43,6% das mortes de acidentes de trânsito ocorrem após entrada no hospital

De 2008 a 2018 , foram 4.800 mortes registradas

Publicado em 17/08/2019 às 16h43
Atualizado em 24/08/2019 às 21h34

No Estado, 43,6% das mortes de acidente de trânsito acontecem após as vítimas darem entrada nos hospitais do Estado. De 2008 a 2018 , foram 4.800 mortes registradas. Os números de 2019 ainda não foram separados por mortes no local e no hospital, segundo o Movimento Capixaba para Salvar Vidas no Trânsito (Movitran), responsável pela organização dos dados.

Para o presidente da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego no Espírito Santo (Abramet), Sandro Rotunno, os acidentes de trânsito se tornaram um problema de saúde pública. Ele explica que o número de mortes e pessoas com sequelas é alto e tem deixado os hospitais de referência em trauma no Estado, como o Hospital Doutor Jayme Santos Neves e Hospital Estadual de Urgência e Emergência (HEUE), cheios.

Para ele, é importante ter hospitais de referência em todo o Estado para que pacientes do interior não precisem de transferência em casos complexos. No entanto, ele diz que o foco não está na criação desses hospitais, mas em reduzir os acidentes de trânsito.

“Se não houvesse tantos acidentes, esses leitos poderiam ser liberados para outras patologias. O custo de uma pessoa acidentada é gigante, vai desde o atendimento pré-hospitalar, hospitalar, recuperação, aposentadoria por invalidez, além do custo da pessoa por deixar de colaborar com a sociedade. É uma cadeia muito maior do que se pensa”, comenta.

O levantamento também mostra que, somente em 2017, foram R$ 2,8 bilhões gastos devido a acidentes no trânsito. O que inclui hospitais transporte, seguros e até a perda da atividade.

Atendimento

O gerente de Vigilância e Saúde da Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo (Sesa), Luiz Carlos Reblin, explica que a rede hospitalar do Sus no Espírito Santo hoje é ocupada principalmente por dois públicos: os de doenças crônicas e vítimas de acidentes de trânsito. No Estado, há 11 hospitais para onde os pacientes graves são levados.

“A maioria dos pacientes tem o problema resolvido regionalmente, em alguns casos precisam vir para a Grande Vitória. Os procedimentos têm melhorado ao longo dos anos, isso é perceptível pela diminuição no tempo médio de permanência dessas pessoas no hospital. Em 2008, a média era de 8,7 dias. Em 2016, passou para 5,5 dia”.

Ele acrescenta que a Sesa faz parte do Projeto “Vida no Trânsito”, voltada para a vigilância e prevenção de lesões e mortes no trânsito e promoção da saúde. São identificadas as principais causas desses acidentes para trabalhar num plano de ação para a prevenção e redução dessas ocorrências.

Vidas

Por trás de todos os números, diversas histórias foram perdidas, como a da família da professora Raquel Hang, 40 anos. Ela esperava pelo irmão Luiz Felipe Vasconcelos, 36, a cunhada Franciene Vasconcelos, 31, e a sobrinha Laís Vasconcelos, 2, em Petrópolis, no Rio de Janeiro, para tirar a primeira foto da família todo reunida. Era um desejo antigo de todos que moravam em estados diferentes.

Mas o dia 14 de julho de 2017, o escolhido para o registro, foi marcado por uma tragédia. Os três morreram no acidente de trânsito a caminho de Petrópolis. A cunhada e a sobrinha morreram abraçadas no local, já seu irmão foi levado com vida para o hospital, mas morreu horas depois. “Eu fui antes porque estava de férias. Lá compramos um porta retrato porque seria a primeira foto de todos juntos”, conta.

Na tentativa de reconstruir a foto, Raquel, a filha Beatriz, a irmã Gabriela, sua mãe Aldaléa e o padrasto Gabriel seguraram um porta retrato com a foto de Luíz Felipe, Franciene e Laís. A foto escolhida foi deles sorrindo, do jeito que a família gosta de lembrar dos três.

