Uma operação no mercado financeiro causou um prejuízo de R$ 165 milhões à Unimed Vitória. As perdas foram causadas por um fundo da gestora Infinity Asset, que teve problemas expostos desde dezembro do ano passado. A informação é do jornal Valor Econômico.
Cerca de 30 Unimeds estão entre os mais de seis mil cotistas da Infinity Asset. A situação mais grave, cita o Valor, é da Unimed Vitória. Outra cooperativa Unimed atingida é a Piraqueaçu, que também atende municípios do Espírito Santo, como Aracruz, Santa Teresa e Santa Maria de Jetibá. Em dezembro de 2022, o valor aplicado era R$ 2 milhões.
Segundo a Unimed Vitória, a perda era 10% das reservas obrigatórias exigidas pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) às operadoras para garantir o pagamento de despesas em caso de falência. Balanço patrimonial mostra que a organização fechou o ano de 2022 com cerca de R$ 300 milhões investidos.
A queda das provisões poderia colocar a cooperativa, que hoje conta com 400 mil usuários, em direção fiscal da ANS por não cumprimento das regras. O procedimento é instaurado em operadoras com anormalidades administrativas e econômico-financeiras que podem colocar em risco a qualidade e a continuidade do atendimento à saúde dos beneficiários.
O fundo contratado pela Unimed se chamava Select e era comercializado pela Infinity como um investimento conservador, de baixo risco. No entanto, segundo o Valor, era irregular por ter lastro da própria gestora. A carteira contava com operações em derivativos — contratos financeiros que têm um valor derivado de outros ativos, como ações, moedas, produtos de exportação e taxa de juros.
O Select tinha rendimentos bem acima do CDI e de aplicações do mesmo perfil. A alta rentabilidade, que certamente ajudou a atrair investidores, também gerou desconfianças.
Em 2020, a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) tentou descredenciar a Infinity, após uma investigação interna apontar que a gestora havia descumprido uma série de regras de autorregulação. O desligamento, no entanto, só ocorreu dois anos depois, em dezembro de 2022, amparada em uma decisão da Justiça.
Segundo a Anbima, a corretora vinha reiteradamente cometendo irregularidades. A Infinity, à época, negou as acusações.
Derivativos: São contratos financeiros que têm um valor derivado de outros ativos, como ações, moedas, produtos de exportação e taxa de juros.
Fundo: O fundo de investimento é uma aplicação financeira, que pode ser de baixo, médio ou alto risco. Os fundos são administrados por empresas gestoras que aplicam os recursos em diferentes ativos, como por exemplo ações, moedas estrangeiras ou derivativos.
Cotistas: São os investidores que aplicaram dinheiro em um fundo ou outro aplicação financeira.
Fundo garantidor junto à ANS: A Agência Nacional de Saúde Suplementar exige que operadoras de saúde privadas tenham recursos guardados para garantir o pagamento de despesas em caso de falência.
Ainda não é possível prever com certeza se os cotistas vão conseguir recuperar os recursos aplicados. Uma assembleia está marcada para o próximo dia 7 para avaliar o cenário. Uma das propostas da RJI Corretora, administradora dos fundos da Infinity/Vanquish, é pagar os cotistas, que deveriam ter recebido no último dia 17, somente em fevereiro do próximo ano, de acordo com fontes do mercado ouvidas pelo Valor.
Procurada por A Gazeta, a Unimed Vitória informou que medidas de contenção de gastos adotadas desde março e parte de seu patrimônio vão ajudar a garantir lastro financeiro para suprir o prejuízo milionário e evitar intervenções. Com isto, a cooperativa garantiu que seus 400 mil usuários não serão prejudicados, assim como cooperados, colaboradores e prestadores.
“Estamos realocando valores de outros investimentos para repor esse percentual, caso haja necessidade de cobertura do lastro. Estamos preparados para lidar com esse desafio, lembrando que ainda iremos receber o plano de recuperação da Infinity nas assembleias a serem realizadas no início de junho, quando apresentarão o planejamento de ressarcimento dos cotistas”, explica o diretor-presidente da Unimed Vitória, Fabiano Pimentel Pereira.
A matéria foi atualizada para incluir o posicionamento da Unimed Vitória.
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