algumas situações preocupam. Segundo Martha, a primeira delas é se a demanda de trabalho será bem realizada em quatro dias ou sobrecarregará as equipes, aumentando o nível de estresse das mesmas.

Outra preocupação seria em como os colaboradores utilizariam esse tempo. Se o propósito é melhorar a saúde, relações familiares e interações sociais, as ações precisam direcionar a esse propósito, como destaca a psicóloga.

“O meio para viabilizar uma vida no trabalho mais equilibrada e produtiva se resolve com a mudança do tempo dentro da organização. Trabalhar cinco dias com clima organizacional ruim, ambiente desrespeitoso, estará apenas se transformando em quatro dias tão ruins quanto. Todos esses movimentos e reflexões são válidos, mas é preciso um olhar crítico para a necessidade de cada organização”, pondera.

A líder do Comitê Ibef-ES de Empreendedorismo e Gestão, Juliana Silveira, aponta entre as vantagens a dedicação dos profissionais em desenvolver sua produtividade para cumprir as demandas com menor tempo. Outro benefício para o colaborador seria ter mais tempo de pausa para focar em sua vida pessoal, família e saúde com o tempo livre, bem como, maior facilidade para solucionar as questões burocráticas da vida no horário comercial em que estaria no trabalho.

Juliana Silveira

Líder do Comitê Ibef-ES de Empreendedorismo e Gestão

"Uma maior flexibilidade para a jornada de trabalho pode contribuir para o aumento da retenção de talentos"

Entretanto, apesar de as evidências mostrarem aumento de produtividade e do engajamento do time, os estudos ainda são escassos e restritos, como observa a administradora, diretora do Ibef e Fundadora e CEO do Acelera Mulher, Ana Paula França.

1926

Foi o ano em que a Ford instituiu o descanso aos fins de semana

 “Será que chegamos a um novo ponto de inflexão e à jornada de quatro dias? Tenho minhas dúvidas. Todavia, se a redução de jornada impacta na experiência interna, como se tem observado, o desempenho e a lucratividade das empresas tendem a aumentar”, complementa.

Uma pesquisa realizada pela Accentury identificou que empresas com grande experiência interna superam em até 122% o desempenho das 500 maiores da Standard & Poors e que o engajamento dos funcionários as torna também 21% mais rentáveis quando comparadas a empresas com baixo engajamento.

Ana Paula lembra que essa prática não é aplicável a todos os ramos de negócio, como é o caso dos hospitais Além disso, dentro de uma mesma empresa, temos funções e pessoas que exigem diferentes recursos, também inviabilizando muitas vezes a redução da jornada.

Ana Paula França

Diretora do Ibef e Fundadora e CEO do Acelera Mulher

"E o que falar dos já sobrecarregados? Uma mudança desse tipo só aumentaria a sobrecarga e a chance de doenças como o burnout. Portanto, sua aplicação, a meu ver, ainda seria algo bastante complexo de se administrar, dadas as exceções, o que possivelmente tem desencorajado as empresas a adotarem esse sistema amplamente."

Juliana Silveira, do Ibef, lembra que, no Brasil, a adesão ainda é tímida, mas existem empresas que estão experimentando o modelo e recebido bons feedbacks de seus colaboradores com a experiência, como observa 

“Os gestores da empresa podem definir cargos e funções que estão aptos a desenvolver suas atividades com um dia a menos de trabalho na semana sem comprometer o pleno funcionamento do negócio e seu crescimento. Portanto, cabe a cada modelo de negócio e gestão definir como aplicar a jornada de trabalho diferenciada”, finaliza Juliana.

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