UNIÃO PARA REDUZIR NÚMERO DE MORTES

O Movimento Capixaba para Salvar Vidas no Trânsito (Movitran) foi criado no início deste ano com o propósito de integrar órgãos públicos, empresas privadas e sociedade civil para refletir e discutir melhorias no trânsito capixaba e reduzir o número de mortes. O Ministério Público do Trabalho, Departamento Estadual de Trânsito (Detran/ES) Polícia Rodoviária Federal e Fetransportes integram o grupo.

O objetivo é reduzir o número de mortes por acidentes para cumprir duas metas. Uma delas é a da Organização das Nações Unidas (ONU), que termina em 2020. Nela, o Estado precisaria ter no máximo 16,34 óbitos a cada 100 mil habitantes, isso corresponde a 579 mortes. Já o Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito (Pnatrans) determina que o Estado termine o ano de 2028 com no máximo 10,12 óbitos a cada 100 mil habitantes, o que equivale a registrar no máximo 442 óbitos.

Segundo o especialista em trânsito do Movitran, André Cerqueira, são estudadas e pensadas estratégias em sete pilares: gestão, saúde, educação, esforço legal, segurança veicular, segurança viária e resposta no atendimento de emergência.

“Acreditamos que com a união dos diversos órgãos poderemos ser mais produtivos, aplicar melhores ideias e fortalecer o elo entre as lideranças. Inclusive já existem boas ideias que foram desdobradas. O Detran integrou diversos órgãos públicos e já estão ocorrendo fiscalizações semanais em pontos estratégicos, o que em curto prazo irá produzir resultado”, disse.

Segundo o diretor-geral do Detran, Givaldo Vieira, as ações concentras já estão sendo feitas. Elas são voltadas para a educação do trânsito e fortalecimento das ações de fiscalização. Entre elas está o programa “Força pela Vida”, criado em junho deste ano.

A iniciativa tem o papel de reforçar a fiscalização de forma contínua e integrada. Para isso, 20 instituições públicas ligadas ao trânsito participam de ações de fiscalização. Elas são planejadas por um comitê integrado. “Aumentamos a fiscalização no Estado porque avaliamos que apenas a conscientização não é suficiente para mudar o comportamento do condutor no trânsito”, afirmou.

A comandante da 2° companhia do Batalhão de Trânsito, capitão Sônia Ribeiro Pinheiro, disse que o órgão participa do programa. Através do setor de planejamento, o Batalhão de Trânsito aumentou a fiscalização no trânsito da Grande Vitória.

Mas ela reforça que a segurança no trânsito depende da educação, qualidade da via e fiscalização. “A Polícia Militar faz sua parte ao fiscalizar, mas o cidadão precisa fazer a sua parte e não ser imprudente. O direito à vida tem que estar acima do direito de circulação”, disse.

Inspetor do núcleo de comunicação social da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Alexander Valdo Lemos diz que apesar dos números terem reduzidos nas rodovias federais, eles continuam altos. Alguns fatores foram responsáveis, como a crise econômica que reduziu a movimentação da via, radares móveis e fixos e aumento no valor das multas.

Alexander esclarece que a PRF também tem feito fiscalizações. “Nós fazemos a nossa parte. Quando o Estado observar que há mais respeito, poderá até ser menos rígido”,disse.

ESTRADAS

O diretor-geral do Departamento de Estradas de Rodagem do Estado do Espírito Santo (DER-ES), Luiz Cesar Maretto Coura, diz que há 260 faixas de fiscalização nas vias estaduais, além da manutenção constante. “As rodovias são velhas, mas hoje elas não possuem buracos. Foi apresentado na Assembleia Legislativa o projeto para a criação do fundo estadual de infraestrutura, que possibilitará ao Estado receber mais de R$ 1,5 bilhão em retroativos para melhoria de vias”.

O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) foi procurado, mas não respodeu até o fechamento da edição.

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