Um primeiro mês de resultados positivos é a avaliação do Secretário de Estado da Saúde do Espírito Santo, Nésio Fernandes, sobre o avanço do coronavírus no Estado. No dia 5 de março o Espírito Santo registrou o primeiro caso confirmado de Covid-19. De lá para cá já são 166 testes positivos e seis pessoas morreram (dados até o dia 04 de abril).
De acordo com o secretário, o Estado está preparando sua rede de saúde para conseguir atender toda a população que ficar doente. Mas, para isso, será preciso que a população contribua com o isolamento social, o que vai achatar a curva de crescimento dos casos e fazer com que menos pessoas adoeçam simultaneamente. Apenas dessa forma, o sistema de saúde não entrará em colapso imediato.
Nésio Fernandes
secretário de Estado da Saúde
"Queremos ter taxas inferiores as nacionais. Ao final do processo queremos identificar que as medidas que tomamos foram eficientes e garantiram um desempenho melhor que o nacional"
Como avalia o que vem sendo feito no Estado para conter o avanço do coronavírus?
Nossa avaliação é positiva. Avaliamos que acertamos nas projeções do comportamento da epidemia, de como seriam as semanas epidemiológicas e do que iria acontecer no Estado.
O que foi feito no Estado para conter o avanço do coronavírus?
As medidas que conseguimos tomar de reorganização da rede, dos contratos, dos municípios e da preparação de leitos foi dentro do que previmos e foi adequado. Também tivemos melhoria na capacidade de resposta do nosso laboratório central e hoje estamos com demanda zero de testagem, com resultados saindo em menos de 24 horas. Além disso, conseguimos incorporar as localizações por georreferenciamento de cada paciente em uma plataforma única, com isso, conseguimos mapear os casos. Conseguimos organizar debates com órgãos e atores públicos sobre a situação da doença no Estado e medidas que devem ser adotadas.
Quando deve ocorrer o pico da doença no Estado?
Nas nossas projeções, abril e maio seriam os meses mais criticos da doença no Estado, com o maior crescimento de casos. Entendemos que com essas medidas instaladas pelo governador, em uma etapa de transmissão local, elas venham a garantir que tenhamos um lapso de tempo para preparar os leitos para os pacientes críticos.
A Covid-19 tem de 10% e 15% de casos que vão precisar de internação hospitalar. Se a gente chegar ao colapso da rede de saúde, como aconteceu na Itália, em que tiveram que escolher os pacientes que morreriam ou não, também teremos um colapso social e econômico.
Na condução geral tivemos nesses 30 dias, na figura do governador, Renato Casagrande, uma grande liderança tomando posição e fazendo a mediação de discussões nas ações de enfrentamento a Covid-19. Dada a crise de comando do governo federal, acaba sendo crida uma responsabilidade maior ainda para governadores, prefeitos e para o Ministério da Saúde.
O isolamento social que o governo pede tem surtido efeito? Por quê?
O contágio do coronavírus é por contato direto. Ele precisa ter um veículo para ser transmitido. Então, tudo aquilo que faz com que a mobilidade urbana e o trânsito da pessoa reduza contribui para evitar o contato direto das pessoas com os vírus.
Como estamos diante de uma doença com um vírus com alta infectividade, isso exige que as medidas de isolamento social e proteção sejam mais rígidas. O vírus começou em dezembro na China e já se expandiu pelo planeta. Ele tem um comportamento que reproduz o que já conhecemos de outros vírus, porém, tem variantes que nos exigem medidas permanentes de cuidados e que sejamos mais prudente com seus efeitos. Não podemos pagar para ver o que vai acontecer.
Porque mesmo com as medidas de isolamento a curva de casos está aumentando?
Não é possível afirmar com certeza que o isolamento por si só vai interferir na curva. Ainda existem outros determinantes. Por exemplo, se houve redução de temperatura ou incidência de frio no lugar, ou ainda se um grupo de pessoas está desrespeitando as medidas de isolamento, ou se um grupo de risco não está tomando medidas de precaução. Esses fatores podem ter efeito no número de casos.
Quanto tempo demora para o resultado do isolamento ser percebido?
As medidas têm um resultado que pode ser perceptível principalmente no período de 3 a 4 semanas. Temos a expectativa de um crescimento que não vai se tornar exponencial a cada três dias. Ele poderá ser controlado e medido e vai permitir que o paciente tenha acesso ao serviço de saúde.
Essas medidas de isolamento vão distribuir por um período maior o número de caso na curva de crescimento. O total de infectados pode ter uma proporção equivalente de casos, mas estará distribuindo em mais tempo. Com isso, conseguiremos que o sistema de saúde não entre em colapso tendo todas as pessoas infectadas de uma única vez.
Como estão os números do Espírito Santo diante dos dados de outros Estados?
O Estado está entre os dez com os melhores indicadores. Entre o número de casos por 100 mil habitantes e letalidades, temos um comportamento dentro do controle e não estamos entre os Estados onde o Ministério da Saúde entende que vai ter um crescimento descontrolado de casos do coronavírus. Temos preparado nossa rede de saúde para conseguir alcançar as nossas metas de atendimento. Queremos ter taxas inferiores as nacionais. Ao final do processo queremos identificar que as medidas que tomamos foram eficientes e garantiram um desempenho melhor que o nacional.
Ainda vemos casos de pessoas que desrespeitam os pedidos das autoridades de saúdes. O que a população precisa fazer nesse momento?
As pessoas não vão ao médico porque estão doentes. Elas vão por conta das convicções que possuem e da percepção que tem dos sintomas de uma causa da doença. Como em 80% a 90% dos casos as pessoas infectadas apresentam sintomas leves, a pessoa pode pensar que não necessita ir ao médico.
Além disso, tivemos a fala grave do presidente da república contra o isolamento social e uma pesquisa mostrou que 60% das pessoas idosas acreditam no presidente e acham que o coronavírus é uma “gripezinha”. Com isso, o grupo de risco acaba ficando ainda mais em risco. Se as pessoas não mudarem sua forma de se relacionar e mudarem de comportamento, as medidas feitas pelo governo acabam não tendo efeito.
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