Desde que o novo coronavírus atingiu o mundo, mostrando seu alto poder de disseminação uma pessoa pode contaminar até outras três, segundo especialistas organizações de saúde, médicos e governantes têm debatido sobre práticas de isolamento para conter o avanço da pandemia.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) e grande parte da classe médica defende a prática do isolamento horizontal, que visa reduzir ao máximo a circulação de pessoas.
Alguns grupos de cientistas, porém, têm defendido o método de isolamento vertical, em que apenas pessoas que fazem parte do grupo de risco da doença devem ser isoladas. Esta medida ganhou dois simpatizantes na última semana, o presidente Jair Bolsonaro e Donald Trump, nos Estados Unidos.
Mas quais as diferenças entre estes dois tipos de isolamento e o impacto na sociedade durante uma pandemia?
Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Infectologistas no Espírito Santo, Alexandre Rodrigues, o isolamento horizontal restringe a circulação do maior número de pessoas, fechando comércios e escolas, por exemplo. O objetivo é manter a população dentro de casa para reduzir o contato e transmissão do vírus.
A medida, porém, é criticada pelo seu impacto econômico, já que com o isolamento de pessoas, elas não podem sair para trabalhar e grande parte das atividades são paralisadas.
Já o isolamento vertical, que chegou a ser adotado inicialmente no Reino Unido, defende a separação apenas de pessoas que têm mais risco de evoluírem para casos graves ou óbitos. É o caso de idosos ou pessoas com doenças pré-existentes, além daqueles que já foram infectados pelo vírus.
Este método de isolamento, segundo Rodrigues, tem um impacto econômico menor, já que mantém atividades funcionando. Contudo, pode ter um efeito desastroso nos hospitais. No Reino Unido, ao perceber um aumento do número de pessoas infectadas e possível colapso do sistema de saúde, o governo optou pelo fechamento de escolas e suspensão de outras atividades.
Apesar de ser praticado em situações e países específicos, como a Coréia do Sul, Rodrigues defende o isolamento vertical apenas onde é possível ter agilidade no diagnóstico da doença para isolar e monitorar pacientes infectados. Segundo ele, estes fatores são essenciais para controlar a disseminação do vírus.
A Coreia do Sul é um dos grandes exemplos bem sucedidos do isolamento vertical. Lá, eles conseguiram testar de forma muito rápida e eficiente quem era positivo para o vírus. Com isso, eles isolaram aqueles núcleos específicos e fizeram o monitoramento dele. Como essas pessoas eram monitoradas e isoladas, a disseminação do vírus foi controlada, lembra.
A medida adotada na Coréia do Sul, contudo, não seria bem sucedida no Brasil, segundo Rodrigues. Para ele, em países como o nosso, onde não se obtém um diagnóstico rápido e há uma grande diversidade populacional, adotar o isolamento horizontal é a forma mais eficaz para interromper a cadeia de transmissão do vírus.
De acordo com o infectologista, nem todas as pandemias levam a um isolamento total da população. As medidas são tomadas de acordo com a velocidade da propagação da doença e o risco para a população.
Em um momento de pandemia como a do coronavírus, onde não há informações suficientes dos efeitos da doença, ele pontua que é preciso ter cuidado ao flexibilizar medidas de isolamento.
O vírus já avançou pelo mundo e pelo Brasil. Praticar isolamento vertical agora pode trazer um colapso para o sistema de saúde. A gente poderia presenciar um aumento do número de pessoas infectadas. Com mais gente doente, mais gente transmitindo o vírus para pessoas do grupo de risco, e consequentemente mais óbitos. Além do aumento de pessoas que, mesmo não morrendo, poderiam ter quadro grave da doença, finalizou.
